108 – Graciosa – Museu da Graciosa & seu Moinho

Uma breve apresentação do Museu da Graciosa. Conforme indica a placa, foi criado em 1977 e inclui outros polos, nomeadamente um Moinho de Vento, que fica a 2,5 km daqui, e um Barracão de Canoas Baleeiras, aqui em Santa Cruz. Irei visitar ambos de seguida. Também existe um Barracão dos Botes Baleeiros na Praia (onde eu estou alojada!), uma Tenda de Ferreiro situada no Barreiro, e uma Casa das Debulhadoras, no Caminho do Meio, sendo que estes não são visitáveis, de acordo com o que vejo no Portal da Cultura dos Açores.

Este cartaz pertence a uma exposição temporária. Neste caso é publicidade a uma padaria, com donos portugueses, nos EUA. As imagens destes cartazes, apesar de estarem no estrangeiro, são alusivas a temáticas açorianas.
Fotografei apenas um cartaz. Os leitores terão que visitar a exposição, neste museu ou noutro! Havia uma série deles, com muitas imagens diferentes.

Este museu é muito grande, tem várias salas, e eu não estou a mostrar nem metade. Conforme já disse noutros museus, vocês têm que fazer alguma coisa 🙂 Têm que apanhar um avião e passar férias na ilha Graciosa. Nessa altura terão oportunidade de visitar o museu na totalidade.
Este cartaz refere as Festas do Espírito Santo, que eu abordei com maior profundidade na crónica 89. As festas em honra do Divino aqui na ilha Graciosa, no essencial cumprem os rituais das restantes ilhas, indica este cartaz.

Outro cartaz refere ainda as restantes festas tradicionais na ilha Graciosa, nomeadamente a procissão de Penitência de Nossa Senhora de Guadalupe, que se realiza no dia 24 de maio de cada ano, de forma ininterrupta, desde 1717!, ano em que a ilha foi abalada por grandes terramotos. O povo, crente, prometeu, se terminassem os sismos, fazer esta caminhada penitencial todos os anos saindo da Igreja de Nossa Senhora de Guadalupe com a sua imagem, seguir rezando e cantando, subir ao Monte da Senhora da Ajuda e aí celebrar a missa e regressar à igreja donde partiram.¹

Vou agora visitar o Moinho de Vento pertencente ao Museu da Graciosa, o qual fica a 2,5 km deste. Ainda se colocou a hipótese de eu ir a pedalar, mas disseram-me que era a subir até lá. E ofereceram-me boleia, que eu aceitei de bom grado. A bicicleta ficou encostada à parede do museu, na entrada. Sem cadeado nem nada. Esqueci-me do cadeado, hoje quando cheguei do aeroporto. Ficou na mala. Quem quiser pode ir dar uma voltinha na bicicleta.

Quem está a conduzir o carro, virei a saber, é o Dr. Jorge, diretor do Museu. Estavam a tentar contactar com alguém que abrisse o moinho, mas não conseguiram. E o Dr. Jorge não foi de meias medidas, vai ele próprio abrir o moinho, e aproveita leva-me também.
E antes de levar-me ao moinho, ainda passamos pelo Barracão das Canoas, em Santa Cruz (fica na rua atrás do museu) onde dois turistas brasileiros tinham marcado visita. Maravilha, eles marcaram e eu aproveito.

Este Barracão das Canoas trata da baleação na ilha Graciosa. Em 1982 caçou-se aqui a última baleia. Existiam duas companhias de caça à baleia apenas, na ilha Graciosa. Caçavam cerca de 30 baleias por ano, as quais eram rebocadas para a ilha do Pico, onde existia a indústria baleeira. Aqui na ilha Graciosa não se esquartejava a baleia, foi algo feito muito raramente. Recordo que mostrei a Fábrica da Indústria Baleeira, na ilha do Pico, na crónica 79.

O banco cor-de rosa tem buracos no assento para dar alívio ao traseiro!! Porque este é um banco da Vigia da Baleia. Mostrei dois postos da Vigia da Baleia nas crónicas 91 (ilha de São Jorge) e 102 (ilha Terceira). Alguém passava muitas horas sentado, perscrutando o mar, em busca de baleias. Assim que avistava uma, dava sinal à população ou através de foguetes, ou mais recentemente através de aparelhos de rádio, como os que se vêem ali. Os caçadores de baleias largavam tudo o que estavam a fazer e corriam para o porto, onde imediatamente embarcavam na canoa que se vê nas fotos anteriores, ou noutra idêntica.

Prosseguimos agora para o Moinho de Vento, e os dois turistas vêm connosco também, no carro. Quando descobriram que eu ia ao moinho, quiseram vir também. Eu aproveitei a boleia para o Barracão das Canoas, eles aproveitaram a boleia para o Moinho de Vento. O Dr. Jorge caçou três pássaros duma vez, para o seu museu. O seu nome completo é Jorge António de Medeiros Borges e Cunha, e não nasceu na Graciosa mas vive aqui há muitos anos, disse-nos. Trabalha há 20 anos neste museu, como diretor. Antes trabalhou 19 anos no Ministério da Justiça. Tem tudo a ver! – disse-lhe eu. O Dr. Jorge riu-se. Nasceu na ilha do Faial porque a mãe queria um parto assistido. Aqui na Graciosa hoje as parturientes já saem 2 a 3 semanas antes e ficam alojadas na ilha Terceira para ter um parto assistido. Mas naquela altura não. Aqui na ilha Graciosa há unidades de saúde, mas apenas com médicos de família. Especialistas vêm ocasionalmente. Pelo que as parturientes têm de ir para outra ilha ter o bebé, e vão com bastante antecedência porque a SATA, a companhia aérea, não quer arriscar a ter partos durante os voos – disseram-me umas graciosenses que virei a conhecer em breve.
O Dr. Jorge tem um filho já formado no ISCTE, que vive em Lisboa, e uma filha médica, com especialidade, e que por isso não pode vir para a ilha Graciosa trabalhar, já que aqui não existem médicos da especialidade. Está em Lisboa também.

Moinho à vista!

Cá está o Moinho de Vento, numa povoação chamada Fontes, e por isso conhecido como Moinho de Vento  das Fontes, pertencente ao Museu da Graciosa. Lindo e mimoso! Tem três pisos e é de influência do norte da Europa, influência mais escandinava do que holandesa, já há estudos sobre isto, explicou-nos o Dr. Jorge.

Cá vão os outros dois turistas. Afinal um é açoriano, o Gustavo, de manga à cava. O António é do Brasil. Todos os anos passam férias numa ilha dos Açores, contaram. Agora estão duas semanas aqui na ilha Graciosa, e a fazer trilhos a pé. Vão-se embora segunda-feira. (Hoje é 5ª feira). Duas semanas na ilha Graciosa, a fazer tudo a pé, que magnífico, disse-lhes eu. Curiosamente não conheciam a aplicação Maps.me, e eu estive a mostrá-la no meu telemóvel, bem como o funcionamento. Eles andam a seguir trilhos pedestres oficiais. Trilhos a pé não faltam nos Açores. Só faltam mesmo trilhos de BTT. Mas soube que já andam a tratar disto, que em breve deverão ser publicados mais trilhos no site “Visit Azores”. A ver vamos. Agora também já não me interessa muito, todavia ficará para outros ciclistas vindouros.

Visitámos os três pisos do moinho, e ouvimos as explicações sobre o seu funcionamento.

São 16h40 e chove. Terminada esta bela visita aos polos do Museu da Graciosa, o Dr. Jorge levar-nos-á a todos de volta ao museu, em Santa Cruz, e eu tenciono regressar de bicicleta à Praia. Já vai parar de chover – disse-me o Dr. Jorge. O tempo muda depressa, acrescentou.


¹ “Outras Festas” (s.d.) Placa exposta no Museu da Graciosa, julho 2020.

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