076 – Anoitecer e Amanhecer no Oecusse

De volta à minha bicicleta – que já anda – retomei as fotos. Tenho que acalmar-me. Já tens a tua bicicleta, Rute, tem calma. Com o pneu da outra bicicleta, mas tens. Tira lá umas fotozinhas em Pante Macassar. Vê lá o que se passa por aqui.
Bom, esta rapariga tem uma grande moto!!

Cheguei à pousada, às 19.15h, toda picada das melgas. Tenho que tomar banho e renovar o repelente de insetos com urgência. O meu problema não são as melgas, o meu problema é a ameaça da malária. Se as melgas me picam, o bastardo do mosquito da malária também pode picar-me.

Este restaurante está a uns 500 metros da pousada, e eu fui na bicicleta atrás da pickup. Não sabia que era tão perto, isto quase mais valia irmos os três a pé. O Sanches ainda se sentou comigo à mesa, para fazer companhia, mas ele não quer comer nada. Calculo que este restaurante seja para os turistas. O pessoal da agência de viagens irá provavelmente a outro mais típico (este é português) e com certeza mais barato. O Valério tem sempre comido comigo, e efetivamente comemos quase sempre a mesma coisa, conforme já comentei noutra crónica, mas agora já são duas pessoas, e ainda por cima este restaurante é caro. Para os padrões portugueses talvez não seja, mas tendo em conta os restantes restaurantes timorenses onde temos comido, este é caro. Então o Sanches sentou-se à mesa comigo só para fazer-me companhia, sem fome para jantar. Alguma vez. Não é a minha onda. Coitado do Sanches, está a fazer tudo corretamente, como está habituado em trabalho (ainda por cima é o número 2 da Timor MEGAtours, ou seja, quando o boss está fora, é ele que assume). Também me abre e fecha a porta da pickup, quando eu entro e saio. Ai. Isto vai acabar. Não é a minha onda, caríssimo e educadíssimo Sanches. Durante o dia, eu toda empoeirada e transpirada da bicicleta, e ele abre-me a porta. É o número 2 da Timor MEGAtours e faz tudo esmeradamente aos seus ilustres clientes. Mas eu não sou uma velhinha de 90 anos, vinda do palácio real… Eu não quero companhia para jantar, assim alguém a olhar para mim, nem quero que me abram a porta da pickup. O Sanches riu-se e foi-se embora. Terá ido jantar com o Valério algures, ou pelo menos fazer-lhe companhia a ele.
Neste restaurante estavam dois grupos de portugueses. Cumprimentámo-nos. E nada mais. Podia esperar-se uma grande festa ao ver-se compatriotas aqui, mas não, parece que é normal haverem portugueses, ninguém se liga. Em 15 dias eu só vi um casal de portugueses no barco de Ataúro, mas pronto, aqui no Oecusse há muitos mais, pelos vistos.

O que seria da minha vida sem esparguete. Qualquer oportunidade de comer esparguete é bem vinda. Estava tudo delicioso, e o doce de natas a seguir, maravilhoso.

Alvorada na pousada! São seis e pouco da manhã. Mas estes já acordaram há muito mais tempo do que eu. O cantorio começa noite cerrada. Agora ainda é noite cerrada também. Enfim, seriam umas 4 quando começou o cantorio. O galo, agora, ao fotografá-lo, cantou orgulhosamente, à minha aproximação. Também houve cantorio no meu quarto, esta noite. Um amigo toké resolveu dar o ar da sua graça. Mas eu já comecei a ganhar experiência: Xiu! – ordenei-lhe. E ele calou-se, coitadinho. (Quem chegou agora às crónicas e não sabe o que é um “toké”, o lagarto-cantor, remeto para a crónica 30). O que me preocupou mais foi ouvir de vez em quando qualquer coisa a silvar. Fsst! Parece uma cobra a silvar. Mas tenho uma cobra no quarto a silvar? Enfim, o sono é o melhor remédio para muitas coisas, e deixei a cobra a silvar e adormeci. Desde que não suba para a minha cama… siga lá a sua vida. Só de manhã descobri que é um spray na parede, ligado à eletricidade. Nem sei para o que é, se um anti-mosquitos, se um perfumador.

Ontem antes de nos deitarmos, estivemos os três – Valério, Sanches e eu – a delinear o percurso para o dia de hoje, com o mapa aberto no chão e nós sentados nos degraus da pousada. Vamos fazer 72 km pelo Oecusse em direção a Kefa, no Timor indonésio. Mas não. Afinal não pode ser porque o mecânico de Díli vai enviar-nos um novo pneu de gel para a bicicleta. Por avião. Hoje é domingo, o avião chega na manhã de 2ª feira. Vem de Díli. E não há avião ao domingo. Temos de passar o domingo aqui. Também pode ser enviado por autocarro para Kefa, ou mesmo Kupang, onde é suposto estarmos na 2ª feira. Mas o mecânico tem medo que o pneu se extravie no autocarro. Tem de vir por avião. A questão é que eu vou no 15º dia da viagem. Para cumprir o programa e conseguir ver tudo a que me propus, não posso perder um dia assim, sem mais nem menos, à espera de um avião. No entanto, eu anulei um dia em Díli, quando lá estive. Não quis ficar mais tempo na cidade, quis partir para o interior, pelo que ganhámos assim um dia. Bom, está decidido, passamos então o domingo por aqui, amanhã de manhã recebemos o pneu, e partimos então para Kefamenanu.

Têm duas cozinhas. Está visto que custam a largar a antiga. Agora que a malai anda aqui a tirar fotos, convém ir para a nova… O pequeno almoço está marcado para as 6.45h, mas a esta hora a menina ainda está a descascar as batatas.

Continua a não haver nada para barrar o pão. Se não fosse a nossa manteiga de amendoim, que viaja connosco, estávamos tramados.

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