024 – Sétimo Dia – À Espera do Barco

Hoje vou para a ilha de Jaco. De barco. Hoje não tocarei na bicicleta.
Dormi 9h, entre as 20.30h e as 5.30h. E tive de lutar muito para me aguentar até às 20.30h. Às 19 já mal me aguentava em pé. Rute zombie a lutar contra o sono.

Às 5.30h retomo as lides habituais do protetor solar e a seguir o repelente de insetos. Repelente até nas nádegas! É que baixar os calções no meio do mato de vez em quando prega-me uma surpresa. Até a t-shirt levantada na cintura, às vezes – sou logo picada nessa pequena nesga de pele. Onde não há repelente, há picadelas. Pelo que também ponho na cintura. Não que existam muitos mosquitos em Timor. Existem mosquitos como em qualquer zona de campo. Recordo-me de estar a fazer a viagem de bicicleta na Europa Central e as melgas no campo serem um pesadelo. Foi nessa viagem que aprendi a pôr o repelente nas nádegas. Na Europa, portanto. Há mosquitos por todo o lado. E eu devo ter um qualquer tipo de sangue, docito, que os atrai.

Pequeno almoço às 7h (estava marcado para as 7.30, mas ambos chegámos cedo, eu e o Valério; e já estava servido). Juntámos a minha manteiga de amendoim, e acabámos com ela agora, temos de comprar mais. Em quatro dias despachei um frasco de manteiga de amendoim, portanto. Ponho doses generosas no pão, o que faz o Valério olhar para mim, espantado. É mais manteiga de amendoim do que pão. Com este exercício todo não há comida que me chegue, amigo.

Saímos às 7.40h para a ilha de Jaco. A famosa ilha de Jaco. A paradisíaca ilha de Jaco, onde vou passar um dia de praia, de papo para o ar, só a nadar e a apanhar sol. Hoje n’a pas de bicicleta.

Ilha de Jaco à vista. Fizemos meia hora de carro por caminhos tão atribulados e tão complicados, que até o pequeno almoço foi completamente chocalhado no estômago. A estrada está em construção, os próximos visitantes terão mais sorte do que eu.

Esta é a Praia Valu. Em frente está a ilha de Jaco.

Não há barco. Não há pescador. Estão todos desaparecidos. Andámos para trás e para a frente, mas não se vê vivalma. São 8.10 da manhã e o pescador foi pescar, pois claro. Agora temos de esperar pelo pescador, para ele levar-me para a ilha de Jaco, ali à nossa frente. Quase que podia ir a nadar.

O Valério meteu-se na pickup (e eu também) e fizemos uns quinhentos metros até aqui. Pois não há pescador. Temos de esperar que ele volte. Estão a tentar ligar-lhe, mas o pescador não tem rede no meio do mar.

Voltámos para a praia, eu e o Valério, na pickup, e o Valério decide fazer sinais com a t-shirt, para ver se o pescador nos avista. Eu rio-me perdidamente, por esta altura. Pescador, nem vê-lo. Bem que pomos as mãos em forma de pala, na testa, para ver se vemos alguma coisa, algum pontinho no meio do mar, mas nada. Eu não vejo nada. O Valério não desiste, de qualquer forma; as pessoas na aldeia disseram-lhe que o pescador não deve andar longe e que é capaz de avistar-nos na praia e vir.

Eu entretenho-me na praia a apanhar pedaços de corais azuis. Tão bonitos. O Valério arranjou-me um pequeno saco para eu guardar as pedrinhas. Quer ver-me entretida – tem agora uma turista nas mãos sem nada para fazer, à espera de um barco, e no seu profissionalismo, preocupado, tenta acudir e esforça-se para eu andar entretida. Mas eu estou mesmo entretida. Com estas pedrinhas farei um quadro, quando chegar a Lisboa. Vou pintar um quadro com as cores de Timor, e na tela colarei estes corais azuis. Entretanto lembrei-me se não estaria numa “No-Take Zone”. Conforme explicado na crónica 18, uma “No-Take Zone”, ou em português “Zona de Exclusão” é uma área reservada onde nenhuma atividade extrativa é permitida. Atividades extrativas incluem pesca, caça, extração de madeira, mineração e perfuração. A coleta de conchas também é uma atividade extrativa. Só faltava eu ser presa no aeroporto, no regresso a Lisboa, com as pedrinhas azuis. Mas entretanto estive a analisar o mapa e aqui, onde eu estou, não será uma “No-Take Zone”. Até porque o pescador anda ali a pescar também. Ou então vamos todos presos por solidariedade uns com os outros.

Este cartaz já foi mostrado na crónica 19, na vila de Com – ou pelo menos um igual a ele. Recordo que esta zona está dentro do Parque Nacional Nino Konis Santana, criado em 2008. Pelo que leio na Wikipedia, o Parque esteve ameaçado pela proposta de um projeto hidroeléctrico, o qual iria dividir a região ao meio e destruir a floresta local¹.


¹ “Parque Nacional Nino Konis Santana” (s.d.). Wikipedia. Página consultada a 8 Outubro 2018,
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Parque_Nacional_Nino_Konis_Santana>

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