096 – Avaria na Bicicleta, Regresso Forçado a Kupang

Às 8.30h apanhámos o Rui, o qual será o nosso guia pela estradas rurais até Kefa. Aqui os três vão tomar o pequeno-almoço (o próprio Rui, o Valério e o Sanches).

Neste restaurante não há facas. Os três estão a comer com garfo e colher.

E aqui mandaram embalar o nosso almoço. Vamos comer pelo caminho.

Não conseguimos identificar esta árvore. Se alguém souber o nome do fruto pelo menos, que me diga, p.f., e eu atualizarei estas crónicas de acordo. O Valério ainda levou dois frutos no tabuleiro da pickup, no entanto apodreceram rapidamente. Disse-nos que em fataluco, a língua de Lospalos, chamam-se “Calaboço”. Pelo menos assim percebi.

São 9h e dou início ao passeio de bicicleta de hoje. “Selamat Datang” significa “bem vindo”.

Fiz 5 km na bicicleta e tive de parar. A bicicleta deixou de travar e faz imenso barulho a travar. Experimentámos os dois pneus.

Nada feito, chia que se farta e só trava ao fim de meia hora. É um bocado perigoso, sobretudo quando for a descer montanhas. Quando chegar a uma ravina e não conseguir travar… seria lindo se eu voasse. Voltamos portanto a Kupang, para irmos a uma oficina.

35 minutos depois chegámos a esta oficina. É preciso comprar pastilhas novas, indica o mecânico. O que eu duvidei imenso. A bicicleta estava a travar muitíssimo bem, como é que de repente deixa de travar completamente? Não houve desgaste gradual, foi súbito? Mas enfim, quem sou eu.

Como aquela oficina não tem peças, tivemos de meter-nos na pickup e ir ao centro de Kupang comprar as pastilhas novas. São duas horas de caminho, no meio do trânsito lento e infernal de Kupang.

A polícia mandou parar o camião com gado.

Novamente câmbios.

Quase ao meio dia chegámos à loja das bicicletas, com donos chineses, loja esta que tem a sua própria oficina.

O dono da loja (ou o filho?) a vender-nos as pastilhas.

Uma hora depois estamos de volta à oficina, desta vez já com as pastilhas novas.

Eu pedi para ir à casa de banho, ao lado da oficina. Tradicional, com o habitual tanque de água e o recipiente de plástico com uma pega para verter a água na sanita (embutida no chão, os chamados “vasos sanitários de agachamento”, ou em inglês “squat toilet”).

Como eu calculava, o problema não é das pastilhas. A bicicleta já tem pastilhas novas e continua sem travar. Faz uma chiadeira enorme e só trava meia hora depois. Agora é o óleo dos travões. Esta bicicleta tem travões hidráulicos, como a minha em Lisboa. Mas nesta oficina também não há líquido para os travões da bicicleta, e nós acabámos por não trazer o óleo da outra oficina, pelo que o mecânico optou por colocar um líquido das motas. Já não sei nem quero saber. Estou a ficar muito aborrecida. A trabalheira que a bicicleta nos está a dar, porque o senhor mecânico em Díli achou por bem tirar-me a jante de origem e pôr-me uma traquitana. Se eu imaginasse tal, nem teria posto os pés na oficina, quando voltei a Díli. Continuaria com as mudanças desafinadas, com os pedais de encaixe, e pronto.

Desistimos desta oficina e concordámos todos em voltar à loja das bicicletas em Kupang, onde existe uma oficina especializada. São duas da tarde.

Pertamax, Premium e Pertalite são gasolinas com diferente grau de octanas. Solar e Dexlite são dois tipos de gasóleo, sendo o Solar o de menor qualidade. Segundo o site “TransportPolicy.net”, citado abaixo, a Pertamax tem 91 octanas. A imagem diz 92, não sei. A gasolina Premium tem 88 octanas. A Pertalite tem 90 octanas. Existe uma “Pertamax Plus” com 95 octanas, que não consta neste placard.¹

De volta à loja e oficina das bicicletas. São 3 da tarde. Estas bicicletas penduradas na parede têm o preço de cem euros, aproximadamente.

A foto ficou desfocada, mas em cima da caixa está o nosso almoço, o que comprámos de manhã.

Eu estou tão sorridente porque sorrir para as fotos já é automático, está visto. Efetivamente eu não estou contente. Eu estou possessa. Um dia inteiro perdido. A esta hora era suposto eu já ter feito 30 ou 40 km de bicicleta pelo campo, a passear e a tirar fotografias calmamente, e ainda não saí desta barulhenta cidade sem graça nenhuma, a andar para trás e para a frente na pickup à procura de peças. Bom, pelo menos vou comer. E a comida até é bastante saborosa, disto não me posso queixar. Tenho na mão um cubo gigante de arroz, embrulhado em folhas de bananeira e papel. Nos saquinhos de plástico está o resto da comida. São 4 pacotes de arroz porque somos 4. E há três saquinhos a mais, com umas quaisquer iguarias excedentes.

Se isto é aborrecido para mim, que estou de férias, imaginem para quem está a trabalhar. Agradeci aos três a paciência e o trabalho que estão a ter.

Nesta oficina – finalmente especializada e entendida na matéria – agora tiveram de desfazer o que a outra oficina fez. Claro que o líquido que puseram nos travões não é o adequado. Foi necessário retirá-lo e lavar tudo muito bem. E as pastilhas não tinham problema nenhum. Qual é o problema então? Porque é que a bicicleta não trava??

E foi o dono da loja – este rapaz chinês – quem descobriu o problema. (Creio que é chinês, eu sou uma nulidade a identificar as nacionalidades pelos olhos). O Ronaldo ontem pôs aquela pasta gordurosa na jante. Ora gordura e travões nunca resultaram bem em conjunto. A gordura ter-se-á espalhado por onde não devia. A bicicleta deixou de travar. Portanto o dono da loja descobriu que a única forma de resolver o problema é comprar uma jante nova outra vez, e também um disco novo.

E assim foi.

Entretanto anoiteceu e os pais começaram a chegar com as crianças, ao final da tarde, para lhes comprarem as prendas (de aniversário, certamente).

Eles partem felizes, com as suas novas bicicletas, e eu parto (feliz também, no meio desta chatice toda?) porque a minha bicicleta finalmente está arranjada. São quase 19h. Perdemos um dia inteiro nesta viagem. Hoje fiz 5 km na bicicleta e 154 km na pickup. E agora tenho cinco pneus e sete jantes. Cinco pneus e sete jantes! E mais umas câmaras de ar. É que ainda levamos uma jante e disco extras para o caso de haver algum vestígio de óleo que suje a nova jante e disco. É o que dá tentar remediar a coisa com amigos. O Ronaldo tentou ajudar-nos e acabou por fazer-nos passar um dia na oficina. Relativamente ao mecânico em Díli, que nos meteu em todo este sarilho ao trocar o pneu sem dizer nada a ninguém, eu perguntei ao Valério se ele ainda tem a catana na pickup. O Valério riu à gargalhada.


¹ “Indonesia: Fuels: Diesel and Gasoline” (s.d.). TransportPolicy.net. Página consultada a 21 Janeiro 2019,
<https://www.transportpolicy.net/standard/indonesia-fuels-diesel-and-gasoline/>

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