084 – Pico – Criação Velha, Madalena & Regresso a Casa
Vou a caminho de Madalena, onde irei telefonar à taxista Elisabete para ir buscar-me. É tudo a descer.
Apesar de apenas ter sido elevada a freguesia no século XVIII, há registos desta localidade como povoação de alguma importância havia mais de duzentos anos. O topónimo, segundo os historiadores está relacionada com a “criação” de gados, que provavelmente podiam ser bovinos, não sendo no entanto de descurar outras espécies, visto que no espaço abrangido pela localidade existem pastagens com referências antigas, localmente denominadas “terras de mato” e que em séculos passados também eram denominadas como “criações”. O termo “velha” advém da sua antiguidade, confirmando assim a sua já longa existência.¹
Vem mesmo a calhar, um multibanco. Ando atrás dum já há algum tempo. É o primeiro multibanco que vejo hoje. Mas é normal dado que eu quero sempre afastar-me das estradas principais e andar pelo campo.
E efetivamente cansei-me de ir agora pela estrada principal, com os carros a rasar-me a toda a velocidade. Travei e escolhi um percurso pedestre no GPS. Mandou-me já sair aqui. Estes caminhos que uma pessoa nem imagina que são caminhos, quanto mais aparecerem no GPS.
E como o GPS pensa que eu sou um peão, manda-me em contramão. Vou pelo passeio.
Igreja de Santa Maria Madalena, que eu já tinha mostrado na crónica 71, estava eu dentro do barco a chegar à ilha do Pico. Situada à entrada da vila da Madalena, junto ao mar, é o maior templo da ilha do Pico. Fundada no século XVI, sofreu importantes alterações na sua fachada no final do século XIX.²
Pelo caminho telefonei à taxista Elisabete. Perguntei-lhe onde queria que eu estivesse, na Madalena, para apanhar-me. A Elisabete disse que nos encontrávamos no porto. Acabei de chegar. São 17h48. Hoje fiz 39,1 km na bicicleta, durante 11h18. Foi um dia longo. No entanto estive mais tempo parada do que a andar.
Quando dei conta já tinha a Elisabete estacionada ao meu lado. Estava eu a fotografar o GPS quando ouvi a sua voz com pronúncia em inglês. A Elisabete estava a falar com uma guia de montanha que se cruzou comigo ontem, na subida do Pico. Cumprimentei-a também. Nestes meios pequenos cruzamo-nos todos uma dúzia de vezes.
Foram 22 km, 18€.
São 18h24. É um pouco tarde, dado que ainda tenho que ir fazer as bagagens. Felizmente amanhã vou de barco para a ilha de São Jorge e não preciso de desmontar a bicicleta. Por mim esta viagem às 9 ilhas dos Açores teria sido feita toda de barco, se houvesse tempo. Que alívio com as questões da bicicleta, das bagagens, dos controlos, das explosões e atentados. Isga-se. Não sei como é que os terroristas ainda não se lembraram de fazer explodir barcos. Só explodem aviões. Quando se lembrarem, começará o pesadelo dos controlos nos barcos também.
Cá está o doce de figo que foi oferecido pelo alojamento. Vai comigo na bagagem. Eu comi agora uma queijada de Vila Franca do Campo, uma maçã e dois copos de leite.
São 19h33, já estou de banho tomado e ouço – e vejo – movimento à volta da minha casa. Anda gente à minha volta a regar plantas e árvores, e a usar a torneira do lado de fora da cozinha. Fui lá fora ver o que se passa. Todos os pretextos são bons para uma conversa.
Então deparei com os donos do meu alojamento, a pequenina casa onde eu estou. São a Ana e o Armando, e não sabiam que estava gente cá. É uma empresa que está a tratar; eles ainda trabalham e não têm tempo para estas lides. Vieram regar as plantas, pois há cerca de um mês que não chove.
A Ana explicou-me que a árvore no páteo desta casa é um cedreiro, com cerca de 150 anos. Eu percebi cedreiro, não cidreiro. Não faço ideia. A árvore pode ser vista no final da crónica 79.
Eu entretanto sentei-me numa pedra, enquanto conversávamos (deixámos o Armando a trabalhar e ficámos na conversa). É que ainda não recuperei da subida ontem à montanha do Pico. A Ana já subiu ao piquinho, há alguns anos, disse-me.
De camisa preta é o irmão da Ana, disse-me esta. Ao lado está o padre. Se bem percebi, em frente, do outro lado da rua, fica o centro paroquial.
Deitei-me às 21h30. Não arrumei as bagagens, nem consegui terminar o trabalho da seleção das fotos. Adormeci antes. Amanhã o barco é às 8h25; eu arrumarei num instante as bagagens de manhã. Já estou a ganhar prática nisto. Vou para a sétima ilha.
¹ “Criação Velha” (s.d.) Wikipédia. Página consultada a 14 janeiro 2021,
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Cria%C3%A7%C3%A3o_Velha>
² “Igreja Matriz de Santa Maria Madalena” (s.d.) Câmara Municipal da Madalena. Página consultada a 14 janeiro 2021,
<http://cm-madalena.pt/pt/turismo/o-que-visitar/igrejas-e-ermidas/item/igrejas-e-ermidas/igreja-matriz-de-santa-maria-madalena>