065 – Faial – Horta
O topónimo Horta vem do apelido Hurtere:
Joss Van Hurtere, era filho de Leonard de Hurtere e neto de outro de igual nome. Os Hurtere eram governadores da terra de Wynendaele (hoje Wijnendale), no território de Torhout, na Flandres Ocidental.
Em 1465, Joss de Hurtere desembarca na ilha do Faial com mais 15 compatriotas, onde permanecem por um ano, com o intuito de descobrirem prata e estanho. A designação dada à ilha, até então, pelo Infante Dom Henrique, era “Ilha de São Luís”. Em 1467, Joss Van Hurtere regressa com uma expedição organizada com o fim de iniciar o povoamento. Junto dele, desembarcam Balduíno e Jossina, seus irmãos, e um primo de nome António. Foram estes os antepassados da genealogia da família Utras (ou Dutras).
Em 21 de Fevereiro de 1468, o Infante D. Fernando concede-lhe a Capitania do Faial. Em 29 de Dezembro de 1482, a Infanta D. Beatriz incorpora-lhe a ilha do Pico na sua capitania. A 15 de Outubro de 1484 é emitido um alvará que concede a Joss de Hurtere o foro de cavaleiro da Casa do Duque de Viseu.”¹
Os factos conhecidos sobre Joss van Hurtere são escassos e em boa parte contraditórios, mesmo quando se recorre aos registos que lhe são mais próximos.
O primeiro registo relevante conhecido foi incluído por Martin Behaim, que foi genro de Joss de Hurtere e que com ele viveu no Faial, numa relativamente extensa nota no seu Globo de Nuremberga. Contudo a nota apresenta contradições factuais que em muito reduzem a sua credibilidade. Da sua tradução podem-se extrair os seguintes factos sobre Joss de Hurtere: No ano de 1490 alguns milhares de pessoas tinham-se lá fixado, alemães e flamengos, capitaneados pelo nobre e respeitável senhor Jobst von Hürter, senhor de Moerkerken, na Flandres, meu querido sogro, ao qual os descendentes da dita duquesa doaram esta ilha [o Faial].
Uma segunda fonte coeva conhecida é o relato do médico Hieronymus Münzer (mais conhecido na literatura lusófona pelo nome latinizado de Hieronymus Monetarius de Feldkirch), também residente de Nuremberga, que em 1494 foi hóspede de Joss van Hurtere na casa que este mantinha em Lisboa. No seu relato apelida (em latim) o seu hóspede de Jodocus de Hurtere ou de Bruges e fixa em 1500 o número de habitantes da capitania, todos de língua alemã de Flandres.²
Tirei esta foto para mostrar o contraste entre as novas construções e as antigas.
Pico – o Titã, nome que aprendi na crónica 62, é a montanha mais alta de Portugal, com 2351 metros de altitude. Ali é a ilha do Pico. As ilhas do Faial e do Pico estão pertíssimo uma da outra.
Ermida em memória da erupção do Vulcão do Cabeço do Fogo, em 1672, um vulcão pertencente ao complexo vulcânico do Capelo. (Amanhã será o meu destino, lá chegaremos). A erupção foi acompanhada de violentos sismos, que destruíram as povoações à volta; no entanto não houve mortos. Somente dois curiosos terão morrido asfixiados devido à aproximação em demasia da corrente de lava.³
Leia-se esta descrição:
Da horrenda erupção vulcânica de Abril de 1672 existem memórias e relações que, apesar de não serem coincidentes, apresentam um aceitável cunho de veracidade. De uma “Relação dos tremores de terra e fogo que arrebentou na ilha do Faial” compilam-se algumas passagens que descrevem o que se passou e mostram o sofrimento que atingiu centenas de pessoas reduzidas a um estado de extrema pobreza só minimizada com o recurso à emigração para o Brasil.
Escreve-se, naquele documento, que “em terça-feira da semana santa, 12 de Abril do ano de 1672, pelas quatro horas da manhã começou a tremer a terra, e como seja coisa ordinária nestas ilhas não nos causou assombro”. Mas o que inicialmente não assustou, foi tomando tais proporções que na sexta-feira santa, depois de “recolhida a procissão do enterro, foi tão grande o terramoto das oito para as nove da noite que nos persuadimos se subvertia a ilha, não se ouvindo em toda ela, mais que entre o confuso rumor da terra, os brados e os lamentos com que todos imploravam a misericórdia divina”. Esta violenta crise sísmica iria durar vários dias, ficando “a terra em um contínuo balanço” e obrigando a que “todos deixassem as suas casas, fugindo para os campos” e abrigando-se em improvisadas barracas. Na madrugada do “Domingo da Pascoela, arrebentou o fogo na freguesia que chamam do Capelo, distante desta Vila [da Horta] pouco mais de três léguas e meia”.
Nesta descrição aponta-se o “Cabeço da Silva” como o local exato onde “arrebentou este incêndio” que se caracterizou pelas “chamas que subiam tão altas”, pelas “cinzas” que “em menos de duas horas” cobriram os matos e as searas, pelo “cheiro a enxofre” e pela emissão de lava, as apelidadas “ribeiras de fogo” que abrasavam “tudo quanto topavam”. Continuaram os abalos sísmicos e, na manhã do dia seguinte, a erupção alastrou, pois “o fogo arrebentou em três partes mais e com mais força que a primeira”.
Só no Domingo, dia primeiro de Maio, é que “cessaram os tremores, pelas cinco horas da tarde, com um terramoto tão horrível que, como havia de ser o último, dava o final arranco”. Havia 20 dias que a terra tremia – tudo se complicara a partir de 12 de Abril – e oito dias que rebentara o vulcão. Entretanto, prosseguia a erupção e no dia do Corpo de Deus eram já 42 “as ribeiras de fogo” que, felizmente tomavam o rumo do mar, pois se viessem para “dentro da ilha, acabava-se o Faial”.
Diz o anónimo cronista, cujo relato vimos seguindo, que “a perda que o fogo até agora tem feito é o isolamento total” do Capelo e da Praia do Norte, onde das 308 casas existentes, apenas se salvou uma, ficando “1.200 pessoas destruídas, sem fazendas, nem casas, nem cómodo na Ilha para poderem viver nela”.⁴
O casario da povoação e os seus campos ficaram completamente destruídos. No entanto, parece não ter havido perdas humanas a lamentar. Mas, foi “tal o pânico produzido pela catástrofe no espírito dos habitantes da Praia do Norte, que em ação de graças por lhe terem sobrevivido, fizeram voto de festejar o Divino Espírito Santo, dando em seu louvor, no dia de Pentecostes, 1 000 esmolas aos pobres, compostas de pão, carne e vinho, voto que se transmitiu de geração em geração”.⁵
Por outro lado, esta erupção demonstrando as precárias condições de vida da ilha, resultou na autorização régia para que saíssem com destino ao Brasil (Maranhão, Santa Catarina) 100 casais, totalizando ao todo cerca de 400 faialenses.³
Não se vê quase ninguém nas ruas. Todas as pessoas que vejo, fotografo-as. Senão as minhas fotos ficariam todas desertas. Já começa a haver turismo, após o término da quarentena da Covid-19, mas muito pouco. E os faialenses, apercebo-me, não são muito de andar a pé na rua. Aparentemente andam de carro. Não há 10 ou 15 segundos de pausa nos carros a passar na minha rua, no meu alojamento. Onde andam as pessoas? Dentro dos carros? Vão visitar a família? Os amigos? Vão ao supermercado? O que está tanta gente a fazer dentro de tanto carro? E as ruas praticamente desertas?
Antigo Colégio dos Jesuítas, e Igreja do Santíssimo Salvador. Esta igreja é um dos maiores templos dos Açores. De estilo barroco, é um bom exemplo da arte religiosa portuguesa do séc. XVIII. Destacam-se no seu interior os retábulos de talha dourada, os painéis de azulejos setecentistas, os púlpitos, o frontal do altar em prata lavrada e o arcaz da sacristia em pau-santo.⁶
Entrei na igreja, mas estava a decorrer uma missa, pelo que não tirei fotos. Encontrei alguns faialenses aqui dentro, portanto.
O Titã está sempre à espreita.
Igreja de Nossa Senhora do Rosário, construída em finais do século XVII. Está anexa ao Convento de São Francisco, do século XVI.
Loja do Chinês, inaugurada no século XXI. Ou terá sido no XX?
É aqui que vou comprar fita-cola preta para o selim da minha bicicleta. A fita-cola do Rato Cabinda – conforme contei na crónica 2 – tem portanto os dias contados. É simplesmente por uma questão de descrição. O selim é preto, convém ter fita-cola preta. Não faço tenções de comprar um selim novo. Para quê? No dia seguinte está estragado outra vez. O selim é feito de gel, muito fofo, mandei vir da Alemanha, e é bom para o rabinho da menina sentar-se, mas isto estraga-se num instante. Deixa-o andar com fita-cola.
Forte de Santa Cruz. Construído entre os séculos XV e XVII, é monumento nacional desde 1947. O Castelo de Santa Cruz teve um papel determinante, tanto na sua função terrestre, como na defesa da baía aquando da ocupação da ilha pelos espanhóis em 1583, nas invasões do conde de Cumberland em 1589 e do Conde Essex em 1596. No seu interior, onde existe uma capela de invocação a Santo António, funciona desde os anos sessenta do séc. XX, uma unidade hoteleira.⁷
O alojamento também coloca ao dispor dos hóspedes estes dois pratos de queijo. Estão no frigorífico. Das duas uma: ou os outros dois hóspedes não sabem, ou apenas eu quero comer queijo, porque só eu me servi destes pratos. No dia seguinte estavam iguais, como os deixei hoje, e comi mais um bocadinho. Os iogurtes, o leite e as bananas são meus. Aquele frasquinho tem mel. Uma preciosidade! Mel! E eu que gosto tanto de leite morno com mel. O frasquinho foi-me deixado para o meu pequeno-almoço. A Ana, dona do alojamento, veio às 20h30 trazê-lo. Eu a cair de sono. Esqueci-me de tirar-lhe uma foto até.
¹ ”Lanchas de Pilotos Joss Van Hurtere e Diogo de Teive na Horta” (2012, 6 maio) Blogue O Porto da Graciosa. In Governo dos Açores. Página consultada a 14 dezembro 2020,
<http://www.azores.gov.pt/Gra/SRMCT-MAR/conteudos/noticias/2012/Maio/Lanchas+Pilotos+Joss+Van+Hurtere+Diogo+Teive+na+Horta.htm?lang=pt&area=ct>
² “Joss van Hurtere” (s.d.) Wikipedia. Página consultada a 14 dezembro 2020,
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Joss_van_Hurtere>
³ “Vulcão do Cabeço do Fogo” (s.d.) Wikipedia. Página consultada a 14 dezembro 2020,
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Vulc%C3%A3o_do_Cabe%C3%A7o_do_Fogo>
⁴ “Praia do Norte. O fatídico vulcão de 1672 e a perda da independência da freguesia” (2017, 13 de abril). Jornal Tribuna das Ilhas, Horta, Faial. Página consultada a 14 dezembro 2020,
<https://tribunadasilhas.pt/praia-do-norte-1-o-fatidico-vulcao-de-1672-e-a-perda-da-independencia-da-freguesia/>
⁵ “Praia do Norte” (s.d.) Wikipedia. Página consultada a 14 dezembro 2020,
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Praia_do_Norte>
⁶ “Igreja Matriz” (s.d.) Turismo, Câmara Municipal da Horta. Página consultada a 14 dezembro 2020,
<http://turismo.cmhorta.pt/index.php/pt/oquevisitar/patrimonio/igreja-matriz>
⁷ “Forte de Santa Cruz” (s.d.) Turismo, Câmara Municipal da Horta. Página consultada a 14 dezembro 2020,
<http://turismo.cmhorta.pt/index.php/pt/oquevisitar/patrimonio/forte-de-santa-cruz>