073 – A Espantosa e Intrépida Subida
Agora que chegámos lá abaixo, temos que subir, pois claro. Tudo o que descemos, agora temos de subir. E não vai nenhum helicóptero buscar-nos. Começa a segunda parte do trekking, portanto.
O Nong Bu colocou-me duas hipóteses: perguntou-me se eu quero subir junto aos turistas que comentei na crónica anterior (era só o que faltava – depois de um trekking fenomenal por ali abaixo, deserto e silencioso, agora ía juntar-me à multidão de turistas nos caminhos de cimento. Não, disse-lhe) ou se quero ir por ali – e apontou para o céu. Por ali, por onde? Olhei para cima. Só vejo as paredes da montanha e o céu. Há algum caminho ali? Vamos fazer escalada?
Não, Rute, observa com atenção. Está ali uma casinha – um posto de vigilância – e umas escadas encostadas à parede da montanha. Tirei esta foto com zoom, para se ver melhor, mas à primeira vista, sem zoom nenhum nos nossos olhos, passam perfeitamente despercebidas.
Mas sem dúvida nenhuma que vamos por ali, respondi eu ao Nong Bu, apontando para o céu. E ele perguntou-me três vezes. Mau, se calhar é ele que não quer ir. Pela terceira vez eu disse que quero ir por ali. Não quero ir pelo caminho dos turistas, quero ir por ali, repeti.
Atenção que toda esta conversa não foi por palavras. O Nong Bu não fala inglês. Conversámos por gestos. O Nong Bu apontava para os caminhos e quis certificar-se que eu estava a perceber que existem duas opções, e no que estou prestes a meter-me. Sim, eu estou a perceber claramente desde a primeira vez. Quero ir por ali, sem sombra de dúvida.
E lá fomos.
Não senti receio. O segredo aqui é a concentração. E não sofrer de vertigens, claro. O Nong Bu foi à minha frente, deixei-o desaparecer e depois fui eu. Efetivamente, enquanto subia as escadas, a meio decidi parar e olhar para trás. Tenho de fazê-lo. Se calhar nunca mais aqui voltarei, tenho de olhar.
Parei. Olhei para trás, lá para baixo.
E não voltei a repetir. O meu coração acelerou ligeiramente. Uma pulsaçãozinha a mais.
Rute, concentra-te.
E continuei a subir. Eu não sofro de vertigens, mas aquelas escadas são realmente impressionantes e não voltei a olhar para trás. A altura é muito grande e exatamente a pique.
Faz de conta que estás a subir o escadote lá de casa, Rute.
Reparem na placa ao meu lado. Vi outra algures. Não percebo se é algum poema, ou se é inglês incorreto, como várias vezes vi e não fotografei. A tradução literal é esta: “O fogo não está nas montanhas, floresta para a paz”.
Dá que pensar : )
E assim terminou este maravilhoso trekking pela Garganta do Salto do Tigre. Durou 4,15h. Estava pronta para outras 4h, não fosse a fome para almoçar.