72 – Teatro do Fim do Mundo – A Aventura do Beagle

À semelhança do que aconteceu em Hanoi, no Vietname, fomos também ao teatro na Argentina. É sempre uma experiência interessante, e esta foi seguida de jantar no próprio teatro. Era uma peça leve, engraçada, cuja plateia e palco eram um barco com as dimensões exatas do Beagle. Eis a história verídica:

No ano de 1831 foi publicado num jornal em Inglaterra um anúncio para um posto de trabalho. Um anúncio fora dos padrões comuns: procurava-se um naturalista que estivesse disposto a viajar num barco durante vários anos, a enfrentar todo o tipo de perigos e a explorar regiões completamente desconhecidas. Em troca não se oferecia qualquer pagamento, e o postulante deveria cobrir cem por cento os seus gastos pessoais, tais como comida, roupa, e mesmo armas, elementos fundamentais dado os riscos da viagem.

O barco era o HMS Beagle, com apenas 28 metros de comprimento, e o propósito oficial da expedição era completar a cartografia da Terra do Fogo, conhecida até essa altura como “Terra Incógnita”. O propósito que na realidade movia o seu capitão, Robert Fitz Roy, com apenas 27 anos de idade, (deste veio o nome da montanha na qual fizemos trekking) era restituir à Terra do Fogo três nativos Yamanas, arrebatados um ano antes, depois de uma temporada “civilizadora” em Inglaterra. Dos três foi Jemmy Button quem melhor se adaptou aos costumes ingleses. Converteu-se num verdadeiro dandy, jamais saía à coberta sem as suas luvas brancas, gostava de admirar-se frente a um espelho, e tinha desenvolvido um zelo obsessivo pelo lustre das suas botas. De todos os modos o seu caráter era muito afável, e chegou a ser muito querido por todos a bordo.

Além do mais, como parte da sua missão evangelizadora, Fitz Roy estava empenhado em constatar cientificamente a exatidão literal do Génesis. Para tal decidiu incluir na expedição um “Filósofo Natural”.
Quem se apresentou para o posto foi Charles Darwin, naturalista mais por afeição do que por formação académica, o qual jamais havia cruzado o oceano e contava nessa altura com apenas 23 anos de idade. De facto Darwin não foi escolhido pela sua perícia científica, mas sim pela afinidade que de imediato se deu entre ele e o capitão.

Assim começou uma viagem que ficaria na história, uma viagem que permitiria a Charles Darwin desenvolver as revelações que viriam a converter-se num marco na história da ciência e que mudariam para sempre a forma como os homens percebem o mundo.
E uma viagem com estas personalidades intensas, complexas e quase opostas convivendo durante cinco anos num pequeno barco, estava escrito que se converteria numa aventura formidável, uma aventura de paixão pela verdade: A Aventura do Beagle.

<< >>