29 – Jardim zoológico de Sófia
O bilhete custa 4 leva. Dois euros. Nunca tinha visto um jardim zoológico tão barato. Eu não estudei nada antes de vir para aqui, e pressupus então, pelo preço, que deveria ser pequeno. Nada disso, é enorme.
São agora 12h52.
Tenho visitado os zoos por todo o mundo, para ver as condições em que cada país mantém os animais presos. Se antes sentia real prazer ao ver os animais, desde a infância, agora faço estas visitas com tristeza. Pobres bichos, uma vida inteira confinados num pequeno espaço, para divertirem os humanos. Mais tarde ou mais cedo os zoos serão abolidos. Lá está, como eu comentei na crónica 20, será daqui a dez milhões de anos. Se existirem zoos nessa altura, será para conservar os animais vivos, porque nessa altura já só haverão humanos, aposto. Já comemos tudo. E os últimos exemplares destes animais terão de ser conservados sob alta segurança, pois valem milhões. Correção: não é preciso ser daqui a dez milhões de anos: efetivamente já acontece hoje, conforme contei na crónica 3 do Quénia, onde mostrei uma espécie rara de rinoceronte, protegido num parque, 24 horas por dia, por guardas com espingardas. Quais dez milhões de anos.
Como é que vocês querem que eu pinte a humanidade?… Vá, podem argumentar, eu aceito argumentos. Até podem dizer-me: pinta então os guardas do parque, que lá estão 24h por dia a cuidar do teu rinoceronte, e volta e meia levam um tiro. Sim, posso ponderar nisso. Pinta os membros do Greenpeace, que andam a lutar por proteger as florestas da Amazónia. Sim, também posso ponderar nisso. Veem, já estão a convencer-me. Mas mesmo assim prefiro pintar o rinoceronte e as florestas da Amazónia.
No entanto, nas viagens, interessa-me conhecer as gentes e os seus hábitos sociais e culturais. As paisagens podem ser lindas, mas sem gentes, perde um pouco a graça. É contraditório, isto? Não tenho vontade de pintar pessoas, mas procuro o relacionamento interpessoal nas minhas viagens, sem o qual as consideraria – às viagens – incompletas.
Com 1 kg de fisális, uma banana, a banitsa, e constante água, agora não me apetece almoçar, pois claro. E também não me apetece estas guloseimas, de facto. O almoço será então em Serdika, no centro, onde fica o meu hotel.
As casas de banho públicas têm esta sanitas – “squat toilets” – ou seja, de agachamento! Vejo na internet que em português são chamadas de “bacias turcas”. Não gosto nada disto… Na China era tudo assim e nessas crónicas mostrei-as constantemente, e ainda escrevi uma dissertação filosófica sobre o (mau) funcionamento delas. Nem vou entrar em detalhes agora outra vez, que nem me apetece. Esta está toda suja.
Recordo que hoje é sábado. Está muito pouca gente, mas penso que seja por estar em plena hora do calor – e hora de almoço. São agora 14h19.
Todos os animais têm um espaço interior e exterior, para estarem. Aqui são os elefantes. Mas não os vi, nem dentro, nem fora.
O rinoceronte quer ir para o espaço interior, mas fecharam-lhe a porta.
Bem grande, este jardim zoológico. Um dos melhores que visitei, no entanto é pena é a água tão verde e tão opaca, onde os tigres e os ursos tomam banho. Já carece de uma boa limpeza.
O mais fraco, até hoje, foi o de Copenhaga, na Dinamarca. Fui agora rever as crónicas, e vejo que nem publiquei uma foto sequer, desse zoo. Os animais não tinham estes espaços bonitos e grandes como o de Sófia tem. (E o de Portugal também).
Aguardemos pacientemente que os zoos sejam abolidos do mapa terrestre. E do universo. É melhor considerar o universo na totalidade, pois o homem em breve habitará outras galáxias.