020 – Santa Maria – Praia Formosa & Muito Campo
Antes de enveredar por este caminho, mandei parar um rapaz numa pickup; ele disse-me que era um trilho e que eu poderia ir com a bicicleta pela mão.
Há que passar algumas cancelas na vida.
O GPS manda-me atravessar a estrada e enveredar por aquele caminho à direita. Ao menos este não tem cancelas.
Praia da Formosa. Tem areias claras, o que é uma raridade nos Açores. Normalmente a areia das praias (existindo areia!) é negra, de origem vulcânica.
Faltam 5 km para o meu destino. Alguma vez eu imaginaria, ao sair esta manhã de Santo Espírito, a chover e com tudo negro, e com 19 graus, que iria apanhar este sol e este calor? Vou ficar outra vez com as marcas da tshirt nos braços. Eu já estou ali a arregaçar as manguinhas, mas de nada vale. Esta tshirt trouxe-a do Quénia, em 2003! Isto é que é estimar uma tshirt. Tem 17 anos! Esta tshirt do “Carnivore” – o nome dum restaurante no Quénia, onde comi carne de crocodilo, entre outras, é bastante quente, de bom algodão, e portanto uso-a quando está frio. Sabia lá que ia apanhar este caloraço.
Ainda tenho outra mais quente, com não sei quantas gramas de algodão, que trouxe da Gronelândia, mas essa estou a usá-la para dormir, nesta viagem. Na crónica 13 apareço com ela vestida, sentada à mesa do pequeno-almoço. Estas são as minhas duas tshirts de combate ao frio, portanto. Para verões frescos.
Já cá estou em cima outra vez. Na crónica anterior eu estava do outro lado, lá em cima. Aqui nas fotos parece tudo tão simples – diz a Rute toda transpirada.
Cantei-lhe uma canção. É uma canção que eu canto a todos os animais e a letra varia consoante o animal. “Um cavalinho muito lindo que anda aqui a passear!… Um cavalinho muito lindoooooo!… Que anda aqui a passeaaaaar!…” (Há aqui umas entoações…). Se for uma vaquinha, ou um gatinho, ou um cãozinho, muda o animal, mas o resto da letra, e a música, são iguais. Ele ouviu com muita atenção, não arredou pé. Percebeu tudo.
Adeus, cavalinho, não posso continuar a cantar-te mais, tenho de estar às 14h no centro de saúde. Adeus! Adeus, respondeu-me.
Agora o GPS está a mandar-me sair da estrada e enveredar por este caminho à esquerda. Vou ter festa outra vez!
É melhor, é.
Uma povoação! Casas! Gente! Será que se eu pedir socorro me ouvem? 🙂
Uma estrada de cimento! É sempre bom aparecer uma estrada de cimento, ou de alcatrão, ou seja lá do que for, depois dos emaranhados da vegetação.