045 – Corvo – Tarde de Praia

Hoje é 2ª feira, está fechado, mas voltarei cá noutro dia. Afinal de contas vou estar 6 dias aqui na ilha do Corvo.

Foquei propositadamente no gato. Já vamos ver o chafariz mais à frente.

Efetivamente não estou a gostar do que ando a ver, em termos de animais. Muitos gatos em más condições. Este tem um problema no pêlo e nos olhos. Salve-se quem puder. Aparentemente não há uma política em relação a animais silvestres. Não há campanhas de esterilização para acabar com isto duma vez por todas. Não é um bom cartão de visita para o turismo. Desagrada-me e tolda-me o prazer de andar nas ruas. Amanhã vou para a montanha, não quero mais ver isto.

Virei posteriormente a falar com uma rapariga açoriana de outra ilha, que completou a universidade no continente e vai agora seguir o mestrado, em que ela me disse que aqui nos Açores os gatos são tratados como ratos. Sim, é verdade, apercebi-me disso. Além da campanha de esterilização, portanto, também será necessária uma campanha de sensibilização das pessoas para os maus tratos com os animais. Não só aqui na ilha do Corvo, mas em todas as ilhas por onde passei. Não é um ponto a favor, não.

Naturalmente que há exceções. Felizmente conheci açorianos que têm gatos e que os mimam, que gostam deles, que têm cuidado. Mas estas ruas não estão a demonstrá-lo. “Não é meu” – responderam-me algumas vezes. Bom, eu também não tenho gatos, mas não impede de dar-lhes comida quando é necessário, quando aparecem nos telhados. E mais: esterilizá-los com o apoio de associações de proteção animal, como a “Animais de Rua”, que colabora frequentemente com as Câmaras Municipais em campanhas de esterilização. Montam as armadilhas, apanham os gatos, levam-nos ao veterinário para esterilização, tratam do processo todo; têm formação sobre como fazê-lo. E os animais ficam com a ponta da orelha cortada como identificação de que já foram esterilizados. Fica aqui o apelo às entidades responsáveis, nomeadamente a Câmara Municipal do Corvo: que estabeleçam um protocolo com essas associações de proteção animal, experientes na matéria, para acabar com este cenário horroroso. Se se controlam as ninhadas em grandes ambientes urbanos, mais facilmente se controlarão numa pequenina ilha.

Chafariz da Fonte de Cima, foi o primeiro a ser construído na Vila, em 1836. Podem observar-se quatro áreas distintas: bebedouro para animais; chafariz onde se podia recolher água para os mais diversos usos domésticos; lavadouro com seis tanques, onde as mulheres lavavam as roupas; e uma pia de pedra única, onde se lavavam as fraldas, a roupa dos doentes e as lãs acabadas de tingir.
Com a construção deste espaço, melhorado em 1891 graças à ação da Comissão de Melhoramentos, formada no ano anterior e liderada pelo Padre José Machado Gregório de Mendonça, garantiu-se pela primeira vez um acesso cómodo a água potável.
Em 2016 o chafariz da Fonte de Cima foi reabilitado pela Câmara Municipal, que procurou aproximá-lo da sua aparência original, com base num registo fotográfico do final do século XIX.¹

Testei ambas as torneiras – que como se pode ver, funcionam.

A casa do Corvo resulta de um conjunto de transformações e aperfeiçoamentos que tiveram lugar ao longo do tempo, conhecendo períodos mais ou menos intensos sendo que a primeira referência que encontramos é da autoria de Gaspar Frutuoso, no século XVI, que nos fala de “casas palhaças”, aludindo à sua cobertura (palha).
As alterações mais profundas datam do século XIX e é a partir daqui que vai tomando forma a casa vernácula do Corvo, cuja tipologia é bastante distinta: construção em alvenaria de pedra vulcânica, por vezes revestida a argamassa, de planta retangular ou em “L”, dois pisos e cobertura de duas águas em telha de meia-cana. No piso inferior localizavam-se a cozinha, onde o forno de lenha era uma constante, e as lojas, onde se guardavam as alfaias e se abrigavam os animais, tendo aquelas comunicação interior através de uma porta, mas também um acesso independente pelo exterior. No piso superior localizavam-se os quartos e a sala, sendo o acesso feito pelo exterior, dinâmica que é alterada pela introdução das escadas interiores. No exterior encontravam-se o curral e o chiqueiro dos porcos.²

De volta ao meu alojamento. Vou vestir o biquíni.

Sim, vou mas é apanhar sol, relaxar. E tenho companhia de ciclistas, está visto.

Os dois casais do Porto, que conheci na Baía da Alagoa, na crónica 39!
A toalha azul, na areia, foi-me emprestada pela Vera, a dona do meu alojamento.

A minha bicicleta sempre à vista, pois claro. Só não a levei para a toalha comigo porque me dava muito trabalho.

Dentro de água, lá ao fundo, vão a Elvira e o Paulo, o casal de Ourém que conheci igualmente na Baía da Alagoa, na crónica 39! Também decidiram vir hoje à ilha do Corvo, mas vieram noutro barco.

O casal de Ourém. Contaram-me entretanto que ontem, na ilha das Flores, fizeram 23 km de Santa Cruz até Ponta Delgada, a caminhar, e depois beberam duas cervejas e voltaram para casa de táxi. Ah valentes!

Entretanto foram-se todos embora, às 15 e tal, pois tinham o barco de regresso à ilha das Flores às 16h. Fiquei com a praia só para mim. Há duas raparigas lá muito ao fundo, apenas, estendidas na areia.

No primeiro dia corro as mercearias todas da ilha do Corvo. Agora ando em busca de doces regionais. Os micaelenses – ou seja, da ilha de São Miguel – habituaram-me mal. Deram-me docinhos bons, típicos. Já os comi todos e agora quero mais. Perguntei à Vera, a dona do alojamento, onde poderia encontrá-los, e ela indicou-me esta mercearia. O único doce regional que têm são queijadas de Vila Franca do Campo, também da ilha de São Miguel, e foram essas mesmo que comprei. Estão ali na terceira prateleira a contar de cima.

Agora dei 38 km / hora. Decididamente só pode ser na descida em reta para a praia.

Aqui é a sala dos pequenos-almoços.

E no meu caso, dos lanches também.

Foi um duplo lanche. A seguir à torrada apeteceu-me isto, que a Vera deixa ao nosso dispor. Não comi a maçã, acabou por não me apetecer.

Há mais dois quartos ocupados, com quatro pessoas que chegaram hoje também: três senhoras com uns 60 ou 65 anos de idade e um rapaz mais novo. São turistas açorianos – da ilha do Pico. Quando cheguei às cinco da tarde estavam a ver televisão, com a porta do quarto aberta. Eu fechei a porta deles depois de pedir, para não ouvir a sua televisão. Eu não tenho televisão em casa, em Lisboa, não estou habituada ao som da televisão, e efetivamente não aprecio; quero silêncio.

Adormeci às 21h e nem consegui terminar a revisão das fotos. Andei a estudar percursos aqui na ilha. Amanhã espera-me outro magnífico dia, com certeza. Irei ao famoso Caldeirão do vulcão. Só espero que não esteja nublado, para eu conseguir vê-lo.


¹ “Lavadouro” (s.d.) Ecomuseu do Corvo, Panfleto. Circuito Interpretativo, Vila do Corvo. Governo Regional dos Açores. Panfleto consultado a 12 novembro 2020.

² “Casa do Corvo / Canada do Maurício” (s.d.) Ecomuseu do Corvo, Panfleto. Circuito Interpretativo, Vila do Corvo. Governo Regional dos Açores. Panfleto consultado a 12 novembro 2020.

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