063 – Faial, 18º dia – Chegada
Hoje é sábado, 18 de julho. Ontem deitei-me tarde, às 23h, com muito sono, depois de arrumar tudo para hoje, desmontar a bicicleta, selecionar as fotos e fazer o backup.
Um barco irá levar-me às 8h para a ilha das Flores, onde tenho um avião às 11h05 para a ilha do Faial.
O Filipe ofereceu-me boleia para o porto e disse-me para eu lhe telefonar às sete da manhã, por segurança, para acordá-lo. Mas não tive coragem, num sábado à 7 manhã, telefonar a alguém. No entanto aqui está ele. O porto fica a 200 metros. Eu até iria a pé, com as bagagens a andar pelas rodinhas. Teria que fazer duas viagens, com a bicicleta. A bicicleta está desmontada – tem o guiador virado e está sem pedais – não dá para andar, teria que ir pela mão.
Agradeci ao Filipe toda a ajuda que me deu. Arranjou-me um barco, levou-me ao porto. A sua ajuda e simpatia foi inestimável.
Eis o barco novo do Lourenço – o qual vai a descer com as minhas malas. Vou estrear o barco. Novinho em folha. Em breve este barco irá fazer as delícias de muitos turistas. A sua página pode ser vista no Facebook ou no Instagram, com o nome “Paralelo 39 – Ilha do Corvo”.
Esta viagem custa 210€ + IVA. Por especial favor, atendendo às circunstâncias em que ocorre – uma falha inesperada no meu barco da Atlânticoline, e com certeza com uma cunha do Filipe, o Lourenço fez-me 150€ + IVA.
Daqui a uns dias irei receber um email da Atlânticoline e pedir desculpa pelo sucedido e indicando que cobre esta despesa, pelo que eu enviar-lhes-ei a fatura, e a Atlânticoline transferir-me-á o montante. No meio do sobressalto, tudo acabou bem, afinal.
Adeus ilha do Corvo!
É sempre uma emoção ver golfinhos. Mesmo tendo visto golfinhos mil vezes, é sempre uma emoção. O Lourenço abrandou o barco para os vermos melhor.
Na ilha das Flores chove. E aqui um peixe-voador foi a voar ao nosso lado, durante uns bons segundos. É fantástico ver um peixe a voar.
A povoação chamada Fazenda. Passei ali na bicicleta, na crónica 40.
Eu telefonei ao taxista Sílvio para ele levar-me ao aeroporto. Mas o Sílvio está na ilha de São Miguel. Não há mais táxis em Santa Cruz das Flores, pelo que percebi. Na internet não aparece mais nada. Então o Lourenço pediu a um amigo seu para levar-me. A viagem são uns quinhentos metros, se calhar. Nas minhas contagens finais – contabilizando os quilómetros que fiz de carro e de bicicleta, eu coloquei 1 km.
Durante a viagem – duns 3 minutos – o amigo do Lourenço explicou-me que está um português a terminar a quarentena aqui na ilha das Flores. O teste da Covid-19 deu-lhe positivo. Tinham-me dito que era belga. Mas ele tem a certeza que é português. Veio fazer pesca desportiva. E a senhora com quem ele contactou aqui na ilha das Flores deu agora positivo também ao teste da Covid-19, ao 14º dia. Ele está quase a terminar a quarentena. E apontou-me a casa onde ele está.
Tenho 7 kg de excesso de bagagem, informaram-me. Tenho de pagar 28€, 4€ por cada quilo a mais.
Paguei portanto mas 4€ pelo queijo do Corvo, que pesa 1 kg. Para a próxima vai no saco na mão. Eu pu-lo na bagagem, na mala grande, juntamente com a manteiga que comprei na ilha das Flores. (Comprei-a na mercearia das Flores; já foi ao Corvo, e agora vai para o Faial). Levo também metade do pão que comprei no Corvo. Portanto o queijo, que me custou 14€, vai agora na módica quantia de 18€.
E não deixaram passar a chave da bicicleta: tive de voltar para trás e despachar a mochila azul que tinha às costas, com a chave dentro. Seis centímetros é o tamanho máximo, dizem-me. Esta chave passou em todos os aeroportos: duas vezes no aeroporto de Lisboa, em 2019 e 2020, e nos restantes aeroportos, nomeadamente São Miguel e Santa Maria. Os funcionários estranharam a chave, pediram para eu mostrá-la, viram que tenho uma bicicleta, e deixaram passar. Mas a menina aqui das Flores diz que a chave não pode passar.
Durante o voo, cairá uma asa do avião. Fui eu que a desaparafusei com a chavinha da bicicleta.
Esta chave anda comigo, na bolsa da cintura, porque há aeroportos que exigem que a roda da frente seja desmontada, como foi o caso de Lisboa – na crónica 2. Se eu mandar a chave na bagagem do porão, e no aeroporto decidirem que tenho que desmontar o pneu, a bagagem do porão terá que ser-me devolvida, porque a chave está lá dentro.
As janelas estavam todas fechadas – em época de Covid-19 é genial ter as janelas todas fechadas, com as pessoas aqui dentro (e a sala encheu bastante, entretanto) – e andava um pardal aos encontrões contra os vidros, a tentar sair. Faz confusão ouvir o seu pequeno corpinho a estatelar-se contra os vidros. Ainda se fere.
Fui chamar os funcionários. Eu já estava irritada com a história da chave, agora vejo um pássaro aflito e ninguém liga. Um dos funcionários disse-me que só quando abrirem o gate é que ele consegue sair. Nisto, o rapaz estrangeiro desta foto – de tshirt azul – levanta-se e abre a janela atrás dele. Deu-me a ideia de abrir as restantes janelas. Fui de janela em janela, abrindo todas. E o que é certo é que o pássaro desapareceu, aparentemente conseguiu fugir por uma das janelas abertas.
Esta minha passagem pelo aeroporto das Flores não correu bem. Cobraram-me mais dinheiro (foram os únicos em toda a viagem pelos Açores), não me deixaram passar a chave, e têm as janelas religiosamente fechadas em época de Covid-19. Onde é que andam os barcos? Quero ir de barco.
A minha bicicleta lá ao fundo.
O avião vai para a ilha de São Miguel, e faz escala no Faial. Aproveito esta pausa para fazer a contagem de quilómetros feitos na ilha do Corvo:
Dia 13
Chegada ao Corvo / Praia
12,7 km bicicleta
Táxi 200 metros
Dia 14
Corvo – Farolim Canto da Carneira / Caldeirão
29,3 km a pé e de bicicleta
Não houve táxi
Dia 15
Corvo – Miradouro da Cara do Índio / Reserva Natural
11,2 km a pé e de bicicleta
2 km de boleia de carro
Dia 16
Visita às terras de João, Filipe e Pedro
3,3 km bicicleta
22,5 km carro
Dia 17
Corvo: Morro dos Homens
20,2 km e pé e de bicicleta
6,4 km carro
Dia 18
Ida para o porto
500 metros
Total na ilha do Corvo:
76,7 km a pé e de bicicleta
31,6 km carro
O total das quatro ilhas que fiz até agora é de 396 km de bicicleta (e a pé também, pois vou alternando).
O voo durou 45 minutos. Aterrámos às 11h50.
O Faial será a minha quinta ilha, nesta viagem. Já fiz o grupo oriental (São Miguel e Santa Maria); já fiz o grupo ocidental (Flores e Corvo) e agora entro no grupo central. Recordo que o percurso e respetivas datas estão na crónica 1, da introdução.
A ilha do Faial tem 14.521 habitantes, e o gentílico é faialense. É a terceira ilha com mais população, das nove.
Foi o meu alojamento quem me enviou o taxista Paulo.
Ali à frente está a ilha do Pico. Pico, o Titã, está tapado pelas nuvens.
Serão 8,8 km até ao meu alojamento, na cidade da Horta, por 15€.
O Paulo irá acompanhar-me nos próximos dias. Eu fiquei com o seu número de telefone e sempre que precisar dum táxi, chamá-lo-ei.
Deixei a minha máquina com o Paulo pare ele tirar-me uma foto com as bagagens e a bicicleta, e o Paulo apanhou-se com a máquina e tratou de tirar outra foto não prevista. Eu gostei da foto e mantive-a. Está ali uma senhora à janela a observar-me, só dei conta mais tarde, ao ver a foto. O meu alojamento fica naquela casa cor de salmão. Dou conta é que estou numa rua principal, duma cidade. Estou frita. Vou ter carros a passar dia e noite. O meu quarto ficará lá em cima, nos últimos andares, precisamente porque eu deixo sempre instruções, em todos os alojamentos, que não quero ficar junto à estrada. Prefiro ficar nas traseiras, não me interessa a vista, quero é sossego.
Agora sim, a foto oficial.
A cozinha partilhada. É aqui que vou tomar o pequeno-almoço – que está incluído – e lanchar. Não me cruzei nunca, com ninguém, em toda a estadia, enquanto comi aqui na cozinha. Uma vez vim deixar coisas no frigorífico e estava aqui um rapaz a preparar uma sandes. Teve de desviar-se para eu chegar ao frigorífico. Foi a única vez.
E não encontrei ninguém ao pequeno-almoço, em primeiro lugar porque o tomo às 5 ou 6 da manhã, em segundo lugar porque deixaram de incluir pequenos-almoços, nas estadias, devido à Covid-19. Recordo que esta viagem está marcada desde novembro. A pandemia veio em março. A partir de março acabaram-se os pequenos-almoços. Quem quiser tomá-lo, efetivamente pode estar incluído, mas é servido e tomado num café aqui perto.
Uma sala de estar comum. Aqui verei várias pessoas, nomeadamente a trabalharem em portáteis, mas eu nunca frequentei esta sala. Simplesmente não tenho tempo para estar numa sala de estar!
Faço as compras necessárias num minimercado ao lado do alojamento.
Bananas do Faial a 1,59€. Vou comer uma carrada de bananas do Faial. Na ilha do Corvo não havia bananas.
O meu quarto fica no terceiro andar e não existe elevador. A bicicleta ficará aqui em baixo, na lavandaria. Já está montada e os pneus cheios. Esta tarefa põe-me logo a transpirar.
São 13h48, vou almoçar.
¹ “População residente, estimativas a 31 de Dezembro 2019”. Pordata, Base de Dados de Portugal Contemporâneo. Página consultada a 10 dezembro 2020,
<https://www.pordata.pt/Municipios/Popula%C3%A7%C3%A3o+residente++estimativas+a+31+de+Dezembro-120>