041 – Flores – Santa Cruz & Regresso à Fajã Grande
Vou dar uma volta por Santa Cruz, e depois chamo um táxi para levar-me de volta à Fajã Grande. São agora 15h01.
Só mais tarde vim a descobrir que afinal neste edifício – Convento de São Boaventura, do século XVII – é que fica o Museu das Flores. Eu não sabia. Vi o outro edifício lá em cima a dizer “Museu”, em letras bem grandes, fechado. E o GPS diz que o museu é lá. O GPS não aponta para aqui. E este edifício não diz “Museu” em lado nenhum. Eu não fazia ideia que afinal o museu é aqui. E está aberto. Não o visitei. Ainda por cima falei com aquelas duas pessoas que estão à porta – perguntei-lhes se existe alguma casa de doces típicos por aqui. Apetecia-me uma sobremesa com doces típicos. Responderam-me que não, que são doces normais, não são regionais.
Portanto, estive à porta do Museu das Flores, cheia de tempo, aberto, e não o visitei porque não sabia que aqui é o museu. Simplesmente ia tendo um ataque cardíaco quando descobri isto, já em casa. Na altura pensei que fosse algum edifício da Câmara, algo oficial, nada para visita de turistas, com aqueles vidros escuros e papéis afixados à porta, talvez editais.
Está tudo deserto em Santa Cruz, e é tão raro eu ver pessoas, que à mínima chance fotografo quem vejo. Aqui até fotografei a igreja com uma pessoa a passar, quando em circunstâncias normais evito fazê-lo, espero que a pessoa passe. Aqui até me apressei, e cortei-lhe os pés, mas mantive a foto.
A ilha do Corvo lá ao fundo. E a máquina focou nela, pelos vistos.
Aí vem o meu táxi. Fui à internet procurar e encontrei o contacto do Sílvio; expliquei-lhe que tenho uma bicicleta, e aí está ele.
O Sílvio nasceu para estas coisas de turismo e turistas. É aqui das Flores – é florentino, portanto – viveu uns anos na América com os pais, depois voltou para as Flores e tem este serviço de táxi e tours há 29 anos.
Foram 22 km, 20€. Este é um preço normal, está de acordo com o tarifário definido pelo Governo Regional dos Açores, o qual já referi na crónica 5. Na primeira viagem aqui na ilha, quando cheguei ao aeroporto de Santa Cruz das Flores, paguei 29€ pelos mesmo 22 km.
A minha casa é a porta de cima, à esquerda. São agora 16h09. Hoje não preciso de desmontar a bicicleta, o que me traz grande alívio. Amanhã a viagem é de barco, para a ilha do Corvo, a bicicleta não precisa de ser desmontada, nem os pneus esvaziados. Respiro de alívio.
Cá está a Márcia, que trabalha na receção dos alojamentos onde eu estou. Já tinha aparecido na crónica 11, mas de máscara. Ouviu-me chegar e veio despedir-se. Amanhã de manhã parto cedo para a ilha do Corvo. Pedi-lhe para retirar a máscara por uns segundos, só para esta foto.
Também tenho quatro frasquinhos de doces feitos na ilha de São Miguel oferecidos pelo alojamento: laranja dos Açores, maracujá dos Açores, tomate, e amora, os quais acabarei por não consumir aqui nos Açores, mas que levarei comigo para Lisboa. Todos deliciosos. O de maracujá dos Açores é uma especialidade.
Vou dar ali uma voltinha de despedida. Visitei o cemitério de madrugada, na crónica 31, era quase noite, vou vê-lo agora à luz do sol.
Repare-se nas datas do túmulo da direita:
À memória de Maria Amélia Greves
Nasceu 23-1-1882
Faleceu 13-1-1980
Saudosa recordação de seus filhos
Viveu quase um século!
Em contrapartida, no túmulo da esquerda, a Maria do Céu Cardoso viveu apenas 37 anos. Nasceu em 1906 e morreu em 1943. Deixou uma filha: “Saudosa recordação de sua filha Edna”.
Como é triste e efémera, a vida. Temos que aproveitar tudo o que podemos. Enquanto podemos. Quando eu estiver a morrer, se me der conta disso (se não tiver a sorte de ser algo rápido que eu nem tenho tempo de pensar em nada), quero pensar “Ao menos aproveitei tudo o que pude”. Até à última gota da minha energia, até ao último tostão.
Tenho a porta escancarada até às 18h15. Depois de tomar banho fiquei a selecionar as fotos, estendida na cama, a descansar também, antes de ir fazer as malas. Faz sol e uma grande ventania. Vento 23 km/hora, diz a meteorologia. Para manter a porta aberta, sem ela se fechar com grande estrondo, coloquei as minhas sandálias a prendê-la, no chão. São pesadas, as sandálias. Protegem-me os dedos, mas são pesadas.
Deitei-me às 22h. Antes ainda estudei o mapa do Corvo também.