09 – Conhecendo Lom de bicicleta

Às 3h30 da tarde eis que consigo uma bicicleta emprestada para ir dar uma volta pelo centro de Lom. É a bicicleta do Svetli, o ceramista aqui de Lom. Ele vem de casa nela, até ao hotel. Foi uma conquista difícil, o Svetli receia que aconteça alguma coisa à bicicleta. Pede-me para eu não a largar nunca, não a perder de vista, pois pode ser roubada. Mal sabe ele a experiência que eu tenho de bicicletas pelo mundo fora, e o cuidado que tenho com a minha. A sua bicicleta foi arrancada a ferros, mas lá consegui.

Explicou-me o próprio Svetli, há dias atrás, que aquela espécie de guindastes lá atrás são para extrair carvão.
E este é o Parque Dunavski, que significa “Danúbio”.

Deixei o Parque Dunavski e entrei pela rua central, que é enorme, deve ter 1 km, ou coisa que o valha. Sem trânsito, só para peões. Como se vê no mapa abaixo, Lom é uma cidade muito comprida, parece ter uns 5 km, de acordo com a escala do Google Maps.
Quase não se vêem pessoas porque estou em plena hora do calor. Fazem cerca de 40° C / 104° F de temperatura. Foi quando consegui a bicicleta. Nem hesitei, quero lá saber se está calor ou não, não podia perder esta oportunidade.

RUNA, “Rio Danúbio em Lom”, 2023. Acrílico e pastel de óleo sobre papel, 49 x 30 cm (19,3 x 11,8 polegadas).

Esta foi a primeira pintura que fiz durante a residência. Tem reminiscências do meu primeiro contacto com o rio Danúbio, em 2016, na Alemanha. Nessas férias fiz 838 km de bicicleta, com o meu então namorado, ao longo do rio Danúbio, durante um mês, e por vários países: além da Alemanha, a Áustria, a Eslováquia e a Hungria. As fotos podem ser vistas aqui. Nesse meu primeiro contacto com o Danúbio, vi os famosos cisnes selvagens, e acompanhei na bicicleta o serpentear do rio através das montanhas. E aqui na Bulgária, depois de Lom, há uma curva e contracurva. Eu tinha mesmo que pintar o Danúbio às curvas.

Avô Tseko Voivoda (1807 – 1881), um revolucionário búlgaro, combatente pela libertação da Bulgária do domínio otomano. Depois dos turcos atacarem as suas duas irmãs, Tseko tornou-se líder de um destacamento independente de 9 pessoas. Com o seu esquadrão, ele realizou inúmeros ataques aos turcos. Mais tarde viria a liderar um destacamento de 150-200 insurgentes, que, no entanto, foi derrotado por fortes unidades turcas avançando de Lom. Esteve preso durante três anos, sendo submetido a torturas. Após a libertação, tornou-se deputado na 1ª Assembleia Nacional Ordinária.¹

Avô Tseko Voivoda (1807 – 1881)

Ali diz, de acordo com a câmera do Google Translator: “Glória aos combatentes caídos na luta contra o fascismo. 1923-1945”.

O cartaz à direita diz: “30 anos de escolas Europa / Educação europeia para todos”. (Vocês, caros leitores, podem testar a app do Google Translator também, nestas fotos).

Vi muitos cães abandonados. Não fotografei todos. Poucos estão esqueléticos, felizmente as pessoas vão-lhes dando comida. Vi um cão esquelético mais à frente, e fotografei-o, aparecerá numa crónica futura. Este não sei se é abandonado ou não, pareceu andar a divagar, porém é alimentado. Há vários por aqui. Em Sófia, a capital da Bulgária, ainda vi mais cães de rua do que aqui em Lom.
Gatos então é a perder de conta, em Lom. É premente uma campanha de esterilização dos gatos de rua, aqui e provavelmente em toda a Bulgária. Os gatos proliferam, apanham doenças, andam cegos e feridos, como se verá numa das fotos abaixo, nesta crónica. São às centenas. Em Portugal a chamada campanha “CED” – capturar, esterilizar e devolver, tem tido sucesso. Várias centenas de gatos são esterilizados todos os anos por associações protetoras de animais, com o apoio financeiro das Câmaras Municipais; são esterilizados e devolvidos às colónias, na rua, onde vivem, pois aparentemente é impossível abrigar tantos gatos. Mas ao menos reduz-se a quantidade de animais que nascem.

A galeria de arte da Câmara Municipal de Lom. Fica aqui, na rua pedonal. Aqui irá ser feita a exposição final dos trabalhos realizados por todos nós, artistas residentes da Water Tower Art Residency.

A Mariane Mazel, de França (que assina como “Demoiselle MM”) começou a pintar o mural do lado esquerdo da galeria.

Estamos numa rua pedonal, turística, com cafés e restaurantes, crianças a brincarem e a andarem de bicicleta. E eis que surge uma loja de azulejos. Tem tudo a ver! Em todas as ruas pedonais, pelo mundo fora, no meio dos turistas e dos restaurantes, toda a gente quer comprar azulejos lá para casa. E mangueiras, ali do lado direito. Digo isto a rir-me, sem malícia. Estamos num ambiente pequeno, estas coisas acontecem. Para os habitantes locais até saberá bem ir fazer compras de azulejos e mangueiras numa rua turística. É como ter a Leroy Merlin na Rua Augusta, em Lisboa. (Eu até gostava… não podia é sair carregada… será que deixam o carro vir aqui? Devem deixar).

Novamente recorro à app do Google Translator, com a câmera. Aponto a câmera e aparecem as traduções. Deixo uma cópia em português e em inglês, de duas das placas. As 4 placas do lado direito têm nomes de pessoas.

Diz:
CY · Dimitar Marinov
Escola Politécnica “Naiden Gerov”

“Lom” em búlgaro.

Este gato está à porta do supermercado a pedir comida. Está visto que sabe que há comida ali dentro, e que as pessoas lhe dão qualquer coisa de vez em quando.

Eram cerca das 20h quando fiz a apresentação do meu projeto artístico aos restantes elementos da residência. Todos tinham um dia marcado, e eu fui logo a primeira, fiquei despachada. Não é coisa que eu goste muito, uma plateia a olhar para mim, e eu ter de explicar o meu trabalho. Ainda por cima em inglês. Esta foto foi-me tirada pela Viktoria. À minha frente está o Valeri Andreev, que ia fazer a sua apresentação a seguir, e acabou por ajudar-me na minha, passando as imagens. Ele tem o portátil à sua frente.


¹ Войводи (s.d.) “Цеко Петков (дядо Цеко войвода)”. Página consultada a 16 de agosto 2023,
https://voivodi.eu/vojvodi/ceko-petkov-dado-ceko-vojvoda/
(O meu agradecimento a Boyan Avramov, que me enviou esta informação, pois eu sozinha, em búlgaro, jamais lá chegaria).

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