056 – 18º Dia, a Caminho da Roça Bombaim
Hoje é 2ª feira, 22 de Julho de 2019. O destino de hoje é: Roça Bombaim! Foi um dos destinos sugeridos pelo Mayke Jackson, quando o encontrei no Parque Popular (crónica 48). Bute lá então conhecer essa Roça Bombaim.
Despertador às 4h. Dormi umas 9 horas. Já não houve melgas ou pulgas. Nesta foto são 4h17 e preparo-me para mais um banquete matinal. Hoje já com o queijo a terminar.
Partida às 5h40. As crianças que moram ao lado do resort cumprimentam-me sempre com um “olá”. Nomeadamente o Roney, que fotografei na crónica 45, com a sua cadelinha Laili. Perguntei-lhe se está tudo bem; respondeu “obrigada”, e eu despedi-me com um “até logo”. Já está tudo a pé a esta hora, e a brincar.
Em inglês (já que o Google Translator ainda não traduz fotos 🙂 ) “Returning to the sea is praiseworthy”.
“Barber shop: haircut here”.
A gigante folha da Árvore-do-Pão (que dá a Fruta-Pão) da qual falei na crónica 13.
A chegar a uma povoação chamada Milagrosa.
Eu venho de Belém, passei por Trindade, estou agora a entrar em Milagrosa, e vou para a Roça Bombaim.
Como te chamas?, perguntei-lhe. Lísia!, respondeu-me. Lísia significa linda, e esta menina faz jus ao nome.
Passeando por Milagrosa.
O homem de camisola lilás, na foto anterior, explicou-me que esta cadela é sua e que foi picada nos olhos pela formiga-aliança. Que andou a tratá-la na medida do possível. É uma formiga muito pequena, explicou-me, e que provoca problemas de visão. Fazendo pesquisa na internet (em português e em inglês, inclusive no Google Académico) não encontro absolutamente nada sobre esta misteriosa formiga-aliança. Só vejo dois textos de dois biólogos portugueses que contam as suas experiências nos respetivos blogs:
João Pedro Pio escreveu em 2012:
Fujam! É a Formiga Aliança!
Desde que me lembro de chegar a São Tomé que oiço falar de formiga aliança. “São más, são terríveis, dão dores, coças e ficas pior, metem-se na roupa… enfim, existe uma mística enorme à volta destas formigas e hoje aconteceu um episódio tão bom que tenho que aproveitar.
Estávamos parados e sentados na parte de trás da pickup do Bastien (um dos senhores por trás da Marapa) juntamente com toda a tralha e machins e mochilas e botins e sacos e capas quando ele regressa de uma árvore com um apanhado de orquídeas.
“Põe aqui ao lado senão ainda se pisa.” – disse eu, arranjando espaço entre as pernas; mas quando se meteu o emaranhado de raízes e terra em cima do saco do pão, só vi umas coisinhas a caírem, pareciam poeira, mas poeira viva… era um ninho de formiga aliança ali no meio de nós! Bem… homens experientes que andam no mato armados com machins voaram do carro que nem meninas ao som do alarme! “Tem formiga aliança!?” Era tudo a pegar nas mochilas e a salvá-las como se pudessem pegar fogo! “Tira a capa, vê aí os botins!” Gritavam outros assim de longe, sem se quererem arriscar a aproximar.
Pois, o assunto é mesmo sério e adorava ter uma fotografia para mostrar o tamanho absurdo destes bichos… são minúsculos! Mas ferram com uma violência dos diabos! O veneno não é para brincadeiras, parece uma queimadura e claro que quando mordem, a primeira reação é ir lá esfregar… “mas, que ideia, tão, mááá”… só irrita mais a pele, que entretanto começa a arder mais e mais por causa do suor e as sacaninhas aproveitam a confusão para fugir e continuar o seu rasto de destruição pelas tuas costas desprotegidas!
Bem, no final tivemos que tirar tudo e varrer a terra do carro com folhas de fruteira, não podia ficar ali nada. As orquídeas “foram para o lixo” e só quando a área foi considerada segura novamente é que os nossos rabos voltaram para os seus postos.¹
(Fim de citação)
E Ricardo Lima escreveu em 2010:
Ora de entre os bichos chatos de São Tomé (centopeias venenosas, ouriços-de-mar que dão febre, cobra-preta, moscardos), não se pode deixar de falar na aliança.
Não sei quem se lembra daquele episódio do Macgyver com as formigas assassinas que atacavam e matavam pessoas (era o meu preferido, até voltar a ver uns anos depois e pensar que afinal era das maiores estupidezes que já tinha visto na minha vida). Pois estas não são tão letais, mas muito incómodas… Geralmente sente-se a sua picada antes de a ver, porque é minúscula! Então imaginem o que, nesta clima quente e húmido em que uma pessoa já está a suar que se farta, quando abanamos um ramo e nos caiem em cima uma multidão de formigas que, enquanto se afogam no nosso suor, se defendem com umas picadas ardentes. Não é nada bom, acreditem.
Tudo bem, venho-me meter no meio de uma floresta tropical húmida e agora estou-me a queixar… Pois bem, o pormenor irritante destas pequenas criaturas é que são introduzidas. Ora, o dono da roça “Aliança” (daí o nome das formigas) decidiu que estes insetos iam proteger os seus cacaueiros dos ladrões de cacau e como tal decidiu introduzi-los, sabe-se lá de onde. Já agora, agradece-se a quem saiba identificá-las. Sei que a foto não é muito boa, mas estou curioso!
Não gosto de desejar mal a ninguém, mas este senhor, com a sua ideia brilhante não merece que lhe tenham acontecido muitas coisas boas. Ainda para mais porque, imagino, não devia ser ele que andava nas plantações a apanhar cacau…²
(Fim de citação)
Não faço ideia se esta história da formiga ter sido introduzida pelo proprietário da Roça Aliança é verídica ou não. Fazendo pesquisa por “Roça Aliança”, efetivamente aparecem um ou dois resultados – a Roça aparentemente terá existido. Mas não há nada sobre ela, nem fotos. Se alguém souber o nome científico desta formiga, que me envie um email, por favor, que eu atualizarei este texto de acordo. A única coisa que posso dizer é que durante esta minha viagem nunca fui picada por ela. Pelas descrições, decididamente não fui picada por ela.
São 7h03, estas duas habitantes da Milagrosa estão aparentemente de volta do pequeno-almoço.
Pelo que me explicaram, foi uma artista brasileira que esteve aqui e pintou este mural, pelos vistos há poucos dias. A assinatura diz “Andreia Brasil 07/2019”. Hoje é dia 22 de Julho de 2019.
Deixo a Milagrosa e sigo caminho em direção à Roça Bombaim, o destino de hoje.
O lixo é muito problemático em São Tomé e Príncipe, conforme já comentei noutras crónicas anteriores. As pessoas não têm como descartar-se do lixo. Queimam-no, por vezes. Ou atiram-no para as traseiras das casas, como é o caso aqui, e como mostrei também na crónica 12, no Príncipe.
Muito gostava eu de saber por onde é que o GPS está a enviar-me.
A árvore-do-pão, com fruta-pão pendurada (ver crónica 13 para mais detalhes sobre esta árvore e fruta). Ampliando a foto, conto pelo menos 17 frutos pendurados.
Cacau à direita.
Projeto (qualquer coisa?). O restante diz: “Promoção e Troca de Informação, Plantação, Árvores de Fruto, e Igualdade de Género. ADRA São Tomé e Príncipe. Pomar de Árvores de Fruto. Financiado e implementado por ADRA”.
Fazendo pesquisa na internet sobre a ADRA, lê-se:
A Adventist Development and Relief Agency (ADRA) é a organização humanitária global da Igreja Adventista do Sétimo Dia. Por meio de uma rede internacional, a ADRA fornece assistência e desenvolvimento a indivíduos em mais de 130 países – independentemente da sua etnia, afiliação política ou associação religiosa. Por meio de parcerias com comunidades, organizações e governos, a ADRA é capaz de melhorar a qualidade de vida de milhões através de 9 áreas de impacto. As áreas de impacto são:
Meios de subsistência e agricultura
Crianças
Água, Saneamento e Higiene
Saúde da comunidade
Resposta a Desastres
Crescimento económico
Fome e Nutrição
Justiça social
Equidade de género³
¹ Pio, João Pedro (2012, 24 Maio) “Fujam! É a Formiga Aliança!”. Blog São Tomé e Príncipe. Página consultada a 13 Novembro 2019,
<http://saotomeaminhahistoria.blogspot.com/2012/05/fujam-e-formiga-alianca.html>
² Lima, Ricardo (2010, 26 Fevereiro) “Terrível Alianca”. Blog Aventuras e Desventuras de um Biólogo”. Página consultada a 13 Novembro 2019,
<http://riscas83.blogspot.com/2010/02/>
³ “About ADRA” (s.d.). Adventist Development and Relief Agency Página consultada a 13 Novembro 2019,
<https://adra.org/about-adra/>