045 – 15º Dia, Praia das Pombas e Cidade de São Tomé

Hoje tenho necessariamente que ir à cidade de São Tomé, para ver se encontro uma farmácia com os adesivos para os pés. Portanto defini um percurso para aquelas bandas. Em Timor deixei a cidade de Díli para o fim, e fiz o mesmo na China – Pequim ficou para o fim – mas aqui vou ter de ser mais rápida. Vou já meter-me no meio da confusão duma cidade africana. Não posso dizer que a vontade seja muita, preferia ir para o meio da floresta, mas adesivos a quanto obrigam. Começarei por visitar a Praia das Pombas, perto da cidade. Foi o que vi no mapa. Não faço ideia que praia é esta. O GPS indica-me que são 12 km com 290 metros de subida acumulada.

Despertador às 4 (mas acordei de livre vontade uns minutos antes! O meu organismo já está a habituar-se a este esquema), e banquete às 4h30. Não há luz, e água há apenas um fiozinho. Eu já venho com a escola toda do Príncipe, pelo que imediatamente fui buscar a luz portátil da máquina fotográfica para iluminar o quarto (e agora a cozinha e a sala). Ambas – luz e água voltaram às 5h. (5 da manhã).

Partida às 5h30. É impressão minha ou cada vez está mais escuro? Quando cheguei ao Príncipe amanhecia às 5h30, mas 15 dias depois está a amanhecer um pouco mais tarde.
Em frente está a casa azul do guarda do resort, que agora não está cá, não é preciso, porque está o Célio Santiago a pernoitar aqui, para tomar conta.
Ouve-se um rádio em altos berros. Desgraçados dos que querem dormir até mais tarde. Enfim, dormir até às 7 ou 8 da manhã não me parece nada de extraordinário, pois não? Mas aqui têm que levar com um rádio logo às 5 e meia da manhã, que é para aprenderem.

Este rapaz brinca com uma cadelinha na beira da estrada. O rapaz chama-se Roney e cadelinha é a Laili.

Escola Básica de Caixão Grande.

Falei uns minutos aqui com o Orlando. Diz-me que gostava de ir conhecer Portugal, que tem duas sobrinhas lá. “Vai com deus, leve-leve” – despediu-se de mim.

“Vai bem”, despediram-se elas de mim. Eu parei uns minutos, também, na berma da estrada.

A dona desta quitanda não quis aparecer na foto, fugiu. “Vai bem”, despediu-se igualmente de mim.

A placa “Oficina de Escultores” chama-me à atenção e eu paro. À porta está o escultor em pessoa, virei a saber, o qual se chama Osório, e que me convidou a entrar e a visitar a oficina. Fui com muito gosto.

E o Osório também é uma celebridade na sua área – o artesanato. Pelo que percebi, “Osório” é o nome artístico, pois aqui em São Tomé e Príncipe é Florentino Bengala. (Curiosamente acho o seu nome verdadeiro mais artístico!)
O Osório esteve em Lisboa e em Santo Tirso a participar em feiras internacionais de artesanato. Também esteve em Estremoz, Borba (gostou muito, tem boa comida, disse-me), Fogueteiro, Porto. A Câmara Municipal aqui do distrito de Me-Zochi manda-o para estas feiras, trata de tudo. O Osório viveu um ano em Portugal, em casa de uma irmã chamada Rute. Agora ela está em Londres. Tem uma loja em Água Izé, na Boca do Inferno (lá chegarei!) onde o filho Carlos vende as peças.

Espinafres.

Estou a menos de 1 km da Praia das Pombas, e a passar numa zona que se chama “Voz da América”. Está mesmo assim, no mapa. Indica “(VOA, IBB Transmitter Site”). Procurando na internet, encontra-se logo informação (passo a citar):

A VOA [Voice of America] é a maior organização internacional de notícias multimédia dos EUA, fornecendo conteúdo em mais de 45 idiomas para públicos com acesso limitado ou nenhum acesso a uma imprensa livre. Criada em 1942, a VOA está empenhada numa cobertura abrangente e independente, e em dizer a verdade ao público. A VOA é totalmente financiada pelos contribuintes dos EUA como parte da Agência dos EUA para Mídia Global.
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Em 1976, o presidente Gerald R. Ford assinou a Carta da VOA, que afirma:

  1. VOA servirá como uma fonte confiável e autorizada de notícias. As notícias da VOA serão precisas, objetivas e abrangentes.
  1. A VOA representará a América, e não um único segmento da sociedade americana, e, portanto, apresentará uma visão equilibrada e abrangente de importantes instituições e pensamento americanos.
  1. A VOA apresentará as políticas dos Estados Unidos com clareza e eficácia, e também apresentará discussões e opiniões responsáveis sobre essas políticas.

VOA – O Serviço em Português para África teve seu início em 1976 e, desde então, transmite diariamente. Atualmente transmite uma hora e meia de notícias e informação para os seus ouvintes. O quadro do serviço é composto por jornalistas da mais alta qualidade. Também contamos com correspondentes em Angola, Cabo Verde, Guiné Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe.

O Serviço em Português para África, ao serviço de milhões de ouvintes, convida a sua participação no programa “A Sua Carta” (Espaço do Ouvinte). Basta enviar uma carta, ou e-mail para os endereços anotados mais adiante. O Serviço em Português para África trazendo o melhor para si!¹

O GPS está um pouco vago. Está a mandar-me para a esquerda, mas ali não há nada. Não posso saltar as grades da Voz da América! Ainda os americanos pensam que sou uma espiã de bicicleta… Pelo que irei seguir esta estrada até lá acima.

A praia é esta! Mas o GPS manda-me outra vez para a Voz da América. Mau. Terei que saltar as grades ou quê? No Alentejo já saltei muitas (eu e a bicicleta), não me digam que aqui em São Tomé e Príncipe tenho que saltar também. E não estou a gostar nada desta estrada alcatroada (e bem alcatroada), pois os carros passam a toda a velocidade rente a mim. Eu tenho uma bicicleta de mato, com pneus largos e pesados, para andar no meio do mato! Não quero saber de estradas alcatroadas com os carros a passarem a toda a velocidade rente a mim!

Então afinal parece que é este o caminho (qual caminho, isto não é caminho nenhum) aqui ao lado das grades, à esquerda. Se é que isto tem saída. Eu não vou meter-me por aqui!
Do lado direito desta estrada há um centro de saúde, vou lá sondar sobre esta praia.

Perguntei a esta rapariga se existe ali uma praia. Respondeu-me que sim. Perguntei-lhe se não quer ir lá comigo, mostrar-ma. Ela exclamou que não, que tem medo!
Bom, vou desistir desta praia das Pombas por ser excessivamente deserta e rente a uma estrada perigosa. Não gosto de estar aqui e vou seguir caminho. Tirei-lhe uma foto de cima, já chega, adeus.

São 7h30, tenho 13 km feitos. Vou para a cidade de São Tomé, em direção ao Museu Nacional. O GPS diz-me que agora são 7 km, quase tudo a direito. Bute nessa, Vanessa!


¹ “Sobre Nós” (s.d.). VOA. Página consultada a 27 Outubro 2019,
https://www.voaportugues.com/sobre-nos

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