027 – Santa Maria – Miradouro do Barreiro & Miradouro da Baía São Lourenço

Ela refilou imenso por eu estar aqui, pressuponho. Urrou imenso.

Este senhor chama-se José Sousa Bairos (não é “Barros”, é “Bairos”!). O outro senhor lá atrás vai meter-se na carrinha e vai atrás das vacas e do José, que as acompanha pela estrada.

Este é um trilho pedestre, oficial, mas eu não vou seguir por ele. Este trilho, pelo que percebo, vai dar mesmo à Baía. Mas eu quero vê-la de cima, de algum ponto alto.

Transcrevo o início desta placa:

A Paisagem Protegida da Baía de São Lourenço aconchega em si o ponto fulcro da ilha de Santa Maria, sendo conotada como sua “sala de visitas”, e relevada como um dos cartazes para a promoção turística dos Açores.
A Baía de São Lourenço está implantada em escoadas lávicas do Complexo do Pico Alto, de idade Pliocénica (4-1,8 milhões de anos), e na base da arriba que a forma existem importantes depósitos de vertente que, tal como as areias da praia, datam do Holocénico (<10 000 anos). Na Ponta Negra, quase ao nível do mar, encontram-se fósseis marinhos, únicos nos Açores, do período do Miocénio (8-4 milhões de anos).
A soberba paisagem protegida da Baía de São Lourenço, traduzida numa concha ridente de formosura estonteante, conduz ao deslumbramento e à contemplação quando apreciada dos vários miradouros que a encimam, mas muito mais deslumbra, quando se entra nela encosta abaixo, através do trilho histórico da Fajãzinha, descobrindo-se e apreciando-se as suas riquezas e belezas, “passo-a-passo”.
O famoso zoólogo francês Henri Drouet, que esteve em Santa Maria em 1857, considerou a ilha como a “mais bela e graciosa de todas”, tendo expressado que “a descida pela audaz escadaria da Fajãzinha, conduziu-me à descoberta de um verdadeiro paraíso”.

Umas vaquinhas muito lindas que andam aqui a passeaaaaaaar!… – cantei-lhes. E aquela que está de lado está a responder, a fazer “muuu” enquanto eu canto. Sim, porque elas respondem. Já há muito tempo que sei que as vaquinhas são sensíveis à música. Desperta-lhes a atenção. Vi um vídeo duma pequena orquestra a tocar na estrada, para algumas, e elas vieram imediatamente e reuniram-se na beira da estrada, dentro da sua cerca, e ficaram a ouvir. Já está provado que estes animais são sensíveis e inteligentes. Temos de ter cuidado no seu tratamento. A sua morte, para alimentar os humanos, tem de ser feita com muita atenção e exigência, para elas sofrerem o menos possível – ou nada mesmo.

Para os eternos velhos do restelo que me perguntam “Se estás sozinha, quem é que te tira as fotos?…”.
Cantei em alto e bom som, que ecoou bem longe, enquanto a máquina fotográfica disparava uma dúzia de vezes.

Eu ando perdida. Já fui para a frente, já voltei para trás. O GPS manda-me para um caminho inviável, cerradíssimo de vegetação. Não pode ser por ali. Foi este senhor (com quem me cruzei há pouco, juntamente com o José Sousa Bairos…) quem me indicou a entrada para o miradouro que eu procuro, para ver a Baía de São Lourenço de cima.

A bicicleta fica aqui presa com o cadeado, eu prossigo a pé.

Repare-se na praia de areia clara. Outra das raras dos Açores, juntamente com a Praia Formosa, que mostrei na crónica 20. Santa Maria é a ilha mais antiga dos Açores, com oito milhões de anos de idade, o que permite a existência de zonas de origem sedimentar, e explicando assim a presença de partículas calcárias.

Esta é que era a grande foto, parece que estou dentro dum abismo, mas focar a câmara quando eu não estou ali é que é mais complicado. Eu ponho a mochila no chão e foco nela, mas não sei porquê a coisa não resultou aqui. A máquina foca na paisagem e não em mim. Bom, mas se calhar é o melhor que ela – a máquina – faz.
Permitam-me só deixar a nota de que eu estou em segurança. Parece um abismo, efetivamente, mas é uma sensação criada pela fotografia. Eu não me aproximo de abismos. Ou nas raras vezes em que me aproximo, vou deitada no chão.

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