100 – Terceira – Almoço & Museu do Vinho
Os currais (ou curraletas) de pedra vulcânica onde se plantam as vinhas, conforme desenvolvi nas crónicas 80, 81 e 82.
Aqui existem estas piscinas naturais mais escondidas e sem gente!
Trincheiras militares construídas durante a 2ª Guerra Mundial, usadas para defender a costa dos Biscoitos, conforme explicado na placa abaixo:
Os Açores são a terra das canadas. As canadas são caminhos. Agora eu vim na bicicleta a subir a Canada do Mar. Podia ser a Rua do Mar. Mas estando nos Açores, é a Canada do Mar.
Vou finalmente conhecer o restaurante do Raúl. É bom e barato, disseram-me.
Está tudo cheio. Não há lugar para mim. São 12h25.
No entanto, o Raúl – dono do restaurante, que vai aparecer nas fotos abaixo, perguntou-me se eu me importava de sentar-me na mesa daquele senhor, à esquerda.
Eu não me importo nada, tenho é que comer bem, hoje. Mas será que este senhor não se importa? Fiquei preocupada. Afinal de contas eu sou de fora e estamos em época de Covid-19. Não me espantaria – nem poderia ficar ofendida – se as pessoas tivessem receio de mim.
Mas este senhor, que se chama Hélder, prontificou-se imediatamente a ceder-me um lugar à sua mesa.
E assim almocei na companhia de um terceirense, nascido em Angra do Heroísmo. O Hélder veio aqui aos Biscoitos ver uma obra na sua casa. Só lhe falta conhecer as ilhas das Flores e Corvo. O filho tem 33 anos e é arquiteto. O Hélder tem casa perto da minha, em Lisboa, e frequenta alguns restaurantes na zona. Agora vai almoçar um peixe chamado Boca Negra.
Raúl, o dono do restaurante.
O Raúl tirou a máscara durante dois segundos, a meu pedido, para a foto.
E eu vou comer um peixe chamado Bicuda.
Depois do prato principal pedi a sopa, e tendo bebida incluída no menu, mandei vir um refrigerante de limão. Recordo que eu não bebo às refeições. Bebo em média 3 litros de água por dia, e quando chega a hora das refeições quero tudo menos líquidos. O Hélder tinha uma garrafa de vinho e ofereceu-me, mas eu agradeci e não aceitei. Disse-me que não a bebe toda, mas que é cliente habitual e que o Raúl lhe guarda a garrafa para a próxima vez que cá vier.
O menu custa 6,5€ e inclui pão com manteiga (que eu não consegui comer, nem lhe toquei – aquele pedaço de pão é do Hélder, e a manteiga creio que era a minha), sopa, bebida e prato. Perguntei por sobremesa, já se tinha acabado.
Ao meio dia o restaurante estava cheio de trabalhadores. Às duas da tarde quando eu saí, deixei o Hélder ainda à mesa, e já só havia outra mesa ocupada com um casal de turistas com uma criança.
Comi bem, gostei muito do peixe, finalmente comi uma refeição decente. Agradeci a gentileza do Hélder, que me permitiu almoçar à sua mesa, despedi-me e vou agora visitar este Museu do Vinho. Perdi o Museu do Vinho na ilha do Pico, tenho agora uma segunda oportunidade na ilha Terceira.
O meu cabelo e o meu biquíni ainda não secaram por completo devido ao nível elevado de humidade.
À entrada esta senhora explica-me que a visita é grátis, e que aqui podem ver-se pequenos lagares, alguns feitos numa única pedra. À esquerda verei várias castas, bem como a vinha tradicional nas curraletas (ou currais). Supostamente poderia provar o vinho verdelho dos Biscoitos, mas devido à pandemia essa prova foi anulada. (No Centro de Interpretação na ilha do Pico deram-me o vinho local a provar, aqui não dão, é pena).
Do lado direito está um Império do Espírito Santo.
Conforme expliquei na crónica 89, “Império” é a denominação dada a um pequeno templo onde se venera o Espírito Santo nos Açores. Para mais detalhes basta consultar essa crónica.
Para crianças, estas piscinas? Quem disse?!…
Cheguei a casa ainda com o biquíni e o cabelo húmidos. Faz muito calor, e muita humidade.
Estive quase uma hora aqui dentro, até a pele ficar engelhada.
A última queijada de Vila Franca do Campo, na ilha de São Miguel, que comprei numa mercearia da ilha do Corvo!!
Tive de ir ao supermercado comprar mais água, e ao pagar tinham estes queijos junto à caixa, a anunciar 50% de desconto. Ainda não provei o queijo da ilha do Pico! Veio mesmo a calhar, ali à frente dos meus olhos, na caixa, e ainda por cima com 50% de desconto. Ficou em 1,26€, portanto.
Queijo picaroto. Ou a arte de comer um queijo à dentada. Desde adolescente que faço isto, mas perdi o hábito por questões dietéticas. Eis que retomo nos Açores. Estes queijos são uma perdição.
O queijo picaroto é muito diferente do queijo da ilha de São Jorge. E totalmente diferente do queijo do Corvo.
Por esta altura já conheço os queijos de 5 ilhas açorianas: em Lisboa compro no supermercado o de São Jorge, Graciosa e São Miguel. Se existem mais à venda, pois nunca dei conta. Nesta viagem pelos Açores, já provei adicionalmente o do Corvo e agora o do Pico.
– Alguma coisa para mim? – perguntou-me.
– Olha passarinho, tu gostas de queijo?
– Não. Tens pão ou arroz?
– Não tenho nada disso…
– É mentira, tu não comes pão?
– Não, passarinho. É raro eu comer pão.
E ainda veio outro espreitar, com o peito castanho e a barriga branca, do tamanho dum pardal. Devia ser um tentilhão.
Às 18h finalmente estou de banho tomado, lavei o cabelo e estendi-me na rede do jardim para selecionar as fotos de ontem e hoje.
Deitei-me às 21h30.
Mais um belo dia.