074 – Regresso a Belém & Almoço Tardio
Cheguei ao táxi do Nelson às 13h45. Estão a arrumar tudo, e partiremos dentro de 15 minutos.
Ao centro está a Mulata. Trabalha aqui no hotel, tal como os restantes cinco passageiros. Estão todos perfumados e nota-se logo o seu desembaraço a lidar com os turistas em geral – e comigo em particular. O Nelson faz este serviço de trazê-los e levá-los para a cidade, nas suas folgas. A Mulata está muito contente, brinca com toda a gente, despede-se de todos, vai de férias. Hoje é 4ª feira, e ela só voltará na 2ª. São umas mini-férias. Perguntei-lhe se se importa que eu vá à frente, à janela, para poder tirar fotografias. Ela deixa-me.
E partimos às 14h. Para cá foram quase 3h, vamos ver quanto tempo será para lá. Eu ainda vou almoçar quando chegar!
“Este carro pertence-me” – disse-me o Nelson. Teve um acidente. Eu já o tinha visto ao vir para cá, mas foi muito rápido, não tive tempo de fotografá-lo, e agora ia atenta e preparada.
Os animais à beira da da estrada, a andarem livremente, deixam-me com os cabelos em pé. Porque os carros passam a grande velocidade. Vi dois cães mortos à beira da estrada, um para lá, outro para cá. E o Nelson estava a contar ao grupo que hoje de manhã morreu um bebé atropelado. A mãe estava a lavar no rio e pousou o bebé. Este gatinhou até um ponto em que veio um carro e o pisou e matou. Ficámos todos estarrecidos.
Apercebo-me claramente que a população não lida bem com estradas e carros e velocidade. Não percebem o perigo. Mesmo as crianças de 4 ou 5 anos a brincarem à beira da estrada. Consideram-na uma extensão dos seus quintais. Mas não é. Uma estrada é um potencial local de morte.
Vi um curral com pelo menos dez ou quinze vacas lá dentro. Não consegui fotografar.
A Mulata ao meu lado, no centro, vai a cantar as músicas da rádio. Vai mesmo contente. Não usamos cinto de segurança. Emprestei o meu power bank a um dos rapazes para carregar o seu telemóvel.
O mercado de Ribeira Afonso. (Mapa na crónica 71). São 15h34, já estamos perto da cidade.
Um dos rapazes disse que esta é uma praia famosa, e pediu ao Nelson para ele parar, de forma a que eu tirasse uma fotografia. É a Praia das Sete Ondas.
E aqui estou eu de volta à cidade de São Tomé. Chegámos às 16h15, levámos 2h15, portanto. O Nelson indicou-me que me trazia por 80 dobras, mas eu dei-lhe 100 como agradecimento. Safou-me, pois pelos vistos não há táxis tardios para a cidade.
Surpresa (mas uma má surpresa…): além de terem colocado óleo na corrente (sem eu estar a ver), lavaram-me a bicicleta. Gelou-me o sangue nas veias. A bicicleta não pode ser lavada de qualquer forma. Os discos têm que ser protegidos com um saco plástico. Se qualquer salpico de óleo vai parar aos discos, eu nunca mais consigo travar. Será necessário mudar os travões e os discos. Foi exatamente o que me fizeram em Timor (crónica 96), só me falta agora repetir-se tudo aqui em São Tomé e Príncipe. Estes não são mecânicos especializados em bicicletas – são mecânicos de motas. O modus operandi é totalmente diferente.
Perguntei ao mecânico o preço do óleo na corrente. Eu preferia ter visto a colocá-lo. Não devia ter dito que queria óleo na corrente, pensei que só fossem colocá-lo quando eu chegasse, comigo a ver. Porque se for óleo em spray – uma vez mais o spray não pode atingir os discos.
O mecânico pediu-me 50 dobras por tudo. Recusei. Provavelmente vou ficar sem bicicleta, não pedi este serviço e não quero pagar 50 dobras. Quanto é o óleo na corrente?, voltei a perguntar. Ofereci dez dobras. Ele ficou contrariado. Dei 20 e fui-me embora com a bicicleta pela mão, até aos táxis para Belém. Preciso de alimentar-me, preciso de almoçar, irei ao restaurante ao lado do meu hotel, e depois verificarei a bicicleta numa descida, se trava ou não trava.
Eu nunca posso perder a bicicleta de vista – é a regra de ouro nestas viagens. Porque as pessoas fazem-lhe mal sem sequer saberem, sem intenção disso.
Não fiquei com o nome deste galã que me abordou na praça de táxis. Ele foi tão direto – e por isso digno de grande mérito – que me apanhou desprevenida, até me esqueci de perguntar-lhe o nome. Tivemos uma conversa de 3 ou 4 minutos muito engraçada, até que finalmente o meu táxi reuniu as 6 pessoas necessárias e parti. A nossa conversa não sei como começou, só me lembro de lhe ter respondido à questão habitual – sim, tenho namorado. Os namorados trocam-se!, disse-me ele. Eu ri-me. É verdade, os namorados trocam-se mais facilmente do que os maridos, mas é só fim de algum tempo, quando vem a rotina e o cansaço! Ah, então, o teu namorado é recente – atirou logo ele. Cheguei tarde, portanto! – acrescentou, resignado. Já cheguei tarde!
Eu soltei uma gargalhada.
Cheguei às 16h45 ao restaurante existente ao lado do meu hotel. A minha primeira refeição na ilha de São Tomé veio daqui, foi o Célio Santiago que a encomendou, apesar de eu a ter comido no alpendre do hotel, nesse dia (na crónica 35). Será que agora me servem a esta hora? Isto nem é almoço nem jantar, isto são horas do lanche.
Uma criança foi chamar a dona – que se chama Nelta – nesta foto. As crianças chamam-me brrranca, carregando nos “R’s”. Rute, eu chamo-me Rute!
Só há atum assado com banana, que pode ser cozida ou frita. Maravilha. Escolhi frita. Entretanto fui ao quarto vestir uma tshirt e uma camisola de manga comprida por cima. Eu fui de manga à cava ao Ilhéu das Rolas.
Estou mais cansada hoje de andar de carro, do que se tivesse andado um dia inteiro de bicicleta.
E como eu temia, a bicicleta chia imenso e não trava bem. Mas para já vou comer. A bicicleta fica no quarto, sem mais uso por hoje. Terei que limpar muito bem os discos com papel higiénico e torcer para que corra tudo bem.
Esta posta de atum assada, com a banana acabada de fritar (ainda veio um segundo prato de banana, que eu recusei; pedirei apenas mais três batatas – enganei-me – três palitos de banana para acabar o peixe) caiu maravilhosamente bem.
Comprei dois pãezinhos aqui no restaurante (também têm pão – umas carcaças enormes), 45 dobras tudo.
Vi-me grega para conseguir alimentar esta alma. É que as galinhas roubam-lhe a comida! Tenho que defendê-lo das galinhas! Aliás, eu tenho que defender-me a mim própria das galinhas, pois uma delas subiu pela mesa e veio a correr em direção ao meu prato. Eh lá!
A Nelta veio enxotar esta malta toda, mas eu disse que não é preciso, gosto de ter os animais à minha volta.
São 17h31, cai a noite. Finalmente recolho-me no resort. E a partir de hoje vou ter um segurança nesta casa exterior. O Célio Santiago – dono do resort – foi a Portugal. Deixou o segurança a tomar conta da casa (e de mim, pelos vistos). Cumprimentámo-nos.
Chama-se Abílio Fernandes. Trocámos de número de telemóvel.
Hoje tenho companhia na casa de banho. Já tenho uma amiga osga gordinha, que deve estar algures no quarto (mostrei-a na crónica 69). E agora tenho esta companhia nova na casa de banho. Bem felpuda. Osgas gordinhas e aranhas felpudas. Numa ilha tropical não se faz por menos. Em baixo é a minha sandália. A aranha é da largura do meu pé. Coitadinha, tão ingénua e indefesa. É só eu levantar a sandália e era uma vez uma aranha. Mas não, eu vou partilhar uma vez mais a minha privacidade – desta vez na casa de banho – com esta criatura de deus. Ela observa-me pacatamente. Os seus olhos brilham.
Comi bananas. Pus as restantes no frigorífico, andam mosquitos a voar ao seu redor e em breve estarão maduras demais.
Aparentemente já não preciso mais de pensos nos pés, as feridas fecharam por completo. Hoje a entrar e sair do barco disse ao Carlos, o capitão do barco, que não queria molhar as sandálias. Só me faltava fazer novamente uma caminhada num ilhéu com as sandálias molhadas, nããão!…
O Leonaldo, de Neves (da crónica 66), mandou-me uma mensagem pelo Whatsapp a desejar boa viagem. Convidou-me a visitá-los no local de ontem, e eu respondi que ia para Porto Alegre.
Cumpro o meu trabalho noturno habitual antes de deitar-me: encher as garrafas todas. Já gastei quase três garrafões de 6 litros, em 9 dias. Mais as garrafas que vou comprando pelo caminho, durante o dia – cumpre a minha média habitual, 3 litros de água por dia.
Às 20h adormeci a selecionar as fotos. Nem consegui fazer um trabalho como deve ser, pelo que desisti e fui dormir. Antes o segurança Abílio ouviu-me abrir a porta intempestivamente, e disse “calma, estou aqui, não é preciso precipitações”. Até me ri. É que eu abri a porta e esqueci-me que estava fechada à chave, fiquei a forçar a porta. E também tenho que fechá-la sempre que saio para os mosquitos não entrarem. Pus spray no quarto enquanto tomava banho. No único dia que não o pus, foi o dia em que fui incomodada durante a noite.
Tenho que enviar as fotos pelo Whatsapp ao Carlos, do barco, e ao Dionísio, da moto. Mas hoje já não consigo sequer vê-las e selecioná-las.
Adiós, bye-bye, farewell.