082 – Pico – Centro de Interpretação da Paisagem da Cultura da Vinha & Almoço
Cheguei ao meu primeiro destino de hoje: o Centro de Interpretação da Paisagem da Cultura da Vinha.
Paguei 3€ e entrei. À entrada lê-se:
A Paisagem da Cultura da Vinha da Ilha do Pico é um exemplo único de vitivinicultura numa ilha vulcânica, desenvolvida desde a chegada dos primeiros povoadores, no século XV, até à contemporaneidade. A extraordinária beleza da paisagem vulcânica , repleta de muros e pequenos currais de pedra construídos pelo Homem, é o testemunho de gerações de produtores, que, num ambiente hostil, criaram um modo de vida sustentável e um produto muito apreciado – o vinho verdelho.
A verde claro está a localização da cultura da vinha. A verde escuro é a zona tampão.
Irei mostrar alguns textos, os quais fotografei no Centro. Há muitos mais. Este Centro de Interpretação exige tempo para leitura, e quem cá vier tem que vir com vontade de ler e aprender. Eu até pousei a bolsa da cintura num balcão, para não andar carregada durante a visita. A bolsa da cintura está muito pesada. Tem o telemóvel, o GPS, duas barras de proteína, um gel energético.
Neste cartaz destaco a referência às pragas de filoxera e de oídio, que provocaram a decadência da produção do vinho em meados do século XIX.
“Ficou apenas uma bolsa de resistência, na Criação Velha, de vinho morangueiro, ou de cheiro, que, apesar de não ter muita qualidade, foi alimentando esta economia”, explica Manuel Serpa, autor do livro “Da Pedra se fez Vinho”. Até que, pelos anos 1960/70, “houve quem começasse a olhar para a paisagem e a avaliar a qualidade que o Verdelho ainda mantinha”. Entrou-se, então, numa fase de “preocupação de recuperar o que no passado tinha sido uma glória”. A replantação das castas Arinto, Verdelho e Terrantez é agora subsidiada e a recuperação dos antigos currais é um trabalho que parece interminável.”¹
Para que não haja dificuldade de leitura, e dada a importância deste texto, transcrevo-o:
Até meados do século XIX, na parte oeste da ilha, as vinhas ocupavam grandes propriedades que pertenciam maioritariamente a residentes na ilha do Faial e a ordens religiosas (Carmelita, Jesuíta, Capuchinhos e Franciscana). Não obstante não lhes pertencerem, as vinhas eram trabalhadas pelos picarotos.
Com o desastre provocado pelas pragas da filoxera e do oídio, a atividade vitivinícola entrou em declínio e as grandes propriedades sofreram uma grande desvalorização, originando o seu abandono. Daí resultou o fracionamento dos latifúndios, para serem vendidos às parcelas às populações locais, sendo que, pela primeira vez, os habitantes do Pico tornaram-se donos dos terrenos onde sempre trabalharam por conta de outrem.
A Paisagem da Cultura da Vinha da Ilha do Pico está, também, marcada pelo desenvolvimento de uma outra atividade que decorria em simultâneo com a cultura da vinha – a cultura da figueira para a produção de aguardente. Resulta desta simultaneidade, muitas vezes, a coexistência de currais retangulares com currais semicirculares, estes últimos perfeitamente adaptados ao crescimento das figueiras, protegendo-as da influência perniciosa dos ventos fortes e do rocio do mar. Esta variante paisagística predomina essencialmente na costa norte da Paisagem da Cultura da Vinha, onde a exposição solar e as condições climáticas são menos favoráveis à produção de uvas ricas em açúcares.
E agora vou provar o famoso vinho da ilha do Pico.
Vinho Licoroso Seco, 2003.
É muito bom, claro. Eu não sou nada entendida em vinhos, mas este é mais parecido com um vinho branco do que com vinho licoroso. (Pronto, eu confesso: foi o funcionário do Centro que me ajudou com esta descrição).
Segundo a descrição que vejo no IVV – Instituto da Vinha e do Vinho:
Castas Brancas: Verdelho, Arinto (Pedernã) e Terrantez. Vinho licoroso branco, de aroma complexo a especiarias, encorpado e bem estruturado.²
Bom, e a viagem prossegue. O meu segundo destino é o Museu do Vinho, na povoação Madalena. Vou passar agora no aeroporto, conforme se vê no mapa. É quase tudo a direito, 38 metros de subida acumulada não é nada. Optei por um percurso pedestre. Vá lá, desta vez não me manda caminhar pela água, conforme mostrei na crónica 79.
Fui à casa de banho no meio duns arbustos, com coelhos a fugirem por todos os lados, pousei a máquina no chão, mas enleei o pé na alça. A máquina foi de rasto, na pedra áspera. Mas não foi agora que fiz isto. O facto de ter enleado o pé na máquina fez com que reparasse que está partida. Eu andava a notar a objetiva muito rígida, custava a encolher e a esticar, mas eu nem olhava a ver o que se passava. Talvez fosse um pouco de terra. Finalmente percebi porquê. Foi a tareia de ontem, a descer o Pico. Nem foi a subir, foi mesmo a descer que escorreguei algumas vezes, e a máquina andava ao ombro, sem bolsa. É uma máquina de guerra, conforme já disse antes. Agora vai andar assim. Continua a tirar boas fotos, é o que interessa. Nem tenciono arranjá-la. Enquanto funcionar, anda assim. Ela também já tem outra recordação de São Tomé e Príncipe, onde atirei a máquina ao ar, no alcatrão, e o filtro partiu-se, como contei na crónica 25 de São Tomé e Príncipe. Mas ficou a rosca do filtro, amachucada, que eu nem consigo tirar. Deixa-a estar também. Está sem filtro. Mas tem a rosca do filtro.
Cá estão os currais redondos, para a cultura da figueira. Eu irei provar o doce de figo, aqui da ilha do Pico, oferecido pelo meu alojamento, e é uma coisa extraordinária.
Cheguei a uma povoação chamada Toledos. É quase meio-dia. Estou cheia de fome. Se houver comida por aqui, almoço já aqui. Não me apetece comer uma barra de proteína, apetece-me comer comida a sério.
É já aqui. Nem vou pedalar mais até Madalena, e andar à procura de restaurantes. Vai ser já aqui. E claro que quero um hambúrguer especial corridas. É pouco, mesmo assim. Eu preferia um almoço completo, com arroz, batatas assadas, salada. Mas não pedalo nem mais um metro, sem comida.
Cumprimentei estes senhores. Acabei por não ficar com o seu nome. Expliquei-lhes que o meu destino final, hoje, é a Gruta das Torres. “Vai ter muito que subir!”, disseram-me eles. Subir? Pensava que era sempre a descer.
Bom, lá cheguei à conclusão que vi mal o caminho – vi ao contrário – desde a Gruta até Madalena é que é a descer. Desenhei o percurso ao contrário.
A minha localização está identificada pela seta azul. Estou em Toledos. O Museu do Vinho não está ali, mas fica a 1,5 km. Para a Gruta das Torres são 7,3 km, com 260 metros de subida acumulada. Enfim, ainda é uma subida considerável, e eu quero ir devagar, com calma. E tenho um horário marcado para estar na gruta: 15h30. A minha visita guiada é às 15h30, e é a última do dia. O funcionário que me atendeu, ao telefone, hoje de manhã, ainda perguntou se eu queria a visita das 14h. Eu expliquei-lhe que estou de bicicleta. E que levo tanto tempo a passear e a ver tudo, que é melhor optar pela das 15h, por segurança. Não posso falhar, portanto. Vou alterar o meu percurso de hoje: já não vou ao museu. Vou direta para a gruta.
Paguei 1,70€ pelo gelado e 1,20€ pelo néctar. Ficou tudo em 9,40€. Dado que costumo comer o prato do dia por 5 ou 6€, esta foi uma das refeições mais caras. Fast food nem sempre compensa. Mas soube tudo maravilhosamente bem. Falei com o dono do snack-bar, e ele explicou-me que a carne é mandada picar por si, e é ele que a tempera com chouriço, cebola e mais algumas coisas que são o segredo do negócio. Rimo-nos. Isto porque eu faço sempre a pergunta da praxe: são hambúrgueres congelados? Os hambúrgueres congelados, cheios de temperos, que nem se sente o sabor da carne, não gosto deles. Em minha casa, em Lisboa, mando picar a carne e tempero-a apenas com sal. O sabor da carne – e do peixe – apenas com sal, é muito melhor, mais puro. E claro que sou adepta da comida japonesa, com peixe cru.
¹ Costa, Sandra Silva (2016, 28 maio) “A “doença” de Manuel Serpa e o milagre do Pico”. Suplemento Fugas do Jornal Público. Página consultada a 12 janeiro 2021,
<https://acervo.publico.pt/fugas/noticia/ilhas-pico-a-doenca-de-manuel-serpa-e-o-milagre-do-pico-1733281>
² “DOP “Pico” (s.d.). Instituto da Vinha e do Vinho. Página consultada a 12 janeiro 2021,
<https://www.ivv.gov.pt/np4/291/>