081 – Também há Bananas no Oecusse
Continuemos a falar do Oecusse, enclave timorense na Indonésia. Na crónica 77 falei do desenvolvimento deste distrito. Mas nem tudo são rosas, como aliás podemos ir vendo pelas fotos. Um dos grandes problemas é a água potável, por exemplo. Ou mesmo a eletricidade, se bem percebo o relatório “Oecusse em Números”, lançado em 2016 pela Direção Geral de Estatística e pelo Ministério das Finanças de Timor-Leste. Neste relatório podem ser consultados dados minuciosos sobre a população, clima, número de alunos e professores, médicos e centros de saúde, coberturas em termos de vacinação, doenças que surgiram (21 casos de malária em 2015, 83 de malnutrição, entre outros – página 42), religião (católica é a esmagadora maioria), dados sobre o emprego (355 pessoas estavam inscritas à procura de emprego. Sendo a população de 70.224 pessoas, corresponde a 0,5%, mas desconfio que haverá muita gente que não se regista), número de funcionários públicos (1.462), número de polícias (273 no total – página 51), dados sobre a criminalidade (lideram as ofensas à intregidade física, com 181 casos reportados, logo seguidos de violência conjugal, com 59 casos; 24 casos de contrabando e 9 casos de homicídio, entre outros – página 52. Há um caso de exibicionismo sexual!); participação nas eleições; e dados sobre a agricultura (o Oecusse produz tomate, cenoura, melância (pressuponho que “Pateka – (Malansia)” seja melância…), beringela, agrião, entre outros produtos que já não consigo traduzir. Quem lidera de longe é a fruta “Jaca” (Kulu Jaka), se bem percebo com 40 toneladas de produção em 2016 – página 62 – diz “Produção/ton/Ha/ano”. Toneladas, hectares? Não é claro. O gráfico da página seguinte já é mais claro, diz “Total Production (ton)”.
Outros dados que podemos encontrar neste minucioso relatório são ainda o número existente de aves de criação; a distribuição de área florestal; número de pescadores; áreas de negócio (lidera de longe o comércio a retalho e de produtos alimentares); número de veículos existentes; estabelecimentos hoteleiros e número de clientes; acesso à eletricidade (aqui não percebo bem, ou vejo o número de 23.355, serão as pessoas? Num total de 70.224 pessoas, serão 33%? – página 76) ou o acesso a água potável, onde se vê que num total de 15.656 casas de família, 5.307 ainda não têm água potável¹. É um relatório de 2016, recordo. Esta minha viagem decorre em 2018. Em dois anos pode haver uma evolução considerável, mas não existe informação disponível mais atualizada.
Nesta placa da USAID (“US” – de Estados Unidos da América, e “AID” que significa “Ajuda” – Ajuda dos EUA, portanto) lê-se que estes – os EUA – estão a intervir precisamente nesta área. “Bee Mos” significa “água potável”. Fornecimento de Água Potável (ou água limpa), Saneamento, Higiene e Gestão de Recursos Naturais. No site da USAID pode ler-se:
“A região de Oecusse-Ambeno, no lado ocidental da ilha de Timor, é caracterizada por baixos níveis de produção de alimentos, pela falta de abastecimento adequado de água potável e pelo isolamento do resto do país. Como é típico das terras altas de Timor-Leste, a ecologia é frágil e tem o impacto negativo da agricultura de corte e queima, que também afeta negativamente os recursos hídricos já inadequados.
O projeto da USAID trabalha com comunidades que estão localizadas principalmente em locais remotos e montanhosos, onde a infraestrutura rodoviária é deficiente e o acesso durante a estação chuvosa é difícil. A falta de fontes de água limpa, saneamento e práticas higiénicas na área leva a muitos problemas de saúde evitáveis. Muitas das fontes de água estão contaminadas, resultando numa série de doenças transmitidas pela água, como diarreia, que afetam particularmente os idosos e crianças menores de cinco anos.”²
A vendedora de bananas está a mascar “Bua Malus” (ver crónica 80 para mais detalhes sobre o Bua Malus).
Estas bananas são muito frutadas, parece que estou a comer banana misturada com sumo de laranja.
De passagem pela aldeia de Pune, no suco Usitasae. (Sobre o significado de “suco” remeto para a crónica 78, a qual mostra também o mapa dos sucos existentes no Oecusse).
¹ “Oecusse em Números – Estatística Região Oecusse 2016”. Direção Geral de Estatística de Timor-Leste e Ministério das Finanças de Timor-Leste. 4ª Edição, 2016. Documento consultado a 30 Dezembro 2018,
<http://www.statistics.gov.tl/wp-content/uploads/2018/01/Oecussi-em-Numeros-2016-Revised1-2.pdf>
² “Increasing Community Resilience in Oecusse” (último update a 14 Agosto 2018). USAID. Página consultada a 30 Dezembro 2018,
<https://www.usaid.gov/timor-leste/project-descriptions/increasing-community-resilience-oecusse>