119 – Graciosa – Jorge Gomes & Caldeiras da Ribeirinha
A chegar ao meu terceiro destino de hoje: Jorge Gomes. Não há grande informação na internet sobre este topónimo, mas aí vai o que encontrei:
Jorge Gomes de Ávila Capitão-Mór nasceu por volta de 1453, na Ilha Graciosa. Casou-se com Catharina da Silveira em 1484, na Ilha Graciosa. Foram pais de pelo menos 1 filho e 1 filha. Ele morreu em Portugal.¹
Não se vê vivalma – a não ser este gato – mas ouve-se grande algazarra no final deste corredor. Chamei várias vezes. Bom dia! BOM DIA! BOM DIA!
Qual quê. Não me ouvem.
À porta de casa, o carro tem as janelas abertas, para estar arejado, pois claro. Quem é que vai roubar um carro na ilha Graciosa? Não tinha muito onde se esconder. Vou meter-me pelo corredor. Se houvesse algum cão que me atacasse, já teria vindo, com a minha gritaria.
E então apareci aqui às habitantes de Jorge Gomes, que ficaram surpreendidas por verem aparecer uma mulher sozinha, de capacete na cabeça; mas rapidamente reagiram e ofereceram-me fruta e bebida. Mas há mais:
Estive algum tempo sentada aqui na sala, a conversar com todas estas graciosenses. Comi a pera que tenho na mão. (Mais outra pera deliciosa, vinda sabe-se lá de onde).
Então apresentemo-las. Da esquerda para a direita:
Joana: é filha da Ana, que está na ponta direita. Falta-lhe conhecer três ilhas dos Açores: Santa Maria, Flores e Corvo. Esteve seis vezes nos EUA: Boston, Nova Iorque, Lowell – onde há muita gente dos Açores, contou-me; e Peabody (Boston, Lowell e Peabody ficam em Massachusetts).
Depois está a Neuza. Mora na Luz (onde falei com a Mónica, na crónica 114); está de visita às amigas e pernoita cá. Nasceu na ilha Terceira por causa dos partos. Aqui na Graciosa não se fazem partos. Agora vai-se um mês antes para a ilha Terceira ou para São Miguel para ter bebé, a parturiente é que escolhe. Se tiver família numa das ilhas pode querer ficar com a família, por exemplo. A companhia aérea Sata não quer menos tempo por causa do risco de nascer no avião. À Neuza falta-lhe conhecer as mesmas três ilhas da Joana.
Depois vem a Paula. É irmã da Joana, filha da Ana. Faltam-lhe conhecer quatro ilhas: Corvo, Flores, Faial e Santa Maria.
Na ponta direita está a Ana, que ainda lhe falta conhecer muitas ilhas. Conhece São Miguel e Terceira, e nasceu aqui na Graciosa. Sempre viveu na Graciosa. A Ana tem três filhas e um fulho (não é filho, é “fulho”, com a pronúncia graciosense). Esta povoação chama-se Canada Jorge Gomes, da freguesia de Guadalupe, diz-me.
E as raparigas mais novas explicam-me que aqui nos Açores o “Cartão Jovem” permite fazer a viagem por 15€ para qualquer ilha, até aos 30 anos de idade. Têm que despachar-se!, disse-lhes eu. Não deixem chegar à idade máxima, este preço é imperdível!
As três raparigas vão agora tomar café a Santa Cruz, no carro. A Ana queria dar-me água mineral, mas eu mostrei-lhe que ainda tenho um cantil e meio de água, não é preciso, e agradeci.
Despedimo-nos todos, depois deste simpático acolhimento, e prossegue a viagem.
– Então, burrinho, vives aqui na ilha Graciosa!
– Sim, Rute, vieste cá visitar-me?
– Sim, burrinho, vim ver-te, eu sabia que moravas aqui e vim ver-te. Deixa-me fazer-te uma festinha.
– Tenho que ir-me embora, burrinho, não posso ficar aqui todo o dia a fazer-te festinhas. Tenho de ir conhecer outras terras.
– Está bem, Rute, que pena.
– Vive bem, burrinho.
Esta povoação chama-se Caldeiras da Ribeirinha.
E aqui está a Maria de Lurdes.
A Maria de Lurdes conhece a ilha das Flores (quando era criança o pai foi trabalhar para lá, explicou-me) e também esteve no Canadá.
Não tem bananas mas ofereceu-me uma bolachinha.
O vizinho Tiago passou entretanto, e claro que também foi fotografado.
O pacote de bolachas estava selado e a Maria de Lurdes queria dar-mo todo. Mas eu expliquei que não quero andar carregada. Pedi-lhe para ser ela própria a abrir o pacote, pois eu não tenho as mãos lavadas, e dar-me duas ou três bolachas. Posteriormente a Maria de Lurdes insistiu para eu comer mais, e eu comi mais duas ou três. Já não sei porque estamos aqui a rir. Acho que era o insólito da situação: aparecer uma estranha – em Caldeiras da Ribeirinha – e papa-bolachas.
Ali é uma povoação chamada Ribeirinha, explicou-me a Maria de Lurdes. E eu despeço-me, agradeço as bolachinhas e prossigo viagem em direção ao meu terceiro destino de hoje: Guadalupe. São agora 14h22.
¹ “Jorge Gomes de Ávila Capitão-Mór” (s.d.). FamilySearch. Página consultada a 7 março 2021,
<https://ancestors.familysearch.org/en/LH7Y-6BY/jorge-gomes-de-%C3%A1vila-capit%C3%A3o-m%C3%B3r-1453>