73 – Presidiário do Fim do Mundo
As fugas desde o interior das celas da Cadeia de Reincidentes e Presídio Nacional – inaugurado em 1902, após incorporação de outros estabelecimentos penitenciários, e em funções até 1947 – eram impossíveis.
O edifício tem grossas paredes de pedra, grades duplas, e o piso de madeira estava assente diretamente sobre a rocha. Isto tornava impossível cavar um túnel ou partir a parede.
Só conseguiam fugir aqueles que contavam com ajuda externa. Foi o caso de Simón Radowinsky, a quem o esperaram num veleiro, e teve a cumplicidade de guardas ao conseguir um uniforme. Foi subvencionado ainda pelo “Diário Crítica”.
Outras fugas com certo êxito protagonizaram-nas os presos políticos que fugiram para barcos parados no porto, se bem que tenham sido restituídos à prisão poucos dias depois.
As fugas mais frequentes consistiam em ir até à zona do atual Parque Nacional para cruzar a fronteira. Geralmente eram apanhados e devolvidos à prisão pelos “carabineros” do Chile. Outros viviam uns dias em liberdade para depois virem entregar-se: o frio, a falta de comida e a impossibilidade de fazer fogo para não se denunciarem, fazia-os regressar.
Houve vários que escaparam, mas não se soube mais nada deles. Ou seja, não se sabe se tiveram êxito ou se morreram durante a tentativa. Eram procurados apenas durante uns dias e depois esperava-se.
Assim sucedeu com o preso nº 46, Nicolás Martín, um duplo homicida com prisão perpétua, que fugiu a 21 de Março de 1905. Desapareceu e nunca mais foi visto. Em 1907 encerrou-se o processo.
Entre as anedotas que contam os antigos povoadores, existe uma de um famoso caso de um preso que viveu uma semana no campanário da igreja e foi descoberto comprando fiambre numa loja.
Outro caso foi um que se escondeu numa oficina do próprio presídio.
O presídio de Ushuaia nunca teve um muro a rodeá-lo, apenas um alambrado e na zona da costa nem isso.
Em 1896, durante a visita de uma figura política da altura, a qual ficou surpreendida pela relativa soltura com que se deslocavam os presos, o diretor respondeu: “Não há perigo de fugas. Para onde iriam? Teriam que regressar por cansaço e fome”.