112 – Chegada e Hotel no Suai
Fizemos uma paragem aqui para eu fotografar a árvore e para esticarmos as pernas. O Valério fumou mais um cigarro e agora tem uma visita para conversar em tétum (a pessoa a quem demos boleia na crónica anterior), pelo que nos demorámos aqui alguns minutos. Eu fui logo picada pelas melgas, o que não é bom. Não pelas melgas, mas pelo mosquito da malária que pode picar-me também. O repelente de insetos colocado esta madrugada já não está a fazer efeito, é arriscado. É urgente chegar ao hotel, tomar banho e pôr novamente o spray. Conforme contei na crónica 2, eu trouxe três frascos de repelente de insetos para pôr no corpo, dos mais potentes do mercado, com 50% de Deet. Da próxima vez será melhor trazer mais, para poder ir renovando mais amiúde, porque os três não chegam para tantas renovações, durante os 26 dias da viagem. E estes bons repelentes são caros e nem se vendem nestes países. Vendem repelentes, mas muito mais fracos, diria quase insignificantes, por experiências anteriores. É curioso, pois é precisamente nestes países onde há uma alta incidência da malária que eles fazem falta. Em Portugal, comprar um repelente com 50% de Deet, nem se justifica. Por isso existem várias gamas, com vários graus (e cujo preço varia de acordo). Portanto, aqui não parei quieta um segundo, sempre a mexer-me para evitar que os mosquitos não consigam pousar em mim e picar-me.
Está a ser construída uma auto-estrada de 152 km, entre Suai e Beaço, em Viqueque. A primeira parte, com 30 km, foi inaugurada já depois da minha viagem, em Novembro de 2018. Recordo que esta minha viagem decorre em Julho e Agosto de 2018.
Leio o seguinte no Diário de Notícias:
“17 Novembro 2018
A obra faz parte de um projeto mais ambicioso conhecido como Tasi Mane (Mar Homem, uma referência ao mar mais agitado da costa sul, em contraste com o Tasi Feto, ou Mar Mulher, o mais calmo da costa norte).
O Tasi Mane é um projeto de desenvolvimento de toda a costa sul do país que inclui a construção da Base de Apoio de Suai – zonas logísticas, residenciais e industriais -, a refinaria de Betano, uma unidade de processamento de Gás Natural Liquefeito (GNL), um porto e o gasoduto até ao campo Greater Sunrise, no Mar de Timor. [Sobre o GNL e o Greater Sunrise, ver crónica 60].
A primeira fase da obra, no valor de 298 milhões de dólares, foi adjudicada à China Overseas Engineering Group, a que se somam mais quase 10 milhões em pagamentos por expropriações, o que implica que o custo dos primeiros 30 quilómetros da obra se cifrou nos 10,17 milhões por quilómetro.
O primeiro troço que liga Suai a Fatukahu/Mola, estende-se ao longo de 30,4 quilómetros e engloba dez pontes, quatro interseções, 20 viadutos, 20 caixas de drenagem e 60 passagens hidráulicas. O segundo troço deve começar a ser preparado em 2019.
O projeto arrancou em 2011 com estudos técnicos, prosseguiu com a identificação, aquisição e compensação de mais de 289 hectares de terras e propriedades para o projeto.”¹
A inauguração destes primeiros 30 km, foi acompanhada por um festival de atividades radicais:
“Alguns destes eventos serão realizados pela primeira vez na história de Timor-Leste”, disse [o secretário de Estado da Juventude e Desporto, Nelio Isaac Sarmento], notando que o evento é uma oportunidade de mostrar o que o país evoluiu desde a restauração da independência, em 2002.
Artes marciais mistas, motocross, ‘off road’, um rali que visitará os dois lados da fronteira entre Timor-Leste e a Indonésia, parapente e até lutas de galo fazem parte do festival que inclui uma maratona, uma meia maratona e uma prova de 10 mil metros.
Além da participação de atletas nacionais e internacionais em várias modalidades, o Suai Extreme apostará num amplo envolvimento da comunidade local, com competições desportivas, uma feira alimentar e de café, bem como outros eventos musicais.”²
(Fim de citação).
As lutas de galos é que já eram dispensáveis. Supostamente são proibidas em Timor-Leste, não percebo que vanglória é esta.
Chegámos às 19h ao hotel Suai. Tomei logo um bom banho, quente e cheio de espuma, e pus o repelente de insetos. Às 20h é o jantar no hotel.
O filho do dono do hotel, e quem nos recebeu e tratou de tudo. Chama-se Ronny Chung. O pai é chinês, a mãe é timorense. A mistura de timorenses com chineses normalmente dá estes bons resultados 🙂 O Ronny Chung é viajado e já esteve algumas vezes em Portugal, contou-me. Também me contou que um dos seus antecessores – o avô, ou bisavô – foi um dos chineses prisioneiros trazidos para Timor. E pelos vistos os seus descendentes tiveram sucesso, agora têm um hotel e um neto ou bisneto alto e espadaúdo.
O cão do Ronny, gorducho e feliz, que o segue para todo o lado. Chama-se Matthew. Dei-lhe um pouco de arroz, mas sua excelência tem mais que comer, nem ligou. Não quer saber de arroz para nada, só deve querer uns bifinhos.
¹ “Primeiro troço de autoestrada em Timor-Leste inaugurado hoje no sul do país” (2018, 17 Novembro). Agência Lusa, Diário de Notícias. Página consultada a 12 Fevereiro 2019,
<https://www.dn.pt/lusa/interior/primeiro-troco-de-autoestrada-em-timor-leste-inaugurado-hoje-no-sul-do-pais-10191548.html>
² “Festival radical marca inauguração de troço da primeira autoestrada de Timor-Leste” (2018, 16 Outubro). Agência Lusa, Diário de Notícias. Página consultada a 12 Fevereiro 2019,
<https://www.dn.pt/lusa/interior/festival-radical-marca-inauguracao-de-troco-da-primeira-autoestrada-de-timor-leste-10007546.html>