056 – Almoço em Aileu & as Colunas Negras
Entre 1942 e 1945, os japoneses ocuparam Timor. Temendo que a ordem mantida pelos portugueses facilitasse a guerra de guerrilha da Austrália, as forças ocupacionais japonesas atrapalharam muito a administração colonial com o uso de “Colunas Negras”, milícias recrutadas quer na parte ocidental holandesa de Timor, quer na parte oriental portuguesa, com o objetivo tanto de expulsar os australianos, como de aterrorizar todos aqueles que poderiam cooperar ou simpatizar com eles, incluíndo a Administração portuguesa.¹ Estas Colunas Negras destruíram aldeias e espalharam o terror. Cinco soldados portugueses, juntamente com vários administradores e missionários, foram mortos. Este memorial em Aileu comemora o massacre.
Estas “colunas negras” de 1942, sejam as assustadoras colunas de fumo que se acumulavam sobre as aldeias e campos queimados onde quer que ocorressem as lutas, ou sejam os combatentes indonésios de pele escura recrutados na parte ocidental de Timor, então colonizada pela Holanda, constituíram uma parte crítica da guerra em Timor em 1942. O principal papel destes timorenses ocidentais recrutados em 1942 parece ter sido o de estimular os nativos do Timor português a levantarem-se e atacarem tanto os seus inimigos timorenses tradicionais, como os europeus, em particular os portugueses e os holandeses.²
O ataque em Aileu a 31 de agosto de 1942, resultando na morte de cinco soldados portugueses, juntamente com vários administradores e missionários, foi montado por estas infames “Colunas Negras”, um grupo de timorenses descontentes armados e recrutados pelos japoneses para semear o terror entre a população.
Os japoneses e as suas “Colunas Negras” criaram intrigas para reabrir as feridas deixadas pelas revoltas no início do século e para explorar as rivalidades tribais tradicionais. As lutas e ataques não foram por amor aos japoneses, mas por memórias de décadas de guerras de Manufahi [ver crónica 51 sobre D. Boaventura e as guerras de Manufahi], especialmente a busca por parte dessas pessoas descontentes em buscar vingança contra os rivais que tomaram partido dos portugueses. Em resposta a estes eventos angustiantes, o governador Ferreira de Carvalho procurou ter todos os portugueses temporariamente evacuados para a ilha de Ataúro e, para este fim, pediu a Lisboa para enviar um navio. A mensagem devidamente entregue – e intercetada – pelos japoneses, falava de “constantes revoltas nativas” e da “impossibilidade” de permanência em Timor.
No entanto, a embarcação requisitada não chegou e a mudança para Ataúro não ocorreu.
E, a 24 de outubro de 1942, em consonância com o plano geral de desmantelar a administração portuguesa, o exército japonês passou a concentrar todos os portugueses residentes em Timor (cerca de 600) nos campos de concentração de Liquiçá e Maubara. Todos os portugueses foram desarmados. De acordo com um ex-prisioneiro português deste campo entrevistado por investigadores australianos de crimes de guerra, as condições eram muito más, a comida escassa e as condições de higiene péssimas devido à falta de água. Como resultado, uma série de portugueses morreram no campo. No primeiro ano eram as tropas japonesas que serviam como guardas, no segundo ano foram substituídas pelos Kempetai, o braço policial militar do Exército Imperial Japonês, juntamente com alguns guardas timorenses ou “espiões”. Embora houvesse um médico português residente no campo desde o início, ao qual se juntaram dois anos depois dois médicos japoneses, nenhum tratamento médico era possível devido à falta de medicamentos. O hospital de Díli permaneceu aberto durante toda a ocupação japonesa, mas de acordo com um médico português que permaneceu no cargo durante os primeiros quatro meses de ocupação, os japoneses não forneciam medicamentos nem equipamentos médicos.³
A placa indica “Aos Massacrados de Aileu 1942”.
Depois de 10 belíssimos quilómetros em alcatrão, sempre a descer, em que eu tive de ultrapassar um camião (fazer ultrapassagens numa bicicleta de BTT, em estrada, é obra, mas eu não podia ir em câmara lenta atrás do camião e sobretudo a levar com a fumarada) – e ninguém me ultrapassou a mim – o que é interessante (revela que das duas uma: ou os timorenses são mesmo cautelosos e responsáveis, e conduzem devagar, ou eu sou uma acelera), chegámos ao restaurante às 14.15h.
Nascido no Seixal, quem diria. Já nem sei como começou a conversa. Mas é fácil começar-se uma conversa assim sem mais nem menos, nesta pequena ilha de Timor. A empresa onde trabalhava fechou, ficou desempregado, e em 2009 veio para Timor. Tem um filho de 40 anos em Portugal, e tem dois netos. A mãe também vivia em Portugal, morreu no ano passado.
A gente nunca sabe se as coisas estão em tétum ou em português. Às vezes parece que têm erros, mas não, estão escritas em tétum. É parecido mas não é igual. Enfim. Eu escolhi o bife com “cugumelos” e natas.
Estava aqui uma rapariga a trabalhar – ia lavar a louça – mas fugiu de mim e das fotos. Resultado: o cão ficou à vontade e tratou de lamber os tachos e as frigideiras. A sequência de acontecimentos que às vezes sucede. Uma coisa leva à outra. Como cada um de nós pode alterar involuntariamente a sequência da vida, é a lição que tiro daqui. Não era suposto isto ter acontecido. Bom, mas agora eu vou almoçar, vamos esperar que ela lave bem os tachos.
¹ Pinto, Constâncio e Jardine, Matthew (1997) “East Timor’s Unfinished Struggle – Inside the Timorese Resistance”. Página 8. South End Press, Boston. Livro online consultado a 22 Novembro 2018,
<https://books.google.pt/books?id=CdHlt6CSp54C&pg=PA8&lpg=PA8&dq=black+columns+timorese&source=bl&ots=YT2PDwM6rZ&sig=H_TVQd9nO-kPorMC0n8GgESnSoQ&hl=pt-BR&sa=X&ved=2ahUKEwiKwMeCpKLeAhWTfMAKHRIeAPYQ6AEwCnoECAUQAQ#v=onepage&q=black%20columns%20timorese&f=false>
² Horton, William Bradley (s.d.) “Ethnic Cleavage in Timorese Society: The Black Columns in Occupied Portuguese Timor (1942)”. Página 48. Takushoku University, Japan. Documento consultado a 22 Novembro 2018,
<https://ci.nii.ac.jp/els/contents110006405682.pdf?id=ART0008406393>
³ “History of Timor” (s.d.) Capítulo “Wartime Timor: 1942-45“. Sub-capítulo “Japanese Military Rule in Timor: 1942/45”. Páginas 122 e 123. Centro de Estudos sobre África , Ásia e América Latina (CEsA), Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG), Universidade de Lisboa. Documento consultado a 22 Novembro 2018,
<http://pascal.iseg.utl.pt/~cesa/History_of_Timor.pdf>