115 – Em Busca dos Crocodilos
Aqui em Suai Loro vi dois crocodilos, um desapareceu logo debaixo de água, nem consegui fotografar.
Encontro esta notícia de 2016:
Ataques de crocodilos em Timor-Leste aumentam sem medidas de controlo
Um projeto de monitorização de crocodilos em Timor-Leste confirma o aumento de ataques este ano, com pelo menos 15 incidentes que causaram três vítimas mortais, segundo dados facultados à Lusa.
O projeto está a ser desenvolvido pela Direção de Biodiversidade do Ministério de Comércio, Indústria e Ambiente (MCIE), pelo Departamento de Agronomia da Faculdade de Agricultura da Universidade Nacional de Timor-Leste e pela direção de Remote Sensing and Landscape Information Systems, da Universidade de Freiburg.
Segundo os dados recolhidos até ao momento por este projeto, entre 2007 e 2014 houve pelo menos 123 vítimas de ataques de crocodilos no país, 59 das quais mortais.
A maior fatia de ataques ocorreu em zonas dos distritos de Viqueque e Lautem, incluindo em locais de destino turístico como Com e Tutuala.
Nos últimos meses, tem havido também vários casos de observação de crocodilos nos arredores de Díli e há o registo de pelo menos uma fatalidade: em abril um pescador foi mordido e acabou por morrer por causa dos ferimentos.
Mas há cada vez mais observações de crocodilos em diversos pontos de Timor-Leste, tanto na costa sul como na norte, com especial destaque, recentemente, para as costas próximas da capital, Díli.
Estanislau da Silva, ministro da Agricultura e Pescas, explicou à Lusa que o executivo está a tentar reativar contactos, especialmente com a Austrália, no intuito de responder ao problema, “algo que não é fácil”. “Mas eu sou da opinião de que se deve começar a abater os crocodilos. Este assunto é alvo de grandes debates. Mas tem de se abater os crocodilos que atacam”, afirmou.
“Devemos trabalhar com a Universidade de Darwin que tem sistemas e metodologias para identificar os crocodilos que atacam e esses devem ser abatidos”, disse.
O governante admite que questões tradicionais e culturais são um obstáculo aos esforços do Governo, especialmente na ponta leste do país onde as comunidades vivem mais arreigadas a esses aspetos, mas onde também ocorrem mais ataques.
“Temos de ver a melhor forma de comunicar com as comunidades. E estudar medidas para mitigar o problema”, disse. “Foi já apresentada uma proposta para criar aqui uma unidade de criação de crocodilos para fins comerciais. Esse investimento ainda não se concretizou mas pode vir a ocorrer”, referiu.
Sebastian Brackhane, investigador da Universidade de Freiburg e um dos responsáveis do projeto, explicou que a tendência é de um aumento de incidentes o que requer modelos de gestão focados mais na prevenção de ataque e mitigação do problema do que em conservação dos animais.
Além do mito de criação do país, da ilha crocodilo [ver a crónica 32 sobre a Lenda do Crocodilo] – há muitos rituais, poemas e outras manifestações culturais que honram o avô Lafaek (crocodilo) -, também há quem em Timor-Leste veja nos ataques uma espécie de punição da natureza contra as vítimas.
Aspetos como este condicionam as respostas das autoridades ao problema e ajudam a paralisar decisões mais concretas e amplas do executivo.
Uma das estratégias tem sido, em algumas zonas do país, estabelecer o que se intitula de Espaços de Exclusão de Crocodilos, zonas vedadas com estruturas de metal ou bambu para permitir que as comunidades realizem atividades como lavar a roupa, tomar banho ou até pescar em segurança, reduzindo o risco de ataques.
O impacto da crescente população de crocodilos – aponta-se a possibilidade até de uma migração das populações do Território Norte da Austrália (onde a sua proliferação impede, por exemplo, banhos nas praias de Darwin) – está igualmente a ter impacto ambiental.
Os crocodilos podem estar a contribuir para a queda no número de tartarugas de uma espécie local recentemente descoberta, a Chelodina timorensis, afetando outros habitats do país.
Dados disponíveis de investigações levadas a cabo em 2012 sugerem um aumento constante do número de animais da espécie Crocodylus porosus, o crocodilo de água-doce que nos anos 70 do século passado quase chegou à extinção.¹
Novamente um “manguezal”, conforme já descrevi na crónica 33, no Loré.
Aparentemente isto é um parque de estacionamento de bicicletas. E eu deixei a minha também e fui a caminhar a pé pela praia, em busca de crocodilos.
Quando eles descobriram que eu andava em busca de crocodilos, ofereceram-se prontamente para ajudar-me.
E levaram-me até esta zona, agora na maré vazia. Efetivamente estava aqui um crocodilo, e este homem estava sentado debaixo da árvore, em silêncio, a vê-lo. Ainda vi a cabecinha do crocodilo fora de água, mas nem consegui fotografá-lo, porque com tamanho alarido de tanta gente, ele fugiu logo. Eu nem tive tempo de agarrar na máquina, quanto mais de disparar. Bom, mas vi um crocodilo timorense, ou se calhar era um imigrante australiano, de acordo com a notícia acima, agora já não se sabe. Os fluxos migratórios também já chegaram aos crocodilos.
Deixei a praia, desanimada por não ver crocodilos como deve ser, e este pescador abordou-me. Eu estou parada, em pé, com a bicicleta ao meu lado, a ver se vejo crocodilos. Há tantos crocodilos e eu não vejo crocodilos porquê?! (Não queiram meter-se com uma ciclista – feminina – contrariada por não ver crocodilos…) Contou-me que não há peixe na ribeira, que não conseguiu pescar nada, vem com a rede vazia, e que tem medo dos crocodilos. Já foi mordido por um. Enquanto pesca, eles atacam-no. E levou-me a ver crocodilos. Andou uns metros para a frente (eu atrás dele, a caminhar com a bicicleta pela mão) e ainda me apontou outro, lá ao fundo. Mais uma vez vejo a cabecinha do crocodilo fora de água, e desta vez fotografei, mas precisaria de uma objetiva maior, pois a minha não apanhou nada.
Entusiasmada por ter visto mais um crocodilo, voltei à praia. Desta vez não deixei ninguém acompanhar-me para não haver ruído. O pescador que estava sentado debaixo da árvore, agora está a pescar. Pelos vistos ele estava à espera que o crocodilo se fosse embora, para poder ir para dentro de água lançar a sua rede. Agora percebo como isto é assustador. Onde o pescador está, era onde estava o crocodilo que eu não consegui fotografar. Se o bicho resolve regressar, o pescador está tramado. Bem que disse o outro pescador que já tinha sido mordido. Pudera. E depois há outro aspeto: são dois caçadores – homem e crocodilo – para o pouco peixe que deve haver por aqui. Por isso o outro pescador não conseguiu pescar nada!
No meio desta minha caça aos crocodilos, o pobre Valério está a apanhar uma seca dos diabos, à minha espera. Está a jogar um jogo no telemóvel. Eu disse-lhe que agora está sozinho, que já não tem o Sanches para lhe fazer companhia, ou o Rui, ou quem quer que seja. (“Esta garrafa de água é para a Rute, e tu bebes da ribeira!” – disse o Valério ao Sanches, um dia, fazendo-nos rir todos à gargalhada).
Sigo-o agora – eu na bicicleta, o Valério na pickup. Vai mostrar-me outra praia no Suai. São 10 da manhã.
Vi três crocodilos em Timor, portanto. O primeiro na crónica 16, na zona de Lautem, e agora estes dois. Se calhar aqui foi o mesmo crocodilo, que andava a nadar para cá e para lá, não sei.
Um furo de petróleo! A parte mais escura é dos testes ou amostragens que volta e meia fazem.
Estas ruínas pertencem a um edifício de origem portuguesa, onde eram detidos temporariamente delinquentes que a Administração Portuguesa apanhava, para cumprirem pequenos castigos, ou até serem entregues para julgamento.
Atraiu-me aqui a grande quantidade de motas, e descobri que estão a praticar alguma arte marcial ali mesmo ao lado.
¹ “Ataques de crocodilos em Timor-Leste aumentam sem medidas de controlo” (2016, 18 Maio). Agência Lusa. Jornal Online O Observador. Página consultada a 17 fevereiro 2019,
<https://observador.pt/2016/05/18/ataques-crocodilos-timor-leste-aumentam-sem-medidas-controlo/>