061 – O Fenomenal Mergulho no Triângulo de Coral
O Triângulo de Coral cobre áreas dentro de seis países – Timor-Leste, Indonésia, Filipinas, Malásia, Ilhas Salomão e Papua Nova Guiné. Tem a forma de um triângulo porque os cientistas identificaram que estes são os limites que delineiam o epicentro da biodiversidade marinha no Planeta Terra.¹
CTSP – Coral Triangle Support Partnership (em português: Parceria de Apoio ao Triângulo de Coral).
A CTSP é um consórcio de três ONG’s: o World Wildlife Fund, The Nature Conservancy e a Conservation International. O programa trabalha com doadores como a USAID, o Governo da Austrália e o Banco Asiático de Desenvolvimento.
Mapa retirado de: http://ctatlas.reefbase.org/pdf/CTSP_Priority_Sites.pdf
O Triângulo de Coral compreende pouco mais de 1,5% da área total dos oceanos no mundo. No entanto a área total de recifes de corais no Triângulo de Coral representa 30% dos recifes de coral do mundo. É aqui que existe a maior diversidade de corais do mundo: 76% (605) das espécies de corais do mundo (798). Em comparação, aproximadamente 8% das espécies de corais (61) ocorrem no Caribe.
O Triângulo de Coral compreende também a maior diversidade de peixes de recife de coral do mundo: 37% (2.228) das espécies de peixes de recife de coral do mundo (6.000). Em comparação, 7% (420) das espécies de peixes de recife de coral do mundo ocorrem nas ilhas havaianas.
Os países do Triângulo de Coral têm alguns dos números mais altos de espécies endémicas de peixes de recife no mundo (particularmente na Indonésia, Filipinas e Papua Nova Guiné).²
Os recursos biológicos do Triângulo de Coral sustentam diretamente as vidas de mais de 120 milhões de pessoas que vivem nesta área, e beneficiam outros milhões em todo o mundo.
O Triângulo de Coral é considerado o epicentro global da biodiversidade marinha e uma prioridade global para a conservação.³
Em 2009, os seis governos da região do Triângulo de Coral – os “CT6” (do inglês “Coral Triangle”) – assumiram o compromisso de salvaguardar os seus recursos marinhos e garantir rendimento e segurança alimentar para os milhões de pessoas que dependem desta região. Esta parceria, chamada “The Coral Triangle Initiative on Coral Reefs, Fisheries, and Food Security (CTI-CFF)”, ou em português, “Iniciativa do Triângulo de Coral para os Recifes de Coral, Pesca e Segurança Alimentar”, concentra-se na política, gestão de pescas, áreas marinhas protegidas e adaptação às alterações climáticas.⁴
Através do CTI, os membros do Triângulo de Coral concordaram defender a conservação da biodiversidade centrada nas pessoas, o desenvolvimento sustentável, a redução da pobreza e a repartição equitativa dos benefícios. O CTI procura reduzir a pobreza através do desenvolvimento económico, segurança alimentar, meios de subsistência sustentáveis para as comunidades costeiras e conservação da biodiversidade através da proteção de espécies, habitats e ecossistemas.
Apesar do seu valor significativo, os ecossistemas de recifes de corais do Triângulo de Coral estão entre os mais ameaçados do mundo. Aproximadamente 95% estão em risco – a sobrepesca afetou quase todos os recifes da região, práticas de pesca destrutivas são comuns, a poluição terrestre é significativa e o desenvolvimento costeiro uma ameaça crescente. As futuras ameaças da mudança climática e da acidificação dos oceanos irão agravar estes problemas. Trabalhando em colaboração com parceiros de desenvolvimento, organizações não-governamentais e comunidades, o CTI alcançou vários marcos para uma melhor gestão e práticas de conservação destes valiosos ecossistemas e recursos.²
A caminho de Bikeli, onde o Natalino tem família. Nem eu sabia que iria passar antes por um centro de mergulho. Nem eu imaginava sequer o que me esperava.
Um supermercado.
Ao pedalar estrada fora, em direção a Bikeli, acompanhada pelo Natalino na sua bicicleta também, vejo um placard na berma da estrada a publicitar mergulhos. Mergulhos? Vamos lá ver o que é aquilo, disse eu ao Natalino.
Fizemos cerca de 6 km de bicicleta até aqui. E agora eu quero fazer mergulho. Ah pois quero, não posso perder esta chance. Custa 50 dólares, uma hora, e mais 2 dólares para a comunidade local. Não tenho o fato de banho comigo, estou de cuecas e soutien, e não me apetece fazer mais 12 km de bicicleta (6 para trás, e novamente 6 para chegar aqui), em plena hora do calor (são duas e tal da tarde), por uma estrada péssima, para ir buscar o fato de banho. Eu vou de cuecas mergulhar, por baixo do fato de mergulho. O soutien ainda o tirei. Mudei de roupa numa pequena cabana, e deixei-a lá pendurada, num gancho na parede. Felizmente tenho o meu cartão com a Licença de Mergulho – a Licença Padi – comigo, na bolsa de cintura. Tenho o passaporte e mais alguns cartões, nomeadamente a Licença Padi. O responsável que aceitou a minha inscrição e pagamento, pediu-ma. Que sorte, senão teria mesmo de voltar para trás na bicicleta para ir buscá-la.
Estas fotos foram tiradas pelo rapaz da foto anterior, salvo erro italiano, que trabalha aqui, e que há de ser um magnífico mergulhador, mas fotografia não é com ele. É o melhor que se arranja, dado não estarmos propriamente com tempo e condições para grandes sessões fotográficas. Só proteger a máquina da água, dentro do barco, a salpicar por todo o lado, já é um sarilho. Aqui estou com o instrutor que me deu uma breve formação antes de sairmos no barco, e que me acompanhará neste mergulho. O rapaz também nos acompanhará mais ao longe. Fizemos apenas uns 5 ou 10 minutos no barco. Os recifes de coral estão aqui mesmo na margem. Há quem venha fazer snorkeling aqui – quem não sabe ou não quer mergulhar.
Recife de Coral em Timor-Leste
Imagem retirada de:
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/2/2e/Timor_Coral_Reef.jpg
Mapa das Zonas de Corais em Timor-Leste
A cor-de-rosa: zona de recifes de coral. Na ilha de Ataúro é precisamente um dos locais onde estou a mergulhar.
Mapa retirado de:
http://ctatlas.reefbase.org/pdf/Marine%20Protected%20Areas%20(MPAs)%20in%20Timor-Leste.pdf
De regresso. O mergulho durou 56 minutos, e descemos a 17,6 metros de profundidade. Fizemos cerca de 400 metros na horizontal.
Eu tenho lá palavras para descrever o que vi. Eu vi um mundo colorido, cheio de peixes coloridos. Água a 27 graus. Agarrei num Pepino-do-Mar. Observei os peixes coloridos a observarem-me a mim, curiosos. Alguns grandes, com cerca de cinquenta centímetros. Infelizmente não tenho uma câmera fotográfica para usar debaixo de água. Ainda pedi que me alugassem uma aqui no centro de mergulho, mas não têm. Uma falha crassa, num centro de mergulho, não terem máquinas fotográficas subaquáticas para alugar. Eu já fiz outro mergulho idêntico na Austrália, na Grande Barreira de Coral, e a experiência foi idêntica. Entenda-se: extasiante. Mesmo assim esta experiência de Timor-Leste foi melhor, porque apesar de ser a Grande Barreira de Coral, eu na altura não tinha a Licença Padi e não pude ir tão fundo. Tenho de publicar aqui neste meu site essas crónicas. Nessa altura alugaram uma máquina fotográfica, se bem que era das mais simples, com qualidade baixa, pelo que as fotos também não ficaram nada de especial. Nada como mergulhar e ver com os próprios olhos todas estas cores, toda esta alegria subaquática, toda esta vida.
No entanto o instrutor mostrou-me também uma área mais negra, onde os recifes de coral já estão mortos, cinzentos, sem vida. Poluição? Não faço ideia, mas é uma grande ameaça, e fiquei consciente dela. Tudo isto que eu estou a ver hoje, tão vivo, tão alegre, tão colorido, pode desaparecer um dia, com as alterações climáticas e a falta de cuidado humano.
Mesmo com os 27 graus de temperatura da água eu subi para o barco a tremer convulsivamente de frio. Decididamente devo ser um animal ectotérmico, como os répteis, conforme já comentei na crónica 52. É o amigo Toké e sou eu. Precisamos de sol para nos aquecermos. “Poor little thing” – disse o instrutor, a ver-me tremer e bater os dentes convulsivamente, na viagem de regresso, sentada no barco.
Venho a tremer, mas venho muito contente.
¹ “The Coral Triangle”(s.d.). The Coral Triangle Center. Página consultada a 29 Novembro 2018,
<http://www.coraltrianglecenter.org/where-we-work/>
² “History of CTI-CFF” (s.d.). The Coral Triangle Initiative. Página consultada a 29 Novembro 2018,
<http://coraltriangleinitiative.org/about>
³ “About Coral Triangle” (s.d.). The Coral Triangle Atlas. Página consultada a 29 Novembro 2018,
<http://ctatlas.reefbase.org/coraltriangle.aspx>
⁴ “Coral Triangle Support Partnership”. World Wildlife Fund. Página consultada a 29 Novembro 2018,
<https://www.worldwildlife.org/partnerships/coral-triangle-support-partnership>