079 – As Casas Típicas do Oecusse

O Valério (e o Sanches e o Ego) estavam aqui parados à minha espera para visitarmos esta casa típica do Oecusse. Trata-se de uma Casa Sagrada, ou em tétum “Uma Lulik”. Sobre estas Uma Lulik remeto para a crónica 22.

Estendi a mão para tocar, mas não pude, disseram-me que não se pode tocar porque este é o centro sagrado. Eu recolhi imediatamente a mão, em sinal de respeito – e de temor – não quero trazer azar nem para mim nem para ninguém! As pessoas riram-se. Em baixo, neste poste central, encontram-se as primeiras espigas da colheita do ano que aqui são colocadas para os antepassados. No outro poste ao fundo, são guardadas as espigas para a sementeira do próximo ano. Por isso estão colocadas por cima do sítio onde cozinham para protegê-las da bicharada.
À esquerda está uma cama.

De camisola vermelha é o Ego, o guia local que nos acompanha.

Este amuleto (poderá ser chamado de amuleto?) serve para afastar os maus espíritos da casa. Também é sagrado e não se pode tocar-lhe.

Faço uma interrupção – no seguimento daquele pequeno cemitério – para deixar duas fotografias tiradas no Museu do Oriente, em Lisboa, duma estátua mortuária de cavalo com cavaleiro, oriunda aqui do Oecusse. Representa o cavalo que transporta a alma dum morto para a mítica terra dos antepassados.

O Valério aqui estava à minha espera, indica-me que há subidas, para eu passar para a pickup.

Alguém comprou esta galinha. Perguntei a quem pertence, mas o Sanches deu-me uma resposta vaga. Talvez seja do nosso guia local, o Ego. Comprou uma galinha. E custou dez dólares, disse-me depois o Valério. (Dólares americanos, recordo que a moeda em Timor-Leste é o dólar americano). O pior é que esta estrada é tão acidentada que as caixas andam para trás e para a frente no tabuleiro da pickup, onde eu vou em pé na parte das subidas. Chegou a um ponto em que eu tive de dar um berro, lá de cima, mandar parar e tirar as caixas, senão a galinha ainda morre esmagada com elas, nomeadamente a caixa frigorífica onde vão as águas. Mal consigo agarrar-me eu, no meio daqueles trambolhões todos, quanto mais ainda agarrar nas caixas. Então estas foram arrumadas dentro da pickup, o melhor possível, no banco de trás. É que hoje somos 4 na pickup. Por enquanto segue a galinha e sigo eu, no tabuleiro da pickup, na parte das subidas. Pobre bicho amarrado. Mas ao menos já nada lhe cai em cima.

A senhora que está sentada no chão perguntou-me se eu conheço a Mariana, que mora em Portugal perto do Cristo-Rei. Curiosamente não conheço nenhuma Mariana, seja em que parte de Portugal for. Perto do Cristo-Rei só pode ser Almada. Se a Mariana de Almada estiver a ver estas crónicas e conhecer esta senhora, que se acuse.

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