071 – Caminhando pelo Temerário Desfiladeiro

Caminhamos ao longo do rio Jinsha, o trecho superior do rio Yangtzé. Quem sofre de vertigens jamais pode fazer este trekking. Na internet basta fazer pesquisa e surgem logo notícias de mortes. Não vimos vivalma, a não ser as pessoas que vão cobrando a passagem à medida em que avançamos. Vão cobrando 10 ou 15 yuans por cada etapa. No final paguei cerca de 65 yuans, se não me falham as somas todas.

O Nong Bu vai à frente, decidido,  com uma pequena mochila às costas com água e barras de cereais, para si próprio e para mim, e eu vou a uns metros dele, concentrada, também com água e chocolates na bolsa da cintura, além da câmera a tiracolo. Qualquer deslize, qualquer distração pode significar uma queda pela ravina abaixo. São caminhos estreitos, escorregadios, está tudo molhado da chuva noturna, sem nada onde nos agarrarmos, e só cabe uma pessoa de cada vez. O calçado é importantíssimo, não pode escorregar. É preciso ter uma passada cautelosa e firme. As fotos aqui têm de ser tiradas com calma: parar, manter o equilíbrio, nada de dar um passo ao lado – isso pode significar resvalar por ali abaixo. Tirar a foto. Guardar a máquina. Reiniciar a caminhada com os olhos no chão. Nada de observar a paisagem enquanto se caminha. Olhos sempre no chão e concentração.

Estou a adorar isto e sinto-me como um peixe na água. Sigo o Nong Bu, a dez ou quinze metros de distância, em silêncio.

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