085 – São Jorge, 24º dia – Chegada
Deixei o despertador para a hora habitual, 5h20, mas acordei uns minutos antes. Fiz as malas, comi Cerelac, esqueci-me de tirar uma foto ao pequeno-almoço. Ainda dormitei 50 minutos até à hora em que a taxista Elisabete veio buscar-me, às 7h45. Vou apanhar o barco aqui no porto de São Roque às 8h25. Eu podia ter ido a pedalar, tal como fiz no Faial, e nem me lembrei. Foram 2,6 km, paguei 7€.
A Elisabete deu-me dois beijinhos de despedida. Eu já nem me lembrava do que era dar dois beijinhos de despedida (ou de chegada) com estas coisas das Covides. Com a história da Covid-19 acabaram-se os beijinhos de cumprimento. Agora cumprimentamo-nos à chinês. Olá. Adeus. Nada de toques, nada de contacto físico. Pois a Elisabete esteve-se nas tintas para as Covides e prega-me com dois beijinhos de despedida. Rimo-nos.
Despedi-me de Pico, o Titã. Baixei a cabeça, em sinal de cumprimento e respeito, e despedi-me.
– Titã.
– Acompanhar-te-ei durante mais uns tempos, Rute.
– Que bom, Titã.
– Daqui de cima vejo-te. Vejo tudo à minha volta.
Eu sorri. É verdade.
– E eu também te vejo, Titã.
E continuarei a ver durante toda a minha estadia na ilha de São Jorge.
Aproveito esta viagem de barco para contabilizar os quilómetros feitos na ilha do Pico:
Dia 21
Barco para o Pico. Observação de baleias.
Não houve bicicleta na ilha do Pico. Houve apenas no Faial.
Táxi 50,7 km
Dia 22
Subida do Pico
Bicicleta (e a pé) 31,7 km
Táxi 26,3 km
Dia 23
Pico – Centro de Interpretação da Paisagem da Cultura da Vinha; Gruta das Torres
Bicicleta 39,1 km
Táxi 22 km
Dia 24
Barco para São Jorge
Táxi 2,6 km
Total Ilha do Pico
Bicicleta (e a pé) 70,8 km
Táxi 101,6 km
A chegar ao porto de Velas, na ilha de São Jorge. O barco vai seguir viagem para a ilha do Faial.
Eu nem dei conta que saí com a bicicleta pela saída errada – dos peões. Para mim é normal andar no caminho dos peões. Pelo que saí com a bicicleta pela mão, a caminhar atrás das pessoas. Ora o funcionário percebeu – que eu não percebo nada disto – e deixou-me vir para aqui, mas depois não me deixou ter aqui a bicicleta. E eu sem perceber porquê. Lá me explicou que a minha saída é a dos carros. Ah!
Hoje não tenho transfer combinado com ninguém. Está este táxi no porto, é o único, e eu perguntei ao senhor taxista, que se chama Manuel – virei a saber – se me leva a mim, às bagagens e à bicicleta, até à Urzelina, onde estou alojada. O Manuel foi apanhado desprevenido com tamanha carga, mas tratou de baixar um banco de trás – apenas o do meio, entre três. A bicicleta foi com uma roda de fora, e o capot aberto.
O Manuel não me deixa ir à frente. Tem receio da Covid-19. Mantém-me à distância.
A ilha de São Jorge tem 53 km de comprimento e 8 km de largura, 8277 habitantes¹, e o gentílico é jorgense ou são-jorgense.
Lá vai o meu barco para a ilha do Faial. Tirei esta foto da janela do táxi, em andamento.
Pico, o Titã, observa tudo com atenção.
Foram 10 km, 12€. Houve ali um contratempo junto ao porto, o trânsito esteve parado quase dez minutos, até que os carros começaram a fazer inversão de marcha e seguiram por caminhos alternativos. O Manuel fez o mesmo. Viemos por um caminho mais curto, até, pelo que vi no GPS.
Não só não consegui fotografar o Manuel de frente, como não consegui que ele me tirasse a mim a foto da praxe, à chegada, com as bagagens. Eu estou toda equipada para andar de bicicleta, tenho os calções de ciclismo vestidos, mas paciência, hoje não há foto. Eu chamei o Manuel, mas ele ouve mal, não me ouviu e foi-se embora. Porém combinei com ele vir buscar-me amanhã às 6h45, com uma condição: tem de baixar os três bancos de trás e eu vou à frente. Assim a bicicleta já cabe toda. Vou sempre com receio que a bicicleta caia do carro, em andamento. E eu quero ir à frente para tirar fotos.
É o segundo pedido a surpreender o Manuel, hoje. Primeiro foi à chegada, com esta carga toda, agora é o pedido de amanhã. Tenho várias viagens para fazer – disse-lhe eu, e preciso dum táxi para chamar sempre que for preciso durante a minha estadia de 4 dias aqui na ilha. O Manuel acedeu. Mal sabe ele a carga de fotografias que vai levar nos próximos dias. Até vai começar a fazer graças para as fotos. Porém o Manuel, por esta altura, ainda não sabe a passageira que lhe calhou na rifa. Virou-me as costas e foi-se embora, alheio a estas lides de blogs de viagens e de fotografias da praxe.
A minha casa – entenda-se, o meu alojamento – é aquela ali em cima, ao subir as escadas. Tenho um multibanco mesmo ao meu lado, ótimo.
Do outro lado da casa tenho este snack-bar. E, claro, Pico – o Titã – observa tudo com muita atenção. Até posso ir à janela dizer-lhe adeus, antes de dormir, e mandar-lhe beijinhos.
Cobertores, lençóis e almofadas não me faltam. Também está ali um ferro de engomar, escondido ao canto.
O alojamento deixou-me estes bolos, de oferta.
Andou o rapaz do supermercado a ajudar-me a escolher as bananas mais maduras. As minhas já estão ali de lado, em cima da arca. As mais verdes ficam para o 3º e 4º dia.
Não tenho pequeno-almoço incluído neste alojamento, pelo que tratei de abastecer-me. Ali ao fundo ainda está o pão que trouxe da ilha do Pico.
Antes de almoço trato já de comer um pêssego e uma deliciosa banana dos Açores. Os restaurantes começam a servir almoços às 12 horas. São 11h32. Vou esperar para almoçar e depois parto para a Fajã das Almas, a cinco quilómetros de distância com uma grande subida.
O Chocapic e os pêssegos custam em Lisboa 2,49€ e 1,39€. Até andei de lado.
No entanto, o Nestum Mel custa em Lisboa 1,89€ (com 23% de IVA). Aqui é 1,35€, com 18% de IVA.
Já a Cerelac, na crónica 79, na ilha do Pico, também foi mais barata do que em Lisboa, e curiosamente com 4% de IVA. As papas são subsidiadas nos Açores, aparentemente. Mas é curioso uma ter 4% de IVA, outra ter 18%. Dei conta, entretanto, que a diferença é igual em Portugal continental: a Cerelac tem 6% de IVA, o Nestum tem 23%. O Nestum é considerado uma gulodice, então, por quem decidiu este esquema de IVA. Mas ao pequeno-almoço não é tudo igual?
E a água tem 9% de IVA. Que bebam da torneira, não é verdade?! O pior é que a da torneira, aqui nas ilhas, faz-me dores de estômago!, conforme contei nas crónicas 56 (na ilha do Corvo) e 68 (na ilha do Faial). Aqui em São Jorge já nem arrisco.
Este espólio alimentar veio comigo das ilhas anteriores. A manteiga trouxe das Flores. O queijo é do Corvo. Os quatro iogurtes são do Pico.
É o chamado espólio alimentar inter-ilhas. Ando com a comida atrás, de ilha em ilha, mas a estes preços, ai não que não ando. Bom, e mesmo que fosse barato, não acho correto deitar comida fora. Plásticos e estas porcarias afins também. Não conseguimos livrar-nos dos plásticos nem por nada. Já inventaram uns plásticos de beterraba, que se desfazem rapidamente com o tempo, mas parece que a coisa ainda não pegou.
¹ “População residente, estimativas a 31 de Dezembro 2019”. Pordata, Base de Dados de Portugal Contemporâneo. Página consultada a 17 janeiro 2021,
<https://www.pordata.pt/Municipios/Popula%C3%A7%C3%A3o+residente++estimativas+a+31+de+Dezembro-120>