029 – Visita a Uma Escola Católica
A pickup do Valério está lá à frente. Foi o Valério que me disse para eu visitar esta escola.
Esta foto foi tirada da janela, entre os vidros, à socapa.
Deixaram-me entrar livremente, e esteve um funcionário comigo, o qual fala um excelente português, a trocar algumas impressões comigo.
Chegada ao hotel em Lospalos. Tenho 35 km feitos na bicicleta e chegámos cedíssimo, às 10.30h. A primeira coisa que fiz foi ir a uma loja da Timor Telecom ver se consigo internet no telemóvel do trabalho. Quero descarregar os emails, dar notícias. Qual quê. Também não há wifi na loja da Timor Telecom. Foi mesmo o funcionário, um rapaz dos seus 25 anos, quem me deu hotspot do seu próprio telemóvel. Sentei-me no chão, à entrada da loja, e tratei de tudo o mais rapidamente possível. Às 11.30h ele foi-se embora. Foi almoçar, aparentemente. E eu dei conta porque de repente perdi a internet. Bom, mas já consegui descarregar o email e enviar umas quantas mensagens e fotos por whatsapp, dizendo que está tudo bem.
Este esquentador é bom, deita água quente, não precisei de baldes.
Almoço no mesmo restaurante da outra vez (crónica 21), desta vez uma massada de frango. O Valério foi visitar a família. Está na sua terra, recordo que tem a mãe e os irmãos a viver aqui. Claro que eu lhe disse para ir-se embora. São 225 km de Díli até aqui, conforme já referi nessa crónica. Seis horas de carro por estradas esburacadas. O Valério costuma vir cá passar o Natal. Seria impensável almoçar num restaurante, com a mãe ali ao lado.
Tenho sempre este cão branco zarolho atrás de mim, a dar-me narizadas e lambidelas. É bom ver um cão gordo em Timor (este até demais).
E agora tenho a tarde livre. Mas estou com a pica toda. Fiz 35 km de manhã, e estou capaz de fazer outros 35 à tarde. Ainda ponderei voltar a Tutuala, e depois o Valério iria lá buscar-me na pickup. Mas não, forcei-me a descansar. Deixa lá estar o Valério sossegado com a família, deixa-o aproveitar esta tarde de sábado. Afinal de contas está quase um mês fora de casa, a acompanhar-me nesta viagem. Aproveitei para lavar os calções da bicicleta, com sabonete, e estendê-los ao sol. Trouxe outros para ir alternando, mas não são tão bons.
Está-se bem nesta pousada, tem pássaros a cantar e é silenciosa. E tem cães felizes e gordos. Ouvi música, nos fones. Faz quase uma semana que cheguei a Timor e ainda não tinha ouvido música desde que cheguei. Na pickup pedi silêncio ao Valério, não quero ouvir as suas músicas lamechas. Efetivamente pedi um CD de música tradicional timorense ao Eduardo Massa, mas é coisa complicada de arranjar. A indústria musical em Timor-Leste se calhar ainda nem existe, como editoras. Fazemos os caminhos em silêncio, portanto. Claro que quando eu passo para a bicicleta o Valério põe logo música na pickup. Isto de trabalhar com turistas não é fácil, cada qual tem os seus gostos. Não tem música tradicional timorense – então pode pôr Beethoven e afins, disse-lhe eu. Também não tem. Então não ouvimos nada.
Os meus calções a secar ao sol.
Um exemplar do Eutropis multifasciata, conhecido como “Common Sun Skink”, cuja tradução direta para português será “Lagarto Comum do Sol”. Ou talvez “ao Sol”. Este faz jus ao nome, está mesmo entre as sombras das folhinhas a apanhar sol. Citando uma publicação dos herpetólogos Mark O’Shea e Hinrich Kaiser, entre outros autores:
“Os lagartos desta espécie foram mais frequentemente vistos a circular ao ar livre durante o dia e foram encontrados em vários habitats, incluindo florestas secas e húmidas, pastagens, e ainda ambientes costeiros. Nós também os encontrámos em caminhos, estradas e pátios perto de habitações humanas.”¹
Para o jantar eu tinha encomendado massada de peixe, logo quando pedi a massada de frango ao almoço, mas acabei por arrepender-me. Não me apetece a mesma coisa e não tenho fome, pelo que ficou tudo no prato. Ou melhor, foi para o cão branco e zarolho, sempre à minha volta a dar-me narizadas e lambidelas nas pernas, certamente amargas com o repelente de insetos que eu pus depois do banho. O quarto também ficou com uma bombada de spray anti-mosquitos.
Aproveitei sim para analisar o mapa e planear o percurso com o Valério, que entretanto veio ter comigo, para ver se está tudo bem. Foi o Valério quem me tirou esta foto. Perguntei-lhe se a sua mãe e os seus irmãos estão bons. Sim, estão. Estivémos então a estudar o mapa e o percurso dos próximos três ou quatro dias, pois temos de começar a puxar mais pela coisa. Fazer percursos maiores. Tem de ser bicicleta de manhã, e carro à tarde. Não quero ter as tardes sempre livres, e quero fazer mais quilómetros de bicicleta.
¹ O’Shea, Mark et al. (2015) “Herpetological Diversity of Timor-Leste: Updates and a Review of Species Distributions”, Asian Herpetological Research 2015, 6(2): 73–131. Dados retirados da página 100. Documento consultado a 25 Outubro 2018,
<https://www.researchgate.net/publication/279749008_Herpetological_Diversity_of_Timor-Leste_Updates_and_a_Review_of_Species_Distributions>