062 – Mergulho na Lagoa Azul

As fotos estão a ser tiradas com a câmera dentro da bolsa impermeável, ou seja, a câmera está no modo automático, porque é muito difícil pô-la no modo manual e regular os botões através do plástico. Só encontrar o obturador já é um sarilho. Resultado: as fotos saem todas escuras. No modo automático, a câmera tira fotos escuríssimas. É um contra.

Estamos na Praia Messias Alves (que é uma povoação, no mapa à direita); esta praia chama-se Praia Santana; e vamos de barco para a Lagoa Azul. Eu mantive o meu GPS ligado, o qual me indica que fizemos cerca de 18 milhas náuticas (ou seja, 33 km). Levámos 50 minutos a chegar à Lagoa Azul.

Viemos num pequeno barco e mudámos para este, maior. Em pé está o mergulhador que nos acompanhará; chama-se Amílcar.

Somos 4 mergulhadores: um casal francês, e este rapaz português, de Vila Real, chamado Nuno. São agora 8h51.
À frente estão o Amílcar e o ajudante Marley. Ambos pilotam o barco, mas só o Amílcar mergulha.

A marginal de São Tomé. Percorri a marginal de bicicleta na crónica 46.

O Forte de São Sebastião (crónica 48).

O ilhéu das cabras, desabitado.

Micoló e a Praia de Água Casada (onde andei nas crónicas 53 e 54).

Fernão Dias (crónica 54). Naquele pontão ao centro foi onde fotografei o grupo de portugueses que andava ali a passear também.

A minha praia preferida! Praia dos Tamarindos! (Crónicas 44 e 51). Já desbravei tudo, por terra e por mar! E agora vai ser nas profundezas!

A chegar à Lagoa Azul, um destino que ainda não conheço. Mas hei-de cá vir de bicicleta, me aguarrrrde.

A Lagoa Azul fica protegida numa enseada, pelo que as suas águas tranquilas, de cor turquesa, são um dos destinos favoritos na ilha de São Tomé.

Todos vestimos os fatos de mergulho agora, quando parámos.

Os lindíssimos e espantosos imbondeiros, árvores que podem viver mais de 2 mil anos, conforme já apresentei na crónica 50.

Em breve irei passar naquela estrada, de bicicleta. Mas eu agora ainda não sei isto. Vivo na ignorância ainda – de que irei tocar nestes imbondeiros, irei encostar a minha minúscula bicicleta aos seus gigantes troncos, irei fotografá-los ali mesmo, em terra, com toda a sua magia e força. Eles observam-me, agora. Eles são mais sapientes do que todos nós. “Aqui virás, Rute” – murmuram eles, esperando-me.

Os meus três companheiros de mergulho: o Nuno, de Vila Real, e o Eric e a Marinette, de França. Todos eles muito mais experientes do que eu, a mergulhar. A última vez que mergulhei foi há um ano atrás, na ilha de Ataúro, em Timor (crónica 61 de Timor), um espetacular mergulho no colorido Triângulo de Coral. Em Portugal nunca mergulho, o frio retira-me todo o prazer do mergulho. As águas de Portugal são muito frias. Pelo que agora já pouco me lembro dos procedimentos, e o mergulhador Amílcar teve de ajudar-me com a botija de ar e com a parafrenália de coisas a atar. Curiosamente, em Timor, o instrutor deu-me umas breves explicações antes de partirmos, para eu recordar tudo. Os gestos e sinais a fazer no caso de eu querer subir à superfície, por exemplo. Aqui em São Tomé não houve explicações, o Amílcar é de poucas palavras, pouco fala connosco, e partem do princípio que somos experientes e nos lembramos de tudo.

A parte de atirar-me à água, com trezentos quilos de peso às costas, é sempre delicada. Eu prefiro sentar-me na borda do barco, e deixar-me cair para trás. É preciso ter uma mão a segurar os óculos e o tubo de ar na boca. Se bem me recordo, os meus colegas de mergulho (o Nuno, a Marinette e o Eric) optaram por dar um passo em frente, na parte de trás do barco, na portinhola. Ou seja, caminharam para dentro de água e caíram em pé.

Curiosamente não levei pesos à volta da cintura, como é hábito, mas estava a ir ao fundo. A ponto de quase cair em cima dum peixe. Lembro-me perfeitamente de pensar: “Se o peixe não anda daqui, caio-lhe em cima”. Eu a descer lentamente direito a ele. (Vem aí um bicho negro, em câmara lenta, direito a mim?… – terá pensado o peixe a olhar para cima. Um bicho com quatro tentáculos… E fugiu). Depois fui enchendo o colete de ar até conseguir um equilíbrio. É curioso, isto, porque normalmente eu preciso de chumbos à volta da cintura para conseguir descer e manter-me no fundo. Se não tiver os pesos, começo a subir para a superfície. Aqui, nestas águas santomenses, foi ao contrário.

E assim se passou uma hora. Andámos debaixo de água durante uma hora e fomos aos 20 metros de profundidade. Aqui em São Tomé e Príncipe o mergulho é mais cinzento, mas não deixou de ter águas claras e mornas, e uns peixinhos coloridos aqui e além. É sempre emocionante andar nas profundezas.
Aqui estamos todos a desequipar-nos, a retirar o peso das costas. Mas eles os três ainda vão fazer um segundo mergulho, junto a um navio afundado, a uns quilómetros daqui. Eu tremo de frio, como é hábito. O tempo está muito nublado e cinzento, não está a ajudar. Mantenho o fato de borracha vestido, para manter-me quente o mais possível.

Temos um lanche incluído, com maçãs, água e sandes.

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