026 – De Regresso a Tutuala
Para já ainda vou almoçar. Veio o barco buscar-me às 14h, conforme combinado.
Quando cortei a carne pensei que se tratasse de perú ou algo assim. Mas não, é um peixe chamado “tenguiri”, um grande naco carnudo e sem espinhas. Muito bom.
Disseram-me para eu escolher onde queria comer. Vai ser aqui mesmo na esplanada. Sou a única cliente do restaurante, agora.
Na praia onde os pescadores me apanharam (e me levaram para Jaco) existem muitos cães esqueléticos. Até faz confusão como é que conseguem viver e mexer-se mesmo. São esqueletos ambulantes. Guardei este bocado de comida em guardanapos para levar a algum deles. Devia ter levado o arroz todo. Devia ter arranjado um saco plástico e levado tudo, porque sobrou muita comida. Arrependo-me hoje disto. Porque é que não levei tudo.
E aí vou eu outra vez para Jaco, passar o resto da tarde. Efetivamente o Valério pensava que eu queria voltar para Tutuala depois de almoço. Quando entrei na pickup, à saída do restaurante, levávamos um pescador e tudo, no tabuleiro, com o seu molhinho de peixes. Quando virámos à direita, a caminho de Tutuala, eu espantei-me. Não, não… eu quero voltar para Jaco, como combinado, até às 5 da tarde. Coitado do pescador, ficou sem boleia. O Valério voltou para trás e um dos pescadores voltou a levar-me para Jaco. De facto eu até passaria uma semana inteira ali, não me cansaria. Hoje o dia tem de ser totalmente reservado para a paradisíaca ilha de Jaco. Se calhar nunca mais cá voltarei.
Desta vez o sol mudou de posição e eu abriguei-me debaixo desta árvore. Eu tenho rede de telemóvel e internet na ilha, quem diria. Se não estou em erro esta árvore será uma Physalis, ou em português: Fisális. Vejo na Wikipedia que a fisális é nativa das regiões temperadas, quentes e subtropicais de todo o mundo¹. Curiosamente comi um dos seus pequenos frutos no topo de um bolo, em Lisboa, antes de vir para Timor.
Os pássaros observam-me atentamente. Um pássaro mais pequeno do que uma andorinha, de corpo azul claro e asas amarelas, voa a rasar por cima de mim. São três e piam muito, pousados num ramo a uns vinte metros de mim. Têm o bico comprido e uma cauda escura.
De regresso.
Esta estrada começou a ser construída em Março de 2018, disse-me o Valério. Por enquanto tem troços muito difíceis, que até as motas custam a subir. A nossa pickup tem tração às quatro rodas, e o Valério fez uso dela, nesta estrada. Tem subidas com um desnível muito grande. Uma verdadeira emoção, estes trinta minutos de estrada.
Ao jantar eu e o Valério temos três tipos de frango. Ao centro, à minha frente, está um com molho agridoce, delicioso. Ao lado das batatas fritas estão sementes envoltas numa espécie de caramelo, mas não é, nem tem qualquer tipo de doce. Voltarei a comer estas sementes mais à frente. Noodles, arroz, legumes e picante. E uma salada de agrião, que conforme referido na crónica 21, não posso comer. Legumes crus molhados com água da torneira não posso comer; só posso beber água engarrafada.
¹ “Physalis” (s.d.). Wikipedia. Página consultada a 10 Outubro 2018,
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Physalis>