058 – Roça Bombaim
Um camião parado, sem ninguém.
Olá amiguinhas! Tudo bem? Venho visitar-vos na Roça Bombaim! Vocês moram aqui, né-é-é-é-é?
São 9h57 e tenho 19 km feitos.
Este é o antigo hotel que existia aqui em Bombaim. Fechou. Deve ter ido à falência. Mas disseram-me que há planos para recuperá-lo.
Está tudo deserto. Até é um bocado assustador. A minha bicicleta é silenciosa, pelo que se existe alguém aqui, nem deu conta que eu cheguei.
E apareceram os primeiros habitantes da Roça Bombaim. Cumprimentámo-nos.
Eu estou a preparar a máquina para tirarmos uma fotografia os três. Mas depois não apaguei esta foto de teste, mantive-a. Na próxima já apareço, e foi tirada pelo rapaz de calções vermelhos (foto abaixo), que acabei por não ficar com o seu nome.
Ele chama-se Rato Cabinda (que nome tão invulgar, disse-lhe eu. E o nome está escrito na parede, atrás de si), vive aqui há 36 anos. A senhora chama-se Adelaide e vive aqui há 20 e tal anos, disse-me.
O Rato Cabinda conta-me, respondendo a perguntas minhas, que tem terra própria para cultivar. Mostra-me como se faz uma bebida alcoólica que não me lembro qual é. Será vinho de palma? Não me lembro!! Eu ando tão especada a olhar para tudo, que nem prestei a devida atenção a isto.
Os porcos saem às 17h e voltam às 20, disse-me o Rato Cabinda. Estão habituados a dar a sua voltinha e não fogem.
Já as cabras saem às 8 e voltam às 14h. Foi as que encontrei e cumprimentei, ao chegar à Roça Bombaim.
As galinhas são as mais folionas: saem das 5 às 17h!
E os escritos na parede são muito significativos… “Cidade Desgraçada Bombaim”; “Pocilga Desgraçada”…
Este é um painel solar que funciona das 17h às 5 da manhã, instalado pelo Estado.
Têm igualmente um gerador para televisão.
A população da Roça Bombaim vende na cidade cacau, matabala, banana e café.
A Adelaide pediu-me dinheiro, dei-lhe cem dobras.
A cola da jaca afinal sai com petróleo ou óleo vegetal, e eles riram-se quando eu contei o episódio do guardanapo colado à boca.
Uma pequena mercearia. Comprei uma garrafa de água 50 ml, 15 dobras; dei uma nota de 20 e não quis troco.
Estes estarão entre os cães mais felizes da ilha de São Tomé, com certeza… Bonitos e bem tratadinhos. Numa das fotos acima vê-se o cão a pedir mimos ao Rato Cabinda, pendurando-se nele.
Eu nem posso acreditar no que estou a ver!! Um mangostão! O fruto dos deuses!!! Há mangostões aqui em São Tomé e Príncipe!! Melhor!: há uma árvore de mangostões aqui em Bombaim!!
A árvore do mangostão! Que se chama mangostão também! Estou delirante. Recordo a crónica 112 da China:
“Creio que foi a Zhu Bige quem comprou um pequeno saco de mangostões (é assim o plural… vejo no dicionário) e insistiu em dar-me a provar um. Abriu o fruto facilmente, com os dedos, sem tocar no interior, e deu-mo. Nem consigo descrever a delícia que este pequeno fruto redondo constitui. Vejo na Wikipédia que o mangostão é considerado pelos habitantes desta zona como a fruta mais saborosa do mundo: “a rainha das frutas tropicais”, verdadeiro “manjar dos deuses”. Pois concordo plenamente. Depois de se provar um, tem de se comer mais uma dúzia deles e nunca mais se esquecerá.”
E eis que agora vou comer um mangostão aqui em São Tomé e Príncipe, inesperadamente. Nem sabia que existiam mangostões em São Tomé e Príncipe.
Delicioso. Maduro. Doce. O néctar dos deuses.
Esta ervinha cheira a hortelã, mostrou-me o Rato Cabinda.
Uma jaqueira.
(Continua na próxima crónica).