080 – Música Tradicional do Oecusse & Bua Malus
Eu vou em pé no tabuleiro da pickup. O Valério conduz, e dentro da pickup vão também o guia Sanches, e o guia local Ego.
Por estradas muito complicadas chegámos à aldeia de Nibin, a qual pertence ao suco de Usitaqueno, e ao sub-distrito de Oesilo. (Sobre o significado de “suco” remeto para a crónica 78, a qual mostra também o mapa dos sucos existentes no Oecusse).
Aqui estão à minha espera para fazer uma pequena performance musical, com música e dança tradicionais do Oecusse.
Pode ser visto um pequeno vídeo desta performance aqui:
https://youtu.be/XP2QZLKxXhc
Foi das raras fotos onde consegui apanhar alguém a rir abertamente, e consequentemente ver os dentes em mau estado, bem como a substância vermelha que se masca aqui em Timor e arredores – Indonésia, Índia, Filipinas, Malásia, Myanmar, e com certeza outras regiões. Chama-se “Bua Malus”, e é uma mistura constituída por noz de areca, folhas de bétel e cal. O “Bua” é a noz da areca, que é o fruto de uma palmeira. As folhas de bétel são o “Malus”. E a parte da cal varia de região para região. Há quem misture tabaco de mascar, em vez de cal. Ou outras especiarias como cardamomo.
Palmeira de Areca, e o seu fruto: nozes de Areca.
Imagem retirada de: https://pt.wikipedia.org/wiki/Noz_de_areca#/media/File:Betel_nuts_(from_top).jpg
Folhas da pimenteira chamada “Bétel”.
Imagem retirada de: https://pt.wikipedia.org/wiki/Piper_betle#/media/File:Piper_betle_plant.jpg
Veja-se esta descrição da Wikipedia sobre a noz de areca:
Por vezes a noz de areca é designada incorretamente como noz de bétel devido a ser consumida quase sempre em combinação com as folhas provenientes da planta que produz a pimenta de bétel. A palmeira de areca é uma das plantas mais populares do mundo. A sua semente, a noz de areca, possui um sabor fresco e apimentado e é usualmente mascada ou mastigada inteira, sendo às vezes lascada ou ralada, frequentemente misturada com temperos de acordo com a tradição local, tais como cal e especiarias, tudo isto embrulhado em folhas de bétel. Os restos são cuspidos. Este costume constitui uma tradição e hábito popular. Sendo um estimulante, em geral é mascada junto com uma pequena quantidade de cal, e o mascador é facilmente reconhecido pelo fluxo abundante de saliva vermelha, que mancha os lábios e os dentes.
Os princípios ativos mais importantes da noz de areca são a arecaina e a arecolina, alcaloides cujos efeitos são comparáveis aos da nicotina. É descrito como estimulante, brandamente intoxicante e inibidor de apetite.
Além do efeito estimulante do sistema nervoso central causando um relaxamento alegre ou sensação de euforia e uma agradável sensação na boca, alguns afirmam que possui qualidades afrodisíacas. Certas pessoas chegam mesmo a afirmar que o seu consumo melhora a capacidade de aprendizagem e de raciocínio, facilita a respiração, melhora a disposição e reduz a pressão cardíaca. Pode ainda ter usos medicinais, tal como a redução das cáries, a remoção de ténias e outros parasitas intestinais mediante a ingestão de umas poucas colheres de noz de areca em pó, da própria noz ou tabletes contendo o extrato dos alcalóides.
No entanto, mastigar regularmente a noz de areca é extremamente prejudicial para os dentes. A noz de areca tinge a saliva da pessoa dum vermelho vivo e enegrece os dentes, provocando danos muitas vezes irreversíveis. Muitos mascadores habituais de bétel perdem os dentes já na idade de vinte e cinco anos. Além disso, a Agência Internacional para a Pesquisa do Cancro (IARC – International Agency of Research on Cancer) classifica a noz de bétel como um cancerígeno conhecido. Dosagens altas podem causar diarreia e tonturas. Doses muito altas podem ser mortais. O uso a longo termo pode causar habituação. Em pesquisas efetuadas entre consumidores que tanto usaram o tabaco como a noz de bétel disseram que, entre os dois, acharam mais difícil vencer o hábito de mascar a noz.¹
E veja-se esta descrição da Encyclopædia Britannica sobre a pimenteira bétel:
Bétel, também chamado de paan, pinang ou penang, é uma planta cujas folhas são usadas para fins de mastigação em vastas áreas do sul da Ásia e das Índias Orientais. A mastigação de bétel é um hábito estimado de um décimo da população mundial, e o bétel é a quarta droga psicoativa mais comum no mundo, seguindo a nicotina, o álcool e a cafeína. Em alguns casos, cardamomo, gengibre amarelo ou outro aromático é adicionado para dar sabor e estimulação, e algumas tradições adicionam tabaco para mascar.²
No entanto o “Bua Malus” tanto pode ser preparado com folhas de bétel (cujo nome científico é “Piper Betle”), como com o fruto desta pimenteira. Esta foto foi tirada um pouco mais à frente, nesta viagem, comigo a ter uma aula sobre “Bua Malus” (vou ter uma aula sobre isto, sim). Na mão do guia Sanches está o pacote com cal, a noz de areca já descascada, e o fruto da pimenteira bétel. Este fruto é mais forte, tem sementes dentro e dura mais tempo a secar do que as folhas. Estas duram apenas dois dias e são mais fracas. Quando são usadas as folhas de bétel, nestas são logo embrulhadas a noz e a cal para mascar. Quando é usado o fruto da bétel, começa-se por mastigar a noz e vai-se mordendo aos poucos o fruto da bétel, e só depois se vai pondo aos poucos na boca um pouco de cal.
Deixo uma foto de outra planta da família, muito semelhante: a “Piper colubrinum” pare se perceber como cresce o fruto. Procurei uma foto por todo o lado, na internet, da Piper Betle com o fruto, inclusive no Google Académico, porém não encontrei em lado nenhum. Existem muitas publicações no Google Académico sobre a Piper Betle, no entanto nenhuma tem fotos. Esta malta anda a estudar as coisas sem ver como são. Até já me questiono se a Piper Betle dá fruto, ou se os timorenses vão buscar o fruto noutra espécie de Piper.
Foto da espécie “Piper colubrinum” com o fruto.
Imagem retirada de: https://sv.wikipedia.org/wiki/Piper_colubrinum#/media/File:Piper_colubrinum_09.JPG
Esta Casa Sagrada (ou em tétum: “Uma Lulik” – ver crónica 22 sobre as Casas Sagradas), é nova, acabou de ser construída há pouco tempo, e fui convidada a visitá-la no seu interior.
Este rapaz, muito interessante para as ciclistas que passam pela aldeia de Nibin, tem 41 anos e pelo que percebi é funcionário público.
Reparem nas pernas tatuadas.
E chegou a hora de partir, a viagem prossegue!
Aldeia de Nibin, a qual pertence ao suco de Usitaqueno, e ao sub-distrito de Oesilo.
¹ “Noz de areca” (s.d.). Wikipedia. Página consultada a 27 Dezembro 2018,
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Noz_de_areca>
² “Betel Plant” (s.d.). Encyclopædia Britannica. Página consultada a 27 Dezembro 2018,
<https://www.britannica.com/plant/betel>