078 – Uma Família do Oecusse
Missa a decorrer. Há altifalantes para se ouvir cá fora. Creio que um deles (ou se calhar o único) está por detrás do ramo mais baixo da árvore, vê-se um bocadinho dele.
Um timorense com cabelos encaracolados. Até travei logo. Fiz inversão de marcha e fui ter com ele, para grande surpresa sua, e disparei algumas fotos mesmo junto à sua cara. Pus as mãos à volta da minha cabeça, como se estivesse a agarrar numa bola grande, para ele perceber que eu estou interessada no seu curiosíssimo cabelo encaracolado espetado no ar. Deve ter alguma ascendência africana, só pode. E os óculos?!… Este oecussiano tem cá um style…
Pronto, acabou-se o alcatrão. Não devo ter mais do que 20 km, desde que deixámos a cidade de Pante Macassar. A partir de agora é terra e pedras outra vez. E é bom que o Valério esteja algures onde eu o veja, para saber para onde viro. (Sim, estava na estrada à direita, bastou eu avançar uns metros e vi-o logo).
Entrei neste quintal para fotografar as vacas e o búfalo. É um bocado atrevido da minha parte, se calhar, entrar assim pelos quintais das pessoas. Deixei a bicicleta no chão, já dentro do quintal, e avancei de capacete na cabeça e máquina fotográfica em riste.
Felizmente sou sempre bem recebida. À direita está o chefe da família, Bernardo da Cruz Anuno, que tem o padrinho em Trás-os-Montes, contou-me. E também a madrinha, que se chama Marcolina. Fala português comigo. Já foi chefe de suco (já vou falar abaixo sobre os “sucos”) e militar ao serviço de Portugal. Está agora a tratar dos papéis para receber uma compensação monetária de Portugal por isso mesmo.
Uma foto com o Sr. Bernardo, para a posteridade. Repare-se na campa atrás de nós. Questionei-o sobre quem é. É da sua mulher, que faleceu há oito anos.
Aqui está um dos seus filhos, o Udiano, de quem recebo agora de vez em quando umas fotos do Oecusse, através do Whatsapp. E o Udiano recebe fotos de Lisboa, em troca. Atrapalha-se um pouco com o português, e vai falando melhor comigo em inglês. Tirou um curso de inglês, de três meses, na Embaixada dos EUA, em Díli.
Por esta altura o Valério já deve perguntar-se por onde é que ando que nunca mais apareço. Agradeci a hospitalidade e simpatia, e prossegui viagem. O Sr. Bernardo explicou-me os parentescos todos, relativamente a estas pessoas, e ainda há outro filho que não aparece nas fotos (creio que nesta foi ele próprio o fotógrafo), mas eu não consegui fixar. São irmãos, sobrinhos, filhos, netos, primos.
Esta família vive numa aldeia chamada Baqui, a qual pertence ao suco Naimeco, e ao sub-distrito de Pante-Macassar.
O que é um “suco”?
A menor divisão administrativa de Timor-Leste é o suco, que pode ser composto por uma ou mais aldeias. Existem 498 sucos no território, numa média de 7 por subdistrito. O distrito de Baucau é o que tem um maior número de sucos, 63, e o distrito de Ainaro o que apresenta menos divisões, 21 sucos. Analisando a média distrital de número de sucos por subdistritos, os distritos mais centrais salientam-se como os mais segmentados administrativamente. Aileu e Ermera possuem a média mais elevada, 11 sucos por distrito, e Ainaro e Oecussi-Ambeno apresentam a média mais baixa, 5 sucos por subdistrito.¹
Exemplo: no distrito de Oecusse existe o sub-distrito de Oesilo. Dentro do sub-distrito de Oesilo existem três sucos: Usitasae, Bobometo e Usitaqueno.
¹ “Divisões Administrativas – Sucos” (s.d.). Governo de Timor-Leste, República Democrática de Timor-Leste. Página consultada a 25 Dezembro 2018,
<http://timor-leste.gov.tl/?p=91>