Amazónia Brasileira

061 - Prosseguimos o Passeio de Barco

Reservado o almoço, vamos dar uma volta pelo rio Tapajós. À chegada ao barco procuramos imediatamente a preguiça, e constatamos que ela já está no topo da árvore. Hoje não lhe damos descanso, coitada. Daqui a pouco estaremos de volta para almoçar e uma vez mais atracaremos aqui.

Pequeno lanche preparado pela mulher do guia Taketomi, para nós consumirmos durante o dia. No canto esquerdo está uma garrafa com um fenomenal sumo de taperebá.

O dono da lancha, Sr. Sebastião, mais conhecido por Sabá, que nos acompanhou durante o dia, a apanhar o fruto caranazeiro, da árvore com o mesmo nome.

Andorinha, que apesar da foto não deixar perceber, tem as costas azuis. Esta será supostamente a andorinha-azul, pois existem muitas espécies semelhantes. Estas que vimos medem cerca de 20 cm. Vimos três juntas, pousadas no tronco, na água (que se vê nesta foto), sempre muito difíceis de fotografar. São aves insetívoras,  ou seja, que se alimentam de insetos que capturam durante o voo, com o bico aberto: moscas-da-fruta, mosquitos, vespas, besouros, formigas, gafanhotos, cigarras e libélulas. A andorinha-azul pode consumir 400 moscas ou 2.000 mosquitos por dia. Estão assim muito dependentes do tempo, já que este influencia profundamente as populações de insetos. Com baixas temperaturas a quantidade de insetos tende a diminuir, ao passo que a altas temperaturas as andorinhas-azuis possuem abundância de comida. O vento, naturalmente, também influencia a disponibilidade de alimento. As andorinhas-azuis são aves migratórias: reproduzem-se na América Central e do Norte, e passam depois o verão na América do Sul. Podem ser vistas em grandes bandos.
Os seus predadores mais comuns são as corujas e as cobras.
Para acasalar, o macho normalmente seleciona dois locais para nidificar, e coloca-os à escolha da fêmea. Os machos são muito territoriais e defendem agressivamente estes locais dos outros machos. Os machos que não têm par exibem-se a voar às fêmeas que estão por perto. Esta exibição começa com o macho a sair do seu ninho num arco alargado, e depois precipitar-se rapidamente para a cavidade, pondo de fora a cabeça e cantando. As pesquisas mostram que apesar destes esforços, as fêmeas estão mais interessadas na qualidade do local para nidificar, do que nas exibições do macho. Os ninhos são normalmente feitos com folhas, ervas, gravetos, lama e penas.  A fêmea é quem o constrói, enquanto o macho reúne os materiais e defende a cavidade de outras andorinhas⁵⁷. Põem entre três a oito ovos brancos⁵⁸, ovais. O normal é serem cinco ovos.

Fruto da árvore seringueira, árvore também chamada da borracha, pois do seu látex fabrica-se a borracha. Deste fruto fazem-se resinas, vernizes e tintas⁵⁹. A árvore-da-borracha é nativa da Amazónia, e mais adiante teremos oportunidade de falar detalhadamente dela.


⁵⁷ Snyman, Nadine (2012) “Progne subis – purple martin”, Animal Diversity Web, University of Michigan. Página consultada a 28 de Setembro de 2013,
<http://animaldiversity.ummz.umich.edu/accounts/Progne_subis/>.

⁵⁸ Hill, James (1998) “How to Become a Martin Egghead”. Purple Martin Conservation Association. Página consultada a 28 de Setembro de 2013,
<http://www.purplemartin.org/update/10(3)egg.html>.

⁵⁹ Wikipedia (s.d.) “Seringueira” Página consultada a 28 de Setembro de 2013,
<http://pt.wikipedia.org/wiki/Seringueira>.

062 - Um Delicioso Tambaqui

Este tambaqui terá sido talvez a melhor refeição de toda a viagem. Tenho muito boas recordações da comida, houve muitas refeições que nos marcaram positivamente, mas desconfio que este carnudo tambaqui não o esqueceremos facilmente. A foto dele a assar ficou desfocada, é pena, não dei conta no pequeno écran da máquina fotográfica, mas dada a sua importância não a apaguei. Andava eu a bisbilhotar as casinhas-restaurante da Comunidade de Ponte de Pedras, onde regressámos após o passeio de barco, e onde tínhamos deixado o tambaqui encomendado, quando dei de caras com o peixe a assar. Tratei de fotografar a cozinha também, para surpresa da rapariga que se encontrava na divisão ao lado, ao ver a casa a iluminar-se subitamente com o flash. O Filipe tinha ido à cabine telefónica da pequena comunidade tentar ligar para casa, mas esta cabine funciona apenas com cartão telefónico.

Entretanto, volta e meia, levamos umas picadelas das formigas nos dedos dos pés. Picam que se fartam. Andamos com a pomada atrás para diminuir a má sensação que deixam durante uns minutos.

Uma nota para a palavra “comunidade”, que de início provocou-nos alguma confusão. Tal como em Portugal dizemos “aldeia”, no Brasil – pelo menos aqui na Amazónia – dizem em vez disso “comunidade”. Estamos portanto na aldeia, ou na vila de Ponte de Pedras, e aquela é a cabine telefónica da localidade.

Mas voltemos ao tambaqui, que é a espécie comercial mais importante da Amazónia central (pudera…). Ele existe na bacia Amazónica, é um peixe de escamas, alcança cerca de 90 cm de comprimento, e pesa até 45 kg¹³. Aliás, ao que parece antigamente eram capturados exemplares com 45 kg. Hoje, por causa da sobrepesca, praticamente não existem indivíduos desse porte.
Os tambaquis vivem nas matas alagadas entre quatro a sete meses por ano, alimentando-se de frutos,  sementes e zooplâncton. Dada a especificidade da sua alimentação – sobretudo sementes e frutos, os seus dentes são molariformes, ou seja, semelhantes aos molares humanos. Quando o nível da água baixa, a maior parte dos adultos espalha-se pelos rios caudalosos, enquanto outra parte, mais pequena, esconde-se nas margens florestadas de lagos⁶⁰. Nesta época não se alimentam, vivendo da gordura que acumularam durante a época cheia⁶¹.

Dentes do Tambaqui


¹³ Hayashi, Prof. Dr. Carmino (s.d.), “Importância das Espécies Nativas na Piscicultura Comercial”. I Seminário de Piscicultura do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba. Universidade Federal do Triângulo Mineiro. Instituto de Ciências Exatas, Naturais e Educação. Página consultada a 4 de Agosto de 2013,
<http://www.almanaquedocampo.com.br/imagens/files/Peixes%20importancia%20especie%20nativa.pdf>.

⁶⁰ Goulding, Michael e Carvalho, Mírian Leal (1982) “Life history and management of the tambaqui (Colossoma macropomum, Characidae): an important Amazonian food fish”. Revista Brasileira de Zoologia, vol.1 no.2, Curitiba. Página consultada a 28 de Setembro de 2013,
<http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-81751982000200001&script=sci_arttext&tlng=pt#fig02>.

⁶¹ Ambiente Brasil (s.d.) “Tambaqui – Colossoma macropomum”. Página consultada a 28 de Setembro de 2013,
<http://ambientes.ambientebrasil.com.br/agua/pesca_esportiva_em_agua_doce/tambaqui_-_colossoma_macropomum.html>.

063 - Esta Preguiça quer Viajar

Eu nem queria acreditar no que estava a ver. Quando chegámos junto ao barco a primeira coisa que fizemos foi olhar novamente para cima, para a árvore, tentando avistar a preguiça. Mas já não a encontrámos. Para onde terá ela ido? Até que, com grande espanto, vejo aquele bicho felpudo pendurado no nosso barco.

O Sr. Sabá tirou-a a custo. Ela guinchava, um som tão baixinho que quase não se percebia ser dela, e não queria largar o barco. Foi então pô-la numa árvore do outro lado da estrada. Recordo que existe ali uma casa e um cão à solta, pelo que ela não conseguiria atravessar. À falta de melhor quis apanhar boleia para outra ilha. Queria mudar de casa e de vida, está visto.

064 - Répteis e Aves

Enveredamos agora pelo Canal de Jarí, um canal que fica entre o rio Tapajós e o rio Amazonas. A sua travessia foi algo agitada, foi cerca de meia hora a levar com a água em cima. As mochilas e a máquina fotográfica iam bem abrigadas atrás das nossas cadeiras para não se molharem. Pela foto vê-se o estado em que chegámos. Eu não pus os óculos escuros, de facto raramente os usei nesta viagem, e portanto mal consegui abrir os olhos durante a travessia, com as chapadas de água, de frente. A minha roupa está encharcada. O que vale é que está muito calor, e apesar da elevada humidade vai secar com alguma rapidez.

O Filipe andava a tentar ligar para casa há algum tempo, se bem se recordam da sua tentativa na cabine telefónica em Ponte de Pedras. Não temos conseguido rede para ligar. Os respetivos pais já devem estar preocupados, já nos devem imaginar perdidos no meio da floresta amazónica, na barriga de alguma anaconda. Mas não, andamos tranquilamente a passear. Curiosamente, neste fim do mundo, o Filipe teve rede. Foi o Sr. Sabá que lhe disse, tenho ideia. E lá conseguiu então falar com os pais. Reparem que o seu telemóvel ia bem embrulhado num saco plástico… Eu não ando com o telemóvel comigo e só dou notícias de quinze em quinze dias, sou mais desnaturada.

Esta foto é um exercício de “Onde está o Wally?”. Eu que a tirei vejo-me grega para encontrar o bicho. Mas coloquem o rato exatamente no centro da foto, e verão que fica em cima de uma iguana. Ou de um camaleão, não faço ideia. Não consigo distinguir as duas espécies, e para agravar na Amazónia chamam de camaleões às iguanas, quando as duas coisas são diferentes. Estão a ver a cena: Olha uma iguana, dizemos nós. É um camaleão, dizem os nossos guias. Está bem.
Reza assim a Wikipedia: “Os camaleões existem sobretudo em África e em Madagascar, embora algumas espécies também sejam encontradas em Portugal, Espanha, Sri Lanka, Índia e até na Ásia Menor. Na Amazónia e na região Nordeste do Brasil, o lagarto conhecido como iguana é por vezes chamado de camaleão, embora pertença a uma família diferente. Também há casos menos frequentes de camaleões da família Chamaeleonidae na Amazónia, de origem indiana, e que foram introduzidos pelos portugueses⁶²”.
Bom, deve ser uma iguana, nesta foto. Vimos imensas, poderia fazer um livro de crónicas só com fotos de iguanas em cima das árvores.

Pássaro Socó-Boi, que tem este nome pela sua voz, a qual faz lembrar o urro da onça ou o mugir de um boi. Neste link podem ser ouvidos vários socó-bois (clicar no triângulo que se encontra em frente do seu nome – “Tigrisoma lineatum” é o nome científico do socó-boi). Esta espécie ocorre da América Central à Bolívia e Argentina e em todo o Brasil. Vive nas margens de rios, lagos e pântanos e alimenta-se de crustáceos, répteis, anfíbios, peixes e insetos. Captura as suas presas andando vagarosamente, em águas rasas ou pântanos no interior da floresta⁶³. Sobre os seus hábitos reprodutivos pouco se sabe. Faz o ninho com gravetos no topo das árvores, e em cativeiro põe três ovos⁶⁴.

Vimos ainda mais pássaros do que iguanas. Muitos pássaros mesmo, de todas as cores e tamanhos, com uma festa de chilreados. Imaginem a tranquilidade que inspira passear nestas águas calmas e solarengas a ouvir os pássaros cantar. Tantos tipos de cantos, todos misturados. Eu bem que tentava fotografar e anotar os nomes de todos eles, mas a tarefa tornou-se impossível, em primeiro lugar porque a câmera não é adequada (andar carregada com lentes extra… não quero, já me basta o peso da máquina simples; deixo essa tarefa para os profissionais) e depois porque as pessoas que nos acompanham não conhecem os nomes de todos eles. Existem 1.822 espécies de aves registadas no Brasil, sendo que mais de 800 ocorrem no Estado do Amazonas⁶⁵. Atenção que nós estamos no Estado do Pará. Ambos pertencem à Amazónia, mas calculo que o número de aves não seja muito divergente. Depois vão sendo descobertas mais espécies, como se pode ler nas notícias de Maio de 2013: uma equipa de pesquisadores brasileiros e americanos encontrou quinze novas espécies de pássaros na Amazónia, a maior descoberta do género dos últimos 140 anos⁶⁶. Fiquemo-nos portanto com algumas poucas fotos do que vimos. Deste passarito totalmente preto, com bico curvo, nesta foto, nada sei. Se alguém souber, que me diga.


⁶² Wikipedia (s.d.) “Camaleão”. Página consultada a 28 de Setembro de 2013,
<http://pt.wikipedia.org/wiki/Camale%C3%A3o#Distribui.C3.A7.C3.A3o_e_habitat>.

⁶³ Wikipedia (s.d.) “Socó-Boi”. Página consultada a 28 de Setembro de 2013,
<http://www.wikiaves.com.br/soco-boi>.

⁶⁴ Planet of Birds (s.d) “Rufescent Tiger Heron (Tigrisoma lineatum)”. Página consultada a 29 de Setembro de 2013,
<http://www.planetofbirds.com/ciconiiformes-ardeidae-rufescent-tiger-heron-tigrisoma-lineatum>.

⁶⁵ Junior, Reynier Omena (s.d.) “Sons de Aves”.  Página consultada a 28 de Setembro de 2013,
<www.birding.com.br/Portugues/Sonsdeaves.htm>.

⁶⁶ Carvalho, Eduardo (2013) “Cientistas descobrem 15 novas espécies de aves na Amazônia”. Globo. com.  Página consultada a 28 de Setembro de 2013,
<http://g1.globo.com/natureza/noticia/2013/05/cientistas-descobrem-15-novas-especies-de-aves-na-amazonia.html>.

065 - Mais Pássaros e agora Botos Cor-de-Rosa

Árvore Pachira Aquática, vulgarmente conhecida como munguba ou castanheira-do-maranhão. É uma árvore nativa do sul do México até ao norte da América do Sul, na área compreendida pela floresta amazónica. É encontrada frequentemente em terrenos alagadiços, sendo porém facilmente adaptável a condições climáticas diversas, inclusive ambientes secos. Dos frutos aproveitam-se as sementes, as quais possuem um alto teor de óleo com características semelhantes a óleos comestíveis, como o de palma e amendoim. As suas castanhas são comestíveis e podem ser consumidas de diversas maneiras: cruas, assadas, cozidas ou torradas e transformadas em farinha⁶⁷. As sementes estão envoltas numa espécie de algodão, e contou-nos o Sr. Sabá que quando se abrem vê-se o algodão a esvoaçar.

Botos Cor-de-Rosa, golfinhos fluviais existentes nas bacias dos rios Amazonas e Orinoco, este situado na Venezuela e Colômbia. Ambos os rios estão interligados por um canal. Os botos cor-de-rosa alimentam-se principalmente de peixes, mas comem também tartarugas e caranguejos. Na estação seca habitam os leitos dos rios, mas na época das chuvas, quando os rios transbordam, estão espalhados por áreas alagadas tanto nas florestas (igapó) como nas planícies inundadas (várzeas), onde há uma maior oferta de alimentos⁶⁸.
Mais à frente visitaremos um local onde existem botos cor-de-rosa e onde inclusivamente lhes tocarei.

Estamos a atravessar uma área de várzea, ou seja, de planícies alagadas. Vemos nada mais menos do que uma igreja e um salão de eventos, pelo menos metade deles. Quando as águas baixarem, voltarão a ser usados pela população. Por enquanto ouve-se o chilrear de muitos pássaros, escondidos dentro deles.


⁶⁷ JorgeI, Neuza e Luzia, Débora (2012) “Caracterização do óleo das sementes de Pachira aquatica Aublet para aproveitamento alimentar”. Instituto Nacional de Pesquisas da Amazónia, Acta Amazónica, vol.42 no.1, Manaus. Página consultada a 28 de Setembro de 2013,
<http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0044-59672012000100017&script=sci_arttext>.

⁶⁸ Wikipedia (s.d.) “Boto-cor-de-rosa”. Página consultada a 28 de Setembro de 2013,
<http://pt.wikipedia.org/wiki/Boto-cor-de-rosa#Distribui.C3.A7.C3.A3o_geogr.C3.A1fica_e_habitat>.

066 - Navegando pelo Canal de Jarí

Garça-Grande-Branca. Vive em regiões tropicais e subtropicais de todos os continentes, exceto Antártida. Alimenta-se basicamente de peixes, pequenos anfíbios, crustáceos e outras espécies de animais aquáticos de pequeno porte⁶⁹, capturados dentro de água; para tal mantém-se quase imóvel à espera da presa⁷⁰. Na época da reprodução, o macho da garça-grande-branca namora a fêmea exibindo as suas penas decorativas chamadas egretas. Se der tudo certo e a fêmea aceitar o convite, o casal irá construir um grande ninho de gravetos entre os galhos de uma árvore. A fêmea põe de 3 a 6 ovos azul-esverdeados.  Ambos se revezam para chocá-los⁷¹.

Pássaro Jaçanã. Habita a América Central e a América do Sul. Alimenta-se de insetos, moluscos, peixes pequenos (quando um pula e cai sobre uma folha) e sementes. Nidifica sobre folhas de nenúfares, põe quatro ovos castanho-amarelados, densamente manchados. Apenas o macho choca e zela pelas crias. Para protegerem o ninho, fingem estar com uma perna quebrada debatendo-se como se não pudessem voar (fazem o chamado “despistamento”). Os filhotes são nidífugos, logo após a eclosão saem por sobre as plantas aquáticas; já nesta idade são extremamente pernilongos e sabem mergulhar⁷².
Deixo um link onde pode ser ouvida a sua vocalização.

Árvore Abricó-de-Macaco, vulgarmente conhecida como Castanha-de-Macaco, originária da Amazónia, e existente nas Américas do Sul e Central⁷³. Os seus frutos são bolas castanhas grandes que chegam a pesar mais de três quilos. Os frutos contêm entre os seus constituintes químicos uma substância conhecida como índigo, que é o corante usado para tingir de azul as calças “jeans”.⁷⁴


⁶⁹ Sua Pesquisa.com (s.d.) “Garça”. Página consultada a 29 de Setembro de 2013,
<http://www.suapesquisa.com/mundoanimal/garca.htm>.

⁷⁰ Ambiente Brasil (s.d.) “Garça-branca (Ardea alba)” Página consultada a 29 de Setembro de 2013,
<http://ambientes.ambientebrasil.com.br/fauna/aves/garca-branca_(ardea_alba).html

⁷¹ Hayasaka, Enio e Nishida, Silvia (s.d.) “Reprodução das Aves”. Universidade Estadual Paulista. Página consultada a 29 de Setembro de 2013,
<http://www2.ibb.unesp.br/Museu_Escola/Ensino_Fundamental/Origami/Documentos/Aves.htm

⁷² Embrapa Monitoramento por Satélite (s.d.) “Jaçanã ou Cafezinho”. Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa. Página consultada a 29 de Setembro de 2013,
<http://www.faunacps.cnpm.embrapa.br/ave/jacana.html>.

⁷³ Wikipedia (s.d.) “Abricó-de-macaco”. Página consultada a 29 de Setembro de 2013,
<http://pt.wikipedia.org/wiki/Abric%C3%B3-de-macaco>.

⁷⁴ Instituto de Química (2010) “Abricó-de-Macaco: Couroupita guianensis”. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Página consultada a 29 de Setembro de 2013,
<http://www.iq.ufrj.br/descomplicando-a-quimica/317-abrico-de-macaco-couroupita-guianensis.html>.

067 - Vitória Régia

Tenhamos em conta, no meio de toda esta placidez, que navegamos sobre águas onde existem piranhas, jacarés e anacondas. Nadar aqui não é de todo recomendado. O Sr. Sabá contou-nos algumas das suas experiências com sucuris, o nome pelo qual é conhecida a anaconda, na Amazónia. Iam dois barcos com um grupo de turistas, ele num deles, quando avistaram uma sucuri enrolada num jacaré com cerca de três metros. Ao aproximarem-se perceberam a situação. Existia um tucunaré morto, a flutuar, com cerca de 80 kg, estimou o Sr. Sabá. O jacaré foi comer o peixe, quando a sucuri o comeu a ele. Foi uma experiência memorável não só para ele, mas para os felizardos turistas que conseguiram ver a natureza pura e dura em ação.

Contou-nos também a experiência de um vizinho seu: uma sucuri com cerca de seis ou sete metros rodeou a mesa onde ele se encontrava, no quintal da sua casa. Recordemos o que foi dito na crónica 55: as sucuris não são venenosas, elas matam as presas por constrição, ou seja, apertando-as e esmagando-as. O homem levantou-se, foi buscar a caçadeira e deu-lhe vários tiros. Ela já ia atrás dele, no seu rasto, lentamente.

Depois de se alimentarem, as sucuris ficam um ou dois dias à tona da água enquanto o alimento é digerido. É assim que são avistadas, explicou-nos. Contou-nos ainda que um amigo seu, mergulhador noturno que pesca com arpão, pisou o que parecia ser um tronco, mas mole. Iluminou com a lanterna e viu o corpo dela, para um lado e para outro. Fugiu, claro.

As sucuris “pegam o gado dos fazendeiros”, disse-nos. Apesar de tudo isto, temos de pensar que a sucuri faz parte da natureza, tal como qualquer outro animal predador, como ursos ou leões. Da mesma forma que não podemos matar indiscriminadamente ursos e leões, também não é permitido matar sucuris. Veja-se a este propósito um vídeo, no qual um grupo de guardas ambientais foram chamados a uma fazenda, onde uma sucuri com oito metros de comprimento e 95 kg de peso apareceu e atacou os seus bezerros. O objetivo dos guardas foi apanhá-la e devolvê-la ao habitat natural, no entanto um deles ainda levou uma dentada primeiro.

Por seu turno, nestes dois vídeos podemos ver os Polícias Ambientais e um Engenheiro Florestal com duas sucuris que foram resgatadas e posteriormente libertadas no seu habitat natural:

Vídeo 1 Polícia Ambiental

Vídeo 2 Polícia Ambiental

Ainda a propósito deste tema, importa referir a existência de um organismo no Brasil, o IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente, cujas funções são o licenciamento ambiental, o controle da qualidade ambiental, a autorização de uso dos recursos naturais e fiscalização, monitoramento e controle ambiental. Manter uma sucuri em cativeiro, por exemplo, é proibido. O seu website tem uma área para denunciar casos (no separador “denuncie”).

Em março, abril, maio e junho dá-se o período das férias escolares nesta região de várzea, ou seja, de planície inundada. Nós estamos agora em junho, a água já está a descer e a preparar-se para destapar a escola, onde os alunos em breve irão ter aulas.

Dois pássaros Curicaca, uma espécie de Íbis (aves com pernas altas, pescoço longo, bico comprido e encurvado para baixo). Está presente em grande parte do Brasil onde haja vegetação aberta e lagoas, campos em solos pantanosos ou periodicamente alagados, como na Ilha de Marajó, no Pantanal, no Ceará. Encontrada também em todos os países da América do Sul até à Argentina. Vive geralmente em bandos pequenos ou solitária. Alimenta-se de gafanhotos, aranhas, centopeias, lagartixas, cobras, ratos etc. Come às vezes sapos (Bufo granulosus), facto interessante, pois o veneno desse sapo é mortal para a maioria dos animais⁷⁵. Para extrair larvas de besouro no solo, mergulha o bico na terra fofa até à base⁷⁶.
Costuma pôr de dois a quatro ovos, em ninhos de gravetos nas árvores ou mesmo grandes rochas nos campos⁷⁷.
A sua vocalização pode ser ouvida aqui (clicar no triângulo antes do seu nome científico: “Theristicus caudatus”).

Mais adiante avistámos uma canoa abandonada, o que deixou o dono do nosso barco meio intrigado e apreensivo. Não quis com certeza perturbar os seus dois turistas e não adiantou conversa. Uma canoa abandonada é mau sinal. O dono não pode fugir a nadar nestas águas, e pode portanto estar na barriga de alguma sucuri. Felizmente vimos o homem poucos metros mais à frente, no meio da vegetação a apanhar pasto para o gado.

Vitória Régia, cujo nome científico é Victoria Amazonica. É uma planta aquática, fixa,  encontrada em águas calmas e com temperatura à volta de 26 a 30 °C, originária da região amazónica. Além da Amazónia esta espécie também ocorre no Pantanal e na Bacia do Paraguai. As flores possuem um pedúnculo muito longo que oscila de acordo com a profundidade do local, podendo medir de três a oito metros de comprimento⁷⁸. O seu  nome surgiu a partir da iniciativa de um pesquisador inglês que levou as sementes para serem plantadas nos jardins do palácio real em Londres. Lá, a planta recebeu o nome da rainha – Vitória, em sua homenagem. A raiz da vitória-régia é um tubérculo parecido com a mandioca, rico em amido e sais minerais, e por isso mesmo é consumido frequentemente pelos locais⁷⁹.


⁷⁵ Wikiaves (s.d.) “Curicaca”. Página consultada a 29 de Setembro de 2013,
<http://www.wikiaves.com.br/curicaca>.

⁷⁶ Vivaterra (s.d.) “Curicaca (Theristicus caudatus)”. Sociedade de Defesa, Pesquisa e Educação Ambiental, Rio de Janeiro. Página consultada a 29 de Setembro de 2013,
<http://www.vivaterra.org.br/aves_2.htm>.

⁷⁷ Ambiente Brasil (s.d.) “Curicaca (Theristicus caudatus)”. Página consultada a 29 de Setembro de 2013,
<http://ambientes.ambientebrasil.com.br/fauna/aves/curicaca_(theristicus_caudatus).html>.

⁷⁸ Rosa-Osman et al.. (2010) “Morfologia da flor, fruto e plântula de Victoria amazonica (Poepp.) J.C. Sowerby (Nymphaeaceae)”. Acta Amazónica Vol. 41(1) 2011: 21 – 28, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazónia. Página consultada a 29 de Setembro de 2013,
<http://acta.inpa.gov.br/fasciculos/41-1/PDF/v41n1a03.pdf>.

⁷⁹ InfoEscola (s.d.) “Vitória-régia”. Página consultada a 29 de Setembro de 2013,
<http://www.infoescola.com/plantas/vitoria-regia/>.

068 - Entremos numa Casa Aquática

Barco de transporte público. Se repararem na segunda janela, ainda se consegue ver um pouco de uma rede. Os passageiros vão deitados nas redes.

Vamos visitar a casa do senhor Edilson. Tem 77 anos, é casado e tem nove filhos. A mulher encontra-se em Santarém, está doente. Têm uma casa em Santarém, e possuem gado longe – têm um homem a cuidar dele, no local. Uma das filhas mora aqui ao lado, vimos a sua casa a uns cinquenta metros. Os restantes estão espalhados pelo Brasil: em Belém, em São Paulo, e outras cidades.

Cada vez que vejo estas fotos, com os cães (são dois) pergunto-me como não foram eles já apanhados por alguma sucuri, ou mesmo por um jacaré. O Sr. Edilson vai contar-nos algumas das peripécias que tem passado com ambos – jacarés e sucuris – aqui na sua casa. Estamos em pleno habitat de ambas as espécies. Se não há fotos deles, é porque são esquivos. Mal ouvem o motor do nosso barco, afastam-se. (Com grande pena minha).

069 - A Casa do Sr. Edilson

Patos e galinhas, um verdadeiro petisco para sucuris e jacarés. Contou-nos o Sr. Edilson que há pouco tempo apareceu um jacaré grande por aqui. Andou a rondar durante alguns dias, aparecia e desaparecia, até que um dia lhe conseguiu dar um tiro e matou-o. As galinhas e os patos ficam fechados durante a noite, a capoeira está isolada com tábuas e redes, mas mesmo assim uma sucuri pequena, com pouco mais de um metro, ficou entalada num buraco. Metade fora, metade dentro da capoeira. O Sr. Edilson teve de matá-la também. Contou-nos que ter patos é um sarilho, eles andam na água e ainda por cima são curiosos. Se um pato vê algo a mexer-se, vai a nadar ver o que é. E já não volta.

Reparem nas galinhas pom penas nas patas, são da raça Brahma, originárias da Índia, do século XIX, e posteriormente geneticamente aprimoradas até se tornarem na espécie robusta que são hoje. O Brahma moderno é considerado como a maior das raças gigantes, e podem viver de dez a quinze anos. O macho pode levar até dois anos para tornar-se inteiramente adulto, o que significa que o Brahma está descartado como uma galinha de produção comercial em aviários industriais. Surpreendentemente, apesar do seu tamanho, os ovos que colocam não são maiores do que o da maioria das outras aves ditas grandes. E apesar de grandes, são dóceis com crianças e adultos, são fáceis de domesticar, e seguirão o dono prontamente pelo terreiro como um cão. Se forem mantidos num ambiente com outros tipos de aves, há que mantê-los separados das outras raças, pois apesar do seu tamanho eles são submissos⁸⁰.

Àcerca  da casa, disse-nos o Sr. Edilson que este ano iriam subir a altura dela sobre a água, pois há muitos anos que ela foi construída (disse-nos quantos, mas não anotei e esqueci-me, tenho ideia que rondava no mínimo trinta anos) e que portanto já carecia de obras, nomeadamente subir a sua altura, pois a água estava a entrar indevidamente. Estavam apenas à espera que as águas baixassem e dentro de um ou dois meses a operação seria feita. Uma operação de grande envergadura, mas rápida.


⁸⁰ Galinhas Brahma (s.d.) “A Raça Brahma”. Página consultada a 29 de Setembro de 2013,
<http://galinhasbrahma.com.br/?page_id=25>.

070 - Em Busca dos Macacos

Não são só pássaros, iguanas, piranhas, jacarés e sucuris – também há macacos por aqui. Vamos meter-nos numa canoa e vamos procurá-los.

O nosso já conhecido Socó-Boi, cujos detalhes e canto podem ser vistos (e ouvidos) na crónica 64.

Painel solar.

Aquela casota onde os dois cães estão deitados é a casa de banho. Não sem algum constrangimento pedi para usá-la. É que saímos às oito da manhã de Alter do Chão, já almoçámos, já visitámos uma porção de coisas (nem sei que horas serão agora, mas talvez umas duas da tarde?) e eu apenas fui à casa de banho em Ponte de Pedras, antes de almoço. Ainda temos sei lá quantas horas de viagem até chegar de volta a Alter do Chão. Bom, lá fui eu, atravessei a zona das capoeiras, fiz festas aos cães que vieram logo ter comigo, e entrei. Há apenas um banco de madeira com um buraco no meio. Que escoa diretamente para a água do rio. Tomem lá, piranhas e sucuris, não tenho alternativa.

A calma deste local é fascinante. Seguimos em silêncio para não afugentar os macacos. Apenas se ouve o chapinhar dos remos que ambos – o Sr. Edilson e o Sr. Sabá, usam. Olhamos para cima, à procura de macacos, e depois olhamos para baixo, na esperança de vislumbrar alguma sucuri. De certeza que passámos por cima de alguma, durante todos os nossos passeios de barco, nesta viagem à Amazónia. Era preciso mergulhar para encontrá-la. Faltou mergulhar, nesta viagem. À falta de melhor, fica um vídeo onde dois mergulhadores, no Brasil, num local semelhante a este onde nos encontramos, conseguiram avistar quer jacarés, quer sucuris. E ainda a nossa amiga raia, que nos fez caminhar no Marajó de pés a arrastar, na água, e consequentemente dizer adeus às minhas sandálias…

071 - Num Igapó com os Macacos-de-Cheiro

Estamos num igapó, ou seja, uma área de floresta alagada. Vi muitos macacos, fotografá-los é que é mais complicado. Esta foto foi a que ficou melhorzita, e mesmo assim pouco se vê. Tirei uma série delas, mas depois perceber onde está o wally, no meio da ramagem, é um sarilho.
Estes são uma espécie de macacos que ainda não tinha visto: os Macacos-de-Cheiro.
Os macacos-de-cheiro são nativos das florestas tropicais da América do Sul⁸¹ e vivem no topo das árvores altas, em bandos de dezenas ou centenas de indivíduos. Existem cinco espécies, distinguidas recentemente, e não sei qual das cinco vimos, pelo que deixo a descrição do género em geral.

Os macacos-de-cheiro espalham urina nos pés e nas mãos, exalando um forte odor de modo a que indivíduos dispersos encontrem o caminho de volta para o grupo. A urina também pode indicar o status reprodutivo de um indivíduo. Alimentam-se de frutos e de insetos sobretudo, bem como flores, sementes, folhas, néctar, e também de pequenos vertebrados como morcegos e pequenos pássaros. Preferem os insetos parados àqueles que têm de apanhar em movimento, mas são muito hábeis, apanham-nos pelas asas. Para apanhar os insetos, os macacos-de-cheiro procuram-nos nas superfícies com folhas, deslocando plantas mortas. Preferem gafanhotos e lagartas a outros insetos. Também comem ovos⁸². Frequentemente os macacos-de-cheiro observam as aves a aninharem-se, e quando os ninhos não estão a ser vigiados, roubam os ovos. São diurnos, recolhem-se para dormir ao pôr do sol, mantendo-se quietos e em silêncio nos ramos mais altos e no meio da folhagem densa. Durante o dia escondem-se ao menor sinal de alarme emitindo gritos agudos de advertência⁸³. Metade do seu dia é passado a procurar insetos. Outros 25% do dia é dividido a procurar frutos e néctar e a descansar. O resto do tempo é passado a socializar e a cuidar de si próprio, catando-se e penteando-se. Normalmente os macacos fazem isto uns aos outros, mas nesta espécie  são eles próprios que se catam.

Dado que são pequenos, rondam os 30 cm e 1 kg de peso, são vulneráveis a muitos predadores, como aves de rapina, cobras grandes e felinos. (Aqui na Amazónia temos o jaguar, ou a onça, como é mais conhecida por aqui. Em breve falarei dela). O macaco de cheiro consegue proteger-se, todavia, pelo facto de viver em grandes bandos, com muitos elementos alerta e prontos a gritar ao menor sinal de perigo⁸².

Macaco-de-Cheiro


⁸¹ Rhines, Cynthia (2000) “Saimiri sciureus” Animal Diversity Web. Página consultada a 29 de Setembro de 2013,
<http://animaldiversity.ummz.umich.edu/accounts/Saimiri_sciureus/>.

⁸² Williams, Abby (2006) “Saimiri vanzolinii – black squirrel monkey”. Animal Diversity Web, University of Michigan. Página consultada a 29 de Setembro de 2013,
<http://animaldiversity.ummz.umich.edu/accounts/Saimiri_vanzolinii/>.

⁸³ Ambiente Brasil (s.d.) “Mico-do-cheiro (Saimiri vanzolinii)”. Página consultada a 29 de Setembro de 2013,
<http://ambientes.ambientebrasil.com.br/fauna/mamiferos/mico-do-cheiro_%28saimiri_vanzolinii%29.html?query=mico-do-cheiro>.

072 - Jantar e Internet em Alter do Chão

Hoje estamos um pouco cansados, andámos quase dez horas de barco, para lá e para cá. Eu ainda sinto a ondulação, apesar de já estar em terra. Arrancámos às 8.20h da manhã, e atracámos em Alter do Chão às 18h. Foi um dia intenso, plenamente satisfatório, inclusive o nosso almoço, cedíssimo, às onze e meia da manhã. Mas nós levantamo-nos todos os dias às seis horas, há que lembrar disto. Tudo na Amazónia é feito bem cedo, sobretudo porque anoitece muito cedo também. Às cinco e meia da tarde o sol começa a desaparecer.
Pegámos então nas bicicletas que tinham ficado presas com cadeado, no relvado em frente ao nosso quarto do hotel (enfrentando as formigas e as suas picadelas nos pés…) e fomos ao centro da vila, a um restaurante recomendado pelo guia Taketomi. Eu jantei o meu já conhecido pirarucu grelhado, e o Filipe churrasco misto. Este entreve-se depois um pouco a navegar na internet, na praça central, onde existe wifi gratuito, enquanto eu dava umas voltas de bicicleta. Tudo é tranquilo por aqui.

Igreja Paroquial de Alter do Chão, na praça central. Acabámos por nunca visitar o seu interior, pois estava sempre fechada. Partíamos de manhã para as nossas atividades e chegávamos ao final da tarde, pelo que acabámos por não apanhá-la aberta.

073 - A Caminho da Floresta do Tapajós

Estes bolinhos de chuva podem não ter grande aspeto, mas são perfeitamente deliciosos.

Ali está o nosso amigo Bem-te-Vi (detalhes sobre ele na crónica 52) a olhar para a minha fatia do bolo.

E partimos após o pequeno-almoço, no carro do guia Taketomi, para a floresta do Tapajós. A gritaria dos macacos que rodeiam o hotel é significativa. Não consegui vislumbrar nenhum, mas ouvi-os bem. O guia Taketomi ía-nos explicando que nesta zona temos os macacos Zogue-Zogue, os quais nunca chegámos a ver (apenas ouvimos); os macacos Guariba (que vamos conseguir ver hoje, precisamente na floresta do Tapajós); os Macacos-de-Cheiro – esses vimos bastantes no passeio de canoa com o Sr. Edilson; e muito raramente os Macacos-Aranha, os quais nunca vimos, e pelo menos que eu saiba também não ouvimos.

Esta foto foi tirada com o intuito de apanhar especificamente o poste de eletricidade, à esquerda. É feito de madeira aquariquara, muito robusta, resistente e com alta durabilidade, utilizada para fazer revestimentos e vigas. Atualmente, contou-nos o guia Taketomi, já é proibido fazer postes de eletricidade em madeira. Agora são de cimento, ou mais recentemente de fibra de carbono. Repare-se que este poste mais parece uma árvore, cheia de folhas, e inclusivamente com um ninho de cupim. Este poste é um monumento histórico, portanto, e mereceu uma travagem e uma foto.

O guia Taketomi fez-nos reparar igualmente no piso da estrada – terra vermelha. Esta terra não é natural, foi trazida para fazer a estrada. A terra natural onde a vegetação que ladeia a estrada está a desenvolver-se é arenosa, pouco produtiva. Explicou-nos ainda que atravessamos uma área de reservas extrativistas – denominadas de RESEX. A floresta é dividida em parcelas, o abate de árvores é controlado, e a população utiliza essas áreas para o extrativismo, ou seja, colher o que a natureza fornece. Também é praticada a agricultura de subsistência, bem como a criação de animais de pequeno porte. O objetivo é proteger os meios de vida e a cultura da população, e assegurar o uso sustentável dos recursos naturais⁸⁴. As reservas extrativistas são administradas pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. O nome do instituto é uma  homenagem ao seringueiro ativista mundialmente famoso, Chico Mendes, o qual foi um importante ultrarrevolucionário ambiental nos anos 1980 no Brasil, reconhecido pela ONU, recebendo inúmeros prémios, nomeadamente o “Global 500”, pela sua luta em defesa do meio ambiente⁸⁵. Chico Mendes foi assassinado em 1988, aos 44 anos de idade, com tiros de espingarda no peito, na porta dos fundos da sua casa. Chico anunciou que seria morto em função da sua intensa luta pela preservação da Amazónia e procurou proteção, mas as autoridades e a imprensa não deram atenção. Como resultado da luta de Chico Mendes, o Brasil tinha, em 2006, 43 reservas extrativistas (Resex) que abrangiam 8,6 milhões de hectares e abrigavam 40 mil famílias⁸⁶. Em 1989 o ex-Beatles, Paul McCartney, lançou o álbum “Flowers in the Dirt”, onde homenageia Chico Mendes na faixa intitulada “How Many People”.

Macaco Guariba

Macaco Zogue-Zogue

Macaco-Aranha

Macaco-de-Cheiro


⁸⁴ Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. “Reserva Extrativista” (s.d.). Página consultada a 12 de Outubro de 2013,
<http://www.icmbio.gov.br/portal/biodiversidade/unidades-de-conservacao/categorias>.

⁸⁵ Wikipedia (s.d.) “Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade”. Página consultada a 12 de Outubro de 2013,
<http://pt.wikipedia.org/wiki/ICMBio>.

⁸⁶ Wikipedia (s.d.) “Chico Mendes”. Página consultada a 12 de Outubro de 2013,
<http://pt.wikipedia.org/wiki/Chico_Mendes>.

074 - Fordlândia e Pequenos Descendentes de Índios

Atravessamos a vila conhecida por “Fordlândia”, na qual o modelo arquitetónico das cidades norte-americanas ainda está presente nas casas de madeira pintadas de verde e branco. Ford, que na realidade nunca pôs os pés no seu empreendimento amazónico, tentou implantar no Pará o seu “capitalismo ao estilo Ford” – altos salários, benefícios humanos e melhoria de ânimo, sem intromissões de governos. Existiam ruas limpas, serviços públicos, assistência médica, higiene, jardins e bangalôs agradáveis.
A coisa não correu bem, todavia.
No início do século XX o Brasil perdeu o monopólio da borracha para os ingleses, na Malásia e Sumatra, na Ásia. Em 1915 a Ásia passara a exportar 370 mil toneladas, mais de dez vezes a produção amazónica. Quando em 1919 o preço da borracha asiática começou a cair, por causa da guerra, Winston Churchill aprovou a ideia de um cartel para sustentar os preços. Precavendo-se ao cartel, o Presidente dos EUA, Hoover, e o seu Secretário do Comércio recomendaram por seu turno aos fabricantes norte-americanos que fizessem expedições científicas à Amazónia e investissem aí na produção de borracha. Harvey Firestone e Henry Ford responderam à chamada. Ford enviou inicialmente ao Brasil um botânico da Universidade de Michigan, Carl de La Rue, que lhe fez um relatório sobre as excelências do vale do Tapajós: vegetação luxuriante, árvores que renderiam até um galão de látex por dia, ausência de pântanos em planaltos sem mosquitos – uma região em tudo superior a Sumatra. Descreveu também a extrema pobreza das pessoas, as crianças doentes, o sistema de escravidão por endividamento montado por comerciantes “sírios”. Teria sido em muito a perspetiva de resgatar essas gentes o que motivou Henry Ford⁸⁷.

Em 1928 o Estado do Pará assina a concessão de terrenos à Companhia Ford Industrial do Brasil. Esta concessão abrangia uma área de um milhão de hectares⁸⁸. No entanto a Ford deparou-se com dificuldades de todo o tipo. Escândalos afloraram sobre subornos por trás da concessão de terras: “ao que parecia, o grande homem [Ford] foi convencido por um grupo de provincianos a pagar por terras que estavam sendo cedidas de graça.”. As elites locais eram hostis, pois temiam perturbações nas relações de clientelismo praticadas. Contratar trabalhadores tornou-se difícil, pois os seringueiros desapareciam na selva logo que ganhavam o suficiente para passar alguns meses sem trabalhar. Ao mesmo tempo, a notícia sobre a Fordlândia atraía brasileiros pobres de outras regiões, mas a taxa de rotatividade era muito alta. Doenças enchiam o hospital de Ford: sífilis, malária, beribéri, disenterias, micoses, parasitoses, doenças venéreas: “ao final de 1929, noventa pessoas foram enterradas no cemitério da empresa, inclusive filhos dos gerentes vindos dos Estados Unidos”. Quem sobrevivia enfrentava náuseas e pesadelos causados por comprimidos diários de quinino, empregados na profilaxia da malária. As famílias dos gerentes estrangeiros relataram o convívio com “insetos grandes como lagostas”, morcegos-vampiros e piuns (mosquitos muito pequenos, que quase não se vêm, mas que picam muito e provocam grande comichão). No início de 1929, “Ford já havia gasto mais de um milhão e meio de dólares, com poucos resultados”. Em dezembro de 1930 deu-se uma sublevação cujo motivo foi o novo sistema de refeições: o seu custo passava a ser deduzido dos salários; a dieta seguia os gostos de Henry Ford (aveia, cereais integrais, enlatados); grandes filas de espera; e o novo refeitório, de cimento e telhas de amianto, era uma fornalha. “A multidão ficou enlouquecida. Depois de demolir o refeitório destruíram tudo que pudesse ser quebrado […] arrancaram pilares do cais, atiraram cargas ao rio, destruindo camiões, tratores e carros, queimaram arquivos e atearam fogo à oficina […] Cantavam “o Brasil para os brasileiros, matem todos os americanos”.

Mas o grande problema foi a própria “plantation”. Os homens de Ford aplicaram as técnicas da produção intensiva, plantando as seringueiras em linhas, próximas umas às outras. Seguindo os planos, dois homens plantavam de 160 a 200 árvores por dia, usando de 2 a 3 minutos no plantio de cada muda. Assim era feito no sudeste da Ásia, onde as seringueiras foram plantadas aos milhares por hectare sem problemas de maior, pois lá não existiam os fungos nem os predadores nativos amazónicos. Mas na Amazónia esta técnica de plantação foi um erro enorme. Se a primeira leva de seringueiras não prosperou porque as sementes não eram boas e porque haviam sido plantadas em solo queimado (aberto com fogos de gasolina), a segunda leva acabou dizimada por fungos, insetos e toda a sorte de pragas.

Com a eclosão da II Guerra Mundial e a ocupação japonesa no sudeste da Ásia, a borracha brasileira voltou a ser estratégica. Roosevelt assinou tratados com os países amazónicos. A migração interna em direção à Amazónia foi encorajada e tudo prometido aos “soldados da borracha”. Botânicos do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos vieram para a Fordlândia para a produção de clones de seringueiras, mas “pragas e insetos continuaram a solapar todos os esforços” e extraía-se somente cerca de 178 quilos de látex por hectare, duas vezes menos os que os camponeses de Sumatra haviam conseguido ainda em 1930.
A convivência do industrialismo massivo com a floresta revelou-se portanto impossível. A indústria humana foi derrotada pelo “inferno verde” da floresta⁸⁷.


⁸⁷ Herculano, Selene (2012) “As Cidadelas Esquecidas de Henry Ford na Selva Amazónica” in Revista VITAS – Visões Transdisciplinares sobre Ambiente e Sociedade, ISSN 2238-1627, Nº 3, junho de 2012. Página consultada a 12 de Outubro de 2013,
<http://www.uff.br/revistavitas/images/AS%20CIDADELAS%20V2%20ESQUECIDAS%20DE%20FORD%20NA%20SELVA.pdf>

⁸⁸ Cruls, Gastão (1939) “Impressões de uma Visita à Companhia Ford Industrial do Brasil” in revista Brasileira de Geografia, Ano I, nº 4, Outubro de 1939. Página consultada a 12 de Outubro de 2013,
<http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/periodicos/115/rbg_1939_v1_n4.pdf>

075 - Início da Caminhada pela Floresta do Tapajós

Foram duas horas e meia de carro, com muitas paragens (responsabilidade minha, estou consciente – com grande paciência do guia Taketomi, que conduzia), conversas e fotos, até chegarmos finalmente à entrada da floresta do Tapajós, onde nos encontramos agora. São onze da manhã e vamos dar início à caminhada pelo interior da floresta, durante cerca de quatro horas. Levamos alguma comida connosco, já que almoçaremos apenas no regresso, às três da tarde.

Casas dadas pelo Governo Brasileiro aos índios. Contou-nos o guia Taketomi que estes preferem todavia as cabanas de palha porque não aquecem tanto. E verificámos em todos os casos que de facto – ao lado das casas oferecidas, existiam sempre outras de palha.

A fruta jaca, que tive oportunidade de comer várias vezes no Vietname. Aqui na Amazónia curiosamente acabámos por nunca prová-la.

Esta fruta “Jaca” é parecida com o ”Durião”, e ao vê-la lembro-me sempre dum episódio embaraçoso que passei no aeroporto do Vietname.  Eu levava uma saco com duriões (que têm um tamanho semelhante a esta jaca). Ora durião é uma fruta que cheira muito mal, um odor como o do queijo malcheiroso, mas a fruta no seu interior é deliciosa. E eu tentei trazê-la para Portugal. Os seguranças no aeroporto começaram a sorrir uns para os outros, ao verem o meu saco com duriões. Eu fiquei fã desta fruta, é realmente saborosa, mas infelizmente eles não me deixaram passar. Ou melhor, deixaram-me passar, mas apreenderam os frutos. Espero que tenham feito bom proveito deles, ao menos. Terá sido boa ideia a sua apreensão, eventualmente, porque fechados treze horas num avião com aquele cheiro de queijo malcheiroso era capaz de não ser boa ideia. (Também podíamos comê-los e ficava o problema resolvido, mas enfim, os seguranças vietnamitas não acharam o mesmo).

Aqui temos o colorante vermelho que os índios usam para se pintar: o fruto urucum, que o guia Taketomi apanhou na árvore urucunzeiro. Daqui derivam algumas palavras dos índios, como o nome do peixe pirarucu. Conforme explicado na crónica 9, “urucum” significa “vermelho”. O nome “pirarucu” vem dos índios tupis: “pirá” significa “peixe” e “urucum” vermelho.

Eis um novo sumo para provar: de cupuaçu. Na crónica 9 vimos o fruto à venda no mercado de Ver-o-Peso. Na crónica 36 provámos o doce de cupuaçu como sobremesa, na pousada do Marajó. E agora na floresta do Tapajós provámos o sumo. Posso dizer que nenhum me agradou por aí além… O sabor é muito intenso e ligeiramente amargo. O Filipe não apreciou o doce, mas gostou do sumo, porém. Bebeu o seu copo e ainda mais o meu.

Esta caminhada foi feita com um guia local e tivemos ainda a companhia de uma turista brasileira, a Laura, de Minas Gerais, que veio passar três ou quatro dias sozinha à Amazónia. O guia Taketomi não nos acompanhou, foi-se embora e ficou entretido na construção do seu novo barco, o qual veremos mais à frente.

076 - No Interior da Floresta Amazónica

Começamos pela floresta secundária, mais espaçada, com mais aberturas e vegetação rasteira do que a existente numa floresta primária, onde chegaremos mais à frente durante estas quatro horas de caminhada. Mesmo sendo mais aberta, o grau de humidade é elevadíssimo. O sol consegue entrar e permite às plantas mais baixas gerar a fotossíntese (por isso numa floresta primária, alta, muito cerrada, o sol não entra, as plantas rasas não conseguem desenvolver-se) mas mesmo com o sol a conseguir entrar, o grau de humidade é enorme, e rapidamente nos pôs a transpirar loucamente. Se notámos a elevada humidade mal aterrámos em Belém, agora é que vamos saber o que é ela.

Estamos então numa floresta secundária, como referi, a qual surge quer por causas naturais, quer pela ação do homem, nomeadamente o corte raso de florestas primárias para projetos de desenvolvimento como agricultura, pecuária e mineração. Na Amazónia, o fogo é ainda o principal trato cultural utilizado na preparação do solo para agricultura e pecuária, tanto pelos pequenos como pelos grandes fazendeiros. Combinando a baixa fertilidade do solo e o baixo preço da terra, assim que as fontes naturais de nutrientes são exauridas, as áreas são abandonadas e novas florestas primárias são derrubadas e queimadas. Por conta disto, grandes extensões de área da Amazónia são cobertas por florestas secundárias originadas de áreas abandonadas pela agricultura ou pastagem. Tendo em conta que a reconstituição da floresta primária pode levar cerca de 200 anos, a velocidade do desmatamento é motivo de preocupação não só nacional, como internacional⁸⁹.

Em função do avanço do derrube da floresta, uma área equivalente à da França (um pouco mais até: 680 mil km²) já foi desmatada. Estima-se que nas próximas décadas mais da metade da Amazónia brasileira estará desmatada ou degradada em decorrência da exploração de madeira e do fogo, caso o padrão de ocupação siga a trajetória das últimas duas décadas⁹⁰.

Eu estou a usar os brincos comprados na praia, em Alter do Chão, feitos de sementes aqui da Amazónia.

Planta chamada “Escada-de-Jaboti”, a qual se encontra com muita frequência no Estado do Pará. As folhas, caules e raízes destas espécies (há cerca de 300 espécies desta planta) são amplamente utilizados em forma de chás e outras preparações para o tratamento de várias enfermidades, principalmente infeções, processos dolorosos e diabetes. A escada-de-jaboti é geralmente usada por uma geração mais antiga da população, que planta a espécie para consumo próprio⁹¹.

Uma belíssima borboleta azul esvoaça à nossa volta, grande. As suas asas abertas terão um diâmetro de dez centímetros, aproximadamente. Mas elas chegam a ter entre treze e vinte centímetros de diâmetro. É a chamada borboleta Morpho Didius, e eu bem que tentava fotografá-la, mas ela desviava-se de repente, voava aos zigue-zagues. Eu olhava através da máquina fotográfica, e já não a via. Tinha de tirar a vista da máquina e procurá-la. O Filipe, a Laura e o guia Dido iam-me dizendo onde estava “Agora está à direita! Agora está atrás de ti!…”, mas ela não se deixou apanhar de forma alguma; esta foto foi a melhorzita que consegui: uma mancha azul no verde da floresta. As borboletas Morpho Didius vivem em áreas tropicais, nomeadamente nas florestas. Elas são nativas do Equador e do Perú, podendo ser encontradas em toda América Central e do Sul. Costumam andar próximas do chão, em busca de comida. Ocasionalmente voam para o topo das árvores para se aquecerem ao sol. As borboletas Morpho Didius encontram comida experimentando o ar com as suas antenas, à procura de qualquer coisa que pareça comestível. As antenas funcionam como órgão de olfato e degustação. Elas comem uma grande variedade de alimentos líquidos, como frutas podres, matérias animais em decomposição, lama, seiva e fungos. Sugam o alimento líquido com a sua probóscide, um longo apêndice da boca. Vivem em torno de apenas 115 dias. Saem de um ovo como uma lagarta avermelhada, e quando se transformam em borboletas adultas passam então o resto da vida comendo e acasalando⁹².

O ninho de uma tarântula. Mas ela foi passear, não se encontra em casa. Eu olhei à volta, mais exatamente à volta dos meus dedinhos dos pés, que se encontram à mostra. Onde andas tu, tarântulazinha?… Nada à vista; prosseguimos caminho.

Borboleta Morpho Didius
Foto: ehow.com.br


⁸⁹ Lima, Adriano et al.. (2007) “Análise da estrutura e do estoque de fitomassa de uma floresta secundária da região de Manaus AM, dez anos após corte raso seguido de fogo”. Instituto Nacional de Pesquisas da Amazónia, Acta Amazónica, vol.37 no.1 Manaus. Página consultada a 12 de Outubro de 2013,
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0044-59672007000100005>.

⁹⁰ Moutinho, Paulo (s.d.) “Desmatamento na Amazônia: Desafios para Reduzir as Emissões Brasileiras”. Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável. Página consultada a 12 de Outubro de 2013,
<http://fbds.org.br/fbds/IMG/pdf/doc-508.pdf>.

⁹¹ Ferreira, Edilcina et al.. “Levantamento do Género Bauhinia através de Análisis feitas no Herbário IAN”. Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) da Universidade Federal Rural da Amazónia. Página consultada a 13 de Outubro de 2013,
<http://www.pibic.ufra.edu.br/2012/attachments/article/115/651.pdf>.

⁹² Lapan, Ann (s.d.) “Sobre borboletas Morpho didius” eHow Brasil, Educação e Ciência. Página consultada a 13 de Outubro de 2013,
<http://www.ehow.com.br/sobre-borboletas-morpho-didius-info_41889/>.

077 - As Árvores Gigantes da Amazónia

Avançamos pelo interior da floresta e atingimos a parte primária, acompanhados por vezes por um forte odor a urina de macaco. O nosso guia local leva um terçado consigo, ou seja, uma espécie de sabre, para ir abrindo o mato à nossa passagem. Esta atividade encontra-se controlada e regulamentada, ele sabe o que faz. Caminhamos por um troço definido, não é aconselhável sair dele.

Conforme referido numa crónica anterior, a Amazónia é atualmente a maior floresta tropical do mundo, com cerca de 5.4 milhões de km². Um pouco mais de 80% das suas florestas estão ainda preservadas (são florestas primárias) sendo que destas, 60% encontram-se em território brasileiro. É também o grande berço da biodiversidade planetária, abrigando mais de 20% das espécies terrestres conhecidas. No entanto, a floresta é também extremamente vulnerável à mudança climática global. A combinação do desmatamento ilegal na região com o aquecimento global poderá trazer para a Amazónia fortes períodos de seca com reduções no volume de chuva na ordem dos 20-30%. Consequentemente, as florestas da Amazónia permanecem sob alto risco de incêndios.

A vastidão geográfica da região, as deficiências de estrutura de fiscalização, a corrupção e a impunidade são, entre outros, fatores que dificultam o cumprimento da lei. Apesar de campanhas recentes de combate ao desmatamento ilegal e à grilagem (já falaremos disto), que colocaram dezenas de pessoas na prisão, o problema da incapacidade do governo em fiscalizar permanece. Somado a este cenário está o da impunidade. Mesmo quando autuado, aquele que promove desmatamento ilegal raramente paga a multa aplicada⁹⁰.

O que é “grilagem”?
É a apropriação de terras públicas feita de modo indevido e por meio de falsificação de documentos de titularidade da terra. É a chamada “grilagem de terras”. A grilagem de terras existe em virtude de especulação imobiliária, venda de madeiras e lavagem de dinheiro. Em 1999, grande parte dos cem milhões de hectares de terras apropriadas indevidamente estavam situadas no Estado do Pará, onde nos encontramos, dado este que foi publicado na época de acordo com um estudo realizado pelo Governo Federal para a Comissão Parlamentar de Inquérito da Grilagem.
Em 2006, segundo pesquisas de organizações não-governamentais, cerca de trinta milhões de hectares de terras estavam nas mãos de grileiros no Pará. Tradicionalmente, os estados do Amazonas (onde também iremos estar em breve) e do Pará são o principal foco da ação de grileiros no Brasil.

Não se deve confundir grileiro com posseiro. O grileiro tem boas condições financeiras, influências entre os funcionários do governo e autoridades, e não vive na terra grilada. O posseiro é o pequeno agricultor que ocupa a terra para sobreviver⁹³.

Árvore seringueira, a qual pode atingir trinta metros de altura, iniciando aos quatro anos a produção de sementes, e aos seis-sete anos a produção de látex (borracha natural). Os pequenos cortes que se vêm na casca da árvore servem para extrair o látex. Ocorre na Amazónia brasileira, bem como na Bolívia, Colômbia, Perú, Venezuela, Equador, Suriname e Guiana. Das onze espécies existentes de seringueira, a originária do Brasil, Hevea Brasiliensis, é a que tem a maior capacidade produtiva⁹⁴.

Repare-se na escuridão. É cerca do meio-dia, mas todas as fotos têm de ser tiradas com flash.

Árvore Piquiazeiro, uma árvore majestosa da floresta primária que pode atingir grandes dimensões como quarenta a cinquenta metros de altura. Esta, explicou-nos o guia Dido, tem entre 300 a 400 anos de idade. O piquiazeiro possui tronco de até 2,5 metros de diâmetro, e uma copa enorme que se destaca na floresta. Ocorre em toda a Amazónia. O fruto do piquiazeiro é comestível depois de cozido e é bastante apreciado pela população. A madeira da árvore é de qualidade superior, possui grande resistência e foi muito utilizada na indústria naval, a ponto de quase extinguir a espécie na Amazónia. As flores do piquiazeiro são muito apreciadas pelos animais de caça. Durante a floração, os caçadores esperam por eles em baixo das árvores – nomeadamente pacas, veados, quatis, tatus e cutias (as cutias vimo-las na crónica 15, no Jardim Botânico em Belém) – quando as suas flores amarelas caem no chão.

Uma árvore de piquiá normalmente não produz frutos todos os anos. Muitas árvores “descansam” num ano e produzem no outro. No Pará, dizem que para saber se o fruto está maduro é só olhar para o topo da árvore. Se as folhas estão verdes, o fruto ainda não está bom. Também dizem que enquanto alguns piquiazeiros “jogam” frutos saborosos, outros só produzem frutos amargos. É bom conhecer o vendedor da feira para poder comprar piquiá gostoso. Em 2004, nas dez principais feiras de Belém, foram comercializados cerca de 343 mil frutos de piquiá; só no mercado do Ver-o-Peso foram vendidos 108 mil. O comércio destes frutos movimentou uma renda bruta de 138 mil reais, equivalente a 50 mil euros, ao câmbio que usamos nesta viagem (um real correspondendo a 0,36 cêntimos de euro). Nós vimo-los à venda no mercado de Ver-o-Peso, pode ser visto na crónica 9, na sexta foto, junto ao biribá, nós sem sabermos ainda a importância dele, nessa altura. O fruto do piquiá também permite fazer óleo, o qual serve para cozinhar, sendo muito bom para fritar peixe. Citando a publicação abaixo: “Durante uma boa safra de piquiá, Senhorinha de Nanaí juntou muitos frutos e tirou tanto óleo que ela não precisou comprar nenhum litro no ano inteiro. Como ela mesma diz: “evitando a compra do óleo do mercado, a gente economiza o dinheiro que não tem”⁹⁵.

Infelizmente não chegámos a provar este fruto, que precisa de ser cozinhado, mas com sorte comemos peixe frito no seu óleo.

Fruto Piquiá
(www.cdpara.pa.gov.br)

Ninho de cupins, já falei sobre eles na crónica 41. Até agora tínhamos visto apenas ninhos de cupins arborícolas (nos troncos das árvores ou em paus podres); este é um ninho de cupins humívoros, ou seja, vivem em ninhos feitos no chão. Estes alimentam-se de húmus e compreendem cerca de 85% das espécies de cupins conhecidas do Brasil⁹⁶.


⁹⁰ Moutinho, Paulo (s.d.) “Desmatamento na Amazônia: Desafios para Reduzir as Emissões Brasileiras”. Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável. Página consultada a 12 de Outubro de 2013,
<http://fbds.org.br/fbds/IMG/pdf/doc-508.pdf>.

⁹³ InfoEscola (s.d.) “Grilagem de Terras”. Página consultada a 13 de Outubro de 2013,
<http://www.infoescola.com/geografia/grilagem-de-terras/>.

⁹⁴ Marto, Giovana (2007) “Hevea brasiliensis (Seringueira)”. Instituto de Pesquisas e Estudos Florestais. Página consultada a 13 de Outubro de 2013,
<http://www.ipef.br/identificacao/hevea.brasiliensis.asp>.

⁹⁵ Shanley, Patricia et al.. (s.d.)“Piquiá”, Center for International Forestry Research.  Página consultada a 13 de Outubro de 2013,
<http://www.cifor.org/publications/pdf_files/Books/BShanley1001/127_136.pdf

⁹⁶ Zanetti, Ronald (s.d.) “Manejo Integrado de Cupins” Notas de Aula de ENT 115, Universidade Federal de Lavras, Minas Gerais. Página consultada a 13 de Outubro de 2013,
<http://www.den.ufla.br/siteantigo/Professores/Ronald/Disciplinas/Notas%20Aula/MIPFlorestas%20cupins.pdf>.

078 – Tarântulas & Créditos de Carbono

Como se pode então controlar o desmatamento da floresta amazónica? A lei e a fiscalização não funcionam. A floresta é demasiado grande para conseguir controlar tudo, mesmo com imagens de satélite, como acontece  atualmente. Além de que a corrupção é muita, e foi uma das causas das recentes manifestações por todo o Brasil, sobre as quais falarei mais adiante, já que as apanhámos (apenas na televisão) durante a nossa viagem.

Entremos então no capítulo dos chamados “créditos de carbono”.
O que falta? Um mecanismo que traga valoração económica para a floresta mantida em pé. Hoje, na Amazónia, ganha-se mais derrubando a floresta do que preservando-a. Alterar esta lógica económica que se sustenta na continuidade do desmatamento é, portanto, fundamental. Encontrar uma compensação económica pela decisão de não desmatar e/ou preservar florestas pode ser o caminho.

Em 2003 um grupo de pesquisadores coordenado pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazónia (IPAM) lançou uma proposta nas Nações Unidas, no âmbito do COP-9 em Milão, que ficou conhecida como “Redução Compensada do Desmatamento”. Esta proposta defendia o seguinte: os países em desenvolvimento que se dispusessem voluntariamente, e conseguissem promover reduções das emissões nacionais oriundas de desmatamento, receberiam compensação financeira internacional correspondente às emissões evitadas. O valor a ser recebido teria como referência o preço do carbono no mercado. A proposta sofreu forte resistência não somente por parte do governo brasileiro, mas também por organizações nacionais e internacionais.

Em 2006, porém, na COP-12 em Nairobi, o governo brasileiro defendeu a criação de um fundo voluntário a ser alimentado por recursos de doação de países desenvolvidos que quisessem contribuir para a redução do desmatamento em países em desenvolvimento. Esta foi a semente do “Fundo Amazónia”⁹⁰. O lema deste fundo é: “O Brasil cuida. O mundo apoia. Todos ganham”. Em 25 de março de 2009, o Fundo Amazónia recebeu a primeira doação de 110 milhões  de dólares do Governo da Noruega. Ao todo, a Noruega doará um bilião de dólares até 2015. No website oficial  do Fundo Amazónia pode ser visto o detalhe de todas as doações. A Alemanha e a empresa Petrobrás são os restantes doadores.

Os “COP”, cujo significado é Conference of the Parties, ou seja, Conferência das Partes, são reuniões periódicas entre os países que assinaram o tratado da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima. Neste tratado definiram-se vários protocolos, nomeadamente o famoso Protocolo de Quioto, que visa redução da emissão dos gases de efeito estufa (GEE). Um dos pontos deste Protocolo é o conceito de comercialização de créditos de carbono⁹⁷. É determinada uma quota máxima de GEE que os países desenvolvidos podem emitir. Sendo que uma tonelada de dióxido de carbono (CO2) corresponde a um crédito de carbono. Assim, as indústrias que conseguirem diminuir as suas emissões abaixo das quotas determinadas, podem vender, a preços de mercado, o excedente de “redução de emissão” ou “permissão de emissão” no mercado nacional ou internacional. Por outro lado, os países ou indústrias que não conseguem atingir as metas de reduções de emissões, tornam-se compradores de créditos de carbono⁹⁸.

Ou seja, por outras palavras: existe um sistema de compensação, no qual uma indústria que não tenha conseguido reduzir os níveis de poluição pode comprar créditos de terceiros que tenham feito alguma ação e tenham conseguido reduzir as emissões, mesmo que em outro local do planeta.
Aqui entra a Amazónia, já que os créditos de carbono tornam-se num mecanismo de investimentos pelo qual os países desenvolvidos podem investir em projetos como por exemplo os reflorestamentos⁹⁹. Ganham créditos de carbono, que podem depois gastar nas suas indústrias nacionais.

A média de preço paga em 2012 pelas compensações foi de 5,9 dólares/tonelada, num total de 512 milhões de dólares. No geral, o setor privado contratou 90% do volume de compensações. Multinacionais responderam por 36% da demanda, compensando 27 milhões de toneladas em 2012, seguidas das empresas médias e pequenas (31%) e corporações domésticas (13%). Na América Latina, o setor de florestas ainda é o que mais gera compensações e os principais compradores dos créditos latino-americanos são os europeus¹⁰⁰.

O sistema de créditos de carbono tem sido severamente atacado, dado ser considerado uma fachada para os países desenvolvidos continuarem a emitir gases de efeito estufa em grandes quantidades, compensando depois em países subdesenvolvidos, onde investem em projetos que permitem reduzir aí as emissões. As empresas que não se tornam mais verdes, que continuam a usar tecnologias antigas e bastante poluidoras, compram créditos que sobraram daquelas que estão abaixo da quota.  E assim o problema da emissão nestes países ou nestas empresas de facto não está a ser resolvido.

Árvore Carapanaúba, espécie muito utilizada na medicina popular da região amazónica como anticoncecional, no tratamento de inflamações de útero e de ovário, em diabetes, em problemas estomacais, contra cancro, febre e reumatismo. Nativos de diferentes locais da Amazónia usam-na também para a cura da malária.  O nome carapanaúba vem da língua indígena “carapana”, que significa inseto, e “uba”, que significa ova, ou seja, ninho de insetos, isto por causa da sua aparência, com buracos no seu tronco. Tem até 25 metros de altura e diâmetro de 40 a 60 cm. Embora a madeira da carapanaúba seja pesada e dura, é pouco resistente, mas é fácil de trabalhar, servindo principalmente para a confeção de cabos e ferramentas¹⁰¹.

Tarântula, mais conhecida no Brasil por “aranha-caranguejeira”. Ocorre em todos os continentes, com exceção da Antártida. Vive nas regiões temperadas e tropicais e é um animal muito calmo. Precisa de estar muito irritada para atacar. Eu fui-me aproximando cada vez mais, disparando fotos umas atrás das outras, até estar com o nariz quase em cima dela. Ela observava-me, e provavelmente observava também os meus dedos dos pés, nas sandálias, ali ao pé dela. A picada ao que parece dói muito, mas não é venenosa para o ser humano. A sua defesa, além de fugir e esconder-se, são os pêlos urticantes nas costas e abdómen, que a tarântula pressiona contra o corpo do possível predador, numas espécies, ou lança pelo ar com as patas de trás, noutras. Algumas espécies de tarântulas também deixam pêlos nos sacos de ovos, para desencorajar predadores. Estes pêlos não possuem qualquer substância química irritante, simplesmente picam¹⁰². As tarântulas em média atingem de 15 a 25 cm de comprimento com as pernas estendidas, mas existem relatos fiáveis de exemplares que atingiram 30 cm¹⁰³.

Em algumas espécies, a fêmea pode devorar o macho após o acasalamento, pelo que ele foge rapidamente. Os machos morrem mais cedo do que as fêmeas: após a maturidade, que leva entre um e vários anos a atingir, vivem entre dois meses a três anos, dependendo das espécies. As fêmeas vivem entre seis e trinta anos, dependendo das espécies também. São animais noturnos que se alimentam de pequenos animais, todos os que consigam apanhar: desde pequenos pássaros, lagartos, morcegos, sapos. Podem ficar vários dias sem comer. Ao nascerem, os filhotes dispersam-se e vão viver de forma independente, construindo os seus próprios ninhos. Um dos seus principais inimigos é a vespa-caçadora, que procura aranhas grandes para depositar os seus ovos. Assim que a vespa deteta a presença de uma tarântula, atrai-a para fora do seu ninho e espeta-lhe um ferrão paralizante. A tarântula paralizada é então enterrada no seu próprio ninho, ou noutro buraco preparado pela vespa, e esta deposita nela um único ovo, encerrando o buraco com terra. Quando eclode, a larva da vespa começa a alimentar-se da tarântula ainda viva, a qual acaba por morrer¹⁰².


⁹⁰ Moutinho, Paulo (s.d.) “Desmatamento na Amazônia: Desafios para Reduzir as Emissões Brasileiras”. Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável. Página consultada a 12 de Outubro de 2013,
<http://fbds.org.br/fbds/IMG/pdf/doc-508.pdf>.

⁹⁷ Ambiente Brasil (s.d.) “Valores Econômicos Associados ao Seqüestro de Carbono”. Página consultada a 12 de Outubro de 2013,
<http://ambientes.ambientebrasil.com.br/gestao/fixacao_de_carbono/valores_economicos_associados_ao_seq%C3%BCestro_de_carbono.html>.

⁹⁸ Wikipedia (s.d.) “Créditos de carbono”. Página consultada a 12 de Outubro de 2013,
<http://pt.wikipedia.org/wiki/Cr%C3%A9ditos_de_carbono>.

⁹⁹ El Khalili, Amyra “O Que São Créditos de Carbono?” Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa. Página consultada a 12 de Outubro de 2013,
<http://saf.cnpgc.embrapa.br/publicacoes/10.pdf>.

¹⁰⁰ Müller, Fernanda B. (2013) “Valor do mercado voluntário de carbono cai 11% em 2012”. Instituto CarbonoBrasil de Desenvolvimento Científico e Tecnológico.  Página consultada a 12 de Outubro de 2013,
<http://www.institutocarbonobrasil.org.br/noticias/noticia=734335>.

¹⁰¹ Bezerra, Stiffanny et al. (s.d.) “Cadeia Produtiva de duas Espécies Florestais de Uso Farmacológico: Carapanaúba (Aspidosperma spp.) e Uxí-Amarelo (Endopleura uchi (Huber) Cuatrec.)”. Câmara Nacional Florestal. Página consultada a 12 de Outubro de 2013,
<http://www.cnf.org.pe/secretaria_conflat/memorias/DOCUMENTO%20MESAS/MESA%204/Stiffanny%20Bezerra.pdf>.

¹⁰² Gallon, Richard C. (s.d.) “The Natural History of Tarantula Spiders”. British Tarantula Society.  Página consultada a 12 de Outubro de 2013,
<http://www.thebts.co.uk/old_articles/natural.htm>.

¹⁰³ Wikipedia (s.d.) “Tarântula”. Página consultada a 12 de Outubro de 2013,
<http://pt.wikipedia.org/wiki/Tar%C3%A2ntula>.

079 - Fim da Caminhada na Companhia de Macacos

Fomos presenteados com cerca de vinte minutos de chuva torrencial. Continuámos estoicamente a nossa caminhada, à chuva, com grande calor, pois a barriga estava a dar horas e o almoço esperava por nós. Íamos comendo bananas pelo caminho, deixando as cascas para os animais sob indicação do guia Dido, que nos disse não fazer mal. Acabaram-se momentaneamente as fotos, dado que a máquina teve de ser hermeticamente protegida na sua mala de transporte, com impermeável a cobri-la.

Terminemos este passeio com uma mensagem de esperança relativamente ao desmatamento da Amazónia. Continuamos com o texto de Paulo Moutinho, diretor do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazónia):

Os potenciais prejuízos económicos oriundos da associação da imagem de empresas ao desmatamento da Amazónia têm sido ignorados pela grande maioria do empresariado brasileiro, embora esta tendência esteja sendo, rapidamente, revertida. Cada vez mais o consumidor, seja ele de fora ou de dentro do país, está a criar sistemas para avaliar a “pegada ambiental” das empresas. Ignorar esta nova onda de consumo ambientalmente consciente poderá trazer perdas consideráveis no futuro próximo. Mudar a imagem empresarial em relação ao desmatamento parece ter sido a principal motivação, por exemplo, do estabelecimento de um acordo que permitiu a moratória da soja lançada em 2006. Envolvendo empresas na área de distribuição de alimentos ligadas à Associação Brasileira da Indústria de Óleos Vegetais (Abiove) e à Associação Nacional das Empresas Exportadoras de Cereais (Anec), foi possível selar um compromisso de que estas não mais comprariam o grão de plantações estabelecidas à custa de novos desmatamentos. O compromisso segue até hoje. No mesmo caminho segue a moratória da pecuária, com alguns frigoríficos (Marfrig, por exemplo) já se comprometendo a não mais comprar bois produzidos em áreas recém desmatadas. Foi uma resposta rápida a ações da sociedade organizada. Na cadeia da produção de carne e couro do gado da Amazónia, existem várias empresas, aparentemente não ligadas ao desmatamento, que estimulam indiretamente o derrube da floresta.

Estamos a viver um momento histórico no qual ainda é possível trabalhar pela conservação de mais de 80% da floresta original, ao mesmo tempo em que se pode dar uso aos 70 milhões de hectares (dos quais 20 milhões estão abandonados) já desmatados. Ainda existe espaço para a construção de alternativas inteligentes e benéficas que garantam a permanência de grandes extensões de floresta em pé, gerando riquezas e efetivo desenvolvimento. Reconhecer a existência desse potencial, contudo, não significa dizer que ele será realizado. Tal mudança dependerá de uma considerável mudança de postura política, empresarial e da sociedade de consumo. Tal transformação terá que abrir espaço para os setores económicos e políticos comprometidos com o modelo mais sustentável e combater aqueles que operam na lógica predatória e em favor de interesses de curto prazo⁹⁰.

Também está na nossa mão, portanto – simples consumidores. Prestar atenção ao que consumimos e rejeitar algo indevido. Diria mesmo que está tudo na nossa mão.

Acabei por ficar sem saber o nome destas sementes, mas tenho um colar, trazido da Amazónia, feito com elas.

Filipe construindo uma fisga amazónica com a ajuda do guia Dido, que lhe arranjou este ramo bifurcado.

As raízes no chão, chamadas de sapopembas, da árvore Samaúma, sobre a qual falarei à frente mais detalhadamente. Efetivamente farei uma fenomenal escalada de uma.

Pequena exposição para os caminhantes, com crânios de macacos e artefatos indígenas.

Bando de macacos Guariba. Temos de procurar o wally nesta foto – são dois macacos, efetivamente.  Um encontra-se aproximadamente ao centro, outro em cima à esquerda. Falei deles na crónica 52.


⁹⁰ Moutinho, Paulo (s.d.) “Desmatamento na Amazônia: Desafios para Reduzir as Emissões Brasileiras”. Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável. Página consultada a 12 de Outubro de 2013,
<http://fbds.org.br/fbds/IMG/pdf/doc-508.pdf>.

080 - Um Delicioso Almoço às Três da Tarde

Já começa a ser repetitivo eu dizer que foi a melhor refeição desta viagem, mas pelos vistos houve algumas que foram as melhores. São todas melhores. A comida na Amazónia é um espanto, é a verdade. Todos estes nomes esquisitos, e todas estas coisas tão saborosas.
Após quatro horas de caminhada pela floresta, o Filipe tomou um banho no rio para refrescar-se (eu não quis, não achei que estivesse muito calor, deviam estar vinte e tal graus, húmidos como sempre, pelo que fiquei na margem a olhar) e fomos então recebidos pela dona Conceição, a qual nos preparou um autêntico manjar dos deuses. Comida típica da aldeia: um tabuleiro de filhote paraense no forno com ovos de galinha (sobre o filhote paraense falei dele na crónica 16) e o segundo tabuleiro com “pirão”, que é uma mistura de peixe com farinha. Bom, estava tudo divinal, deliciámo-nos completamente, satisfeitos com a caminhada e agora com a comida. São pequenos prazeres que vão animando as nossas pequenas vidas. Almoçámos ainda na companhia da Laura, de Minas Gerais. O almoço foi apenas para nós os três, de facto. O guia Taketomi almoçou mais cedo e juntou-se-nos apenas ao final do dia, quando nos levou aos três de regresso a Alter do Chão. Porque o nosso dia aqui pelo Tapajós vai continuar com o guia Dido: ainda estamos a meio da tarde e uma série de passeios nos aguardam. De sobremesa tivemos outra delícia, desta vez oferecida pelo guia Taketomi, que a deixou em casa da dona Conceição (o que vale é que andamos a fazer exercício intenso, os dias são non-stop, porque voltaríamos com certeza demasiado rechonchudos para Lisboa…): caju com natas. Eu já não tenho palavras, ou então repito as mesmas: que delícia.

A dona Conceição a servir o delicioso e inesquecível almoço.

O Filipe comenta que a coisa porventura não irá resultar daqui a uns tempos, quando ambos crescerem: o pintainho e o gatinho. Agora pequenos, em amena convivência. Nós rimo-nos todos, observando os dois.

081 - Adornos e Borracha na Comunidade de Jamaraquá

Tudo encalorado.

Após o almoço visitámos uma loja de colares, brincos e pulseiras artesanais, onde o Filipe comprou uma pulseira por cinco reais, feita de Açaí pintado de amarelo, e de sementes da Árvore-de-Sabão ou Saboneteira (as bolas pretas), chamada assim porque fazem espuma quando dentro de água. É uma árvore importante na Amazónia, e aproveito para falar dela: a Árvore-de-Sabão ocorre nas regiões tropicais da América e tem até nove metros de altura. Os frutos contêm saponina, com propriedades similares às do sabão, sendo utilizados na lavagem de roupa. Algumas tribos de índios já conheciam o valor desta planta e utilizavam-na para se banharem. A casca, a raiz e o fruto são utilizados na medicina popular como calmante, adstringente, diurético, expectorante, tónico, depurativo do sangue e contra a tosse. Já as sementes esféricas e duras, conhecidas como “salta-martim”, são utilizadas em artesanato. A madeira é empregada na construção civil, para confeção de brinquedos, caixotaria, etc. Além disto, a Árvore-de-Sabão é utilizada na arborização urbana¹⁰⁴’¹⁰⁵.

Visitámos depois um espaço onde é guardada a borracha fabricada na comunidade. Nesta foto vêem-se alguns dos objetos feitos com ela: carteiras e blocos. E neste vídeo do You Tube pode ser vista uma reportagem que mostra o fabrico da borracha desde a extração do látex da seringueira.

Árvore Açaizeiro

Árvore-de-Sabão


¹⁰⁴ Komani, Loja Virtual (2010) “Semente Saboneteira”. Página consultada a 20 de Outubro de 2013,
<http://komani-komani.blogspot.pt/2010/12/semente-saboneteira.html>.

¹⁰⁵ Escola Superior de Agricultura Luiz de Queirós (s.d.) “Saboeiro”, Universidade de São Paulo. Página consultada a 20 de Outubro de 2013,
<http://www.esalq.usp.br/trilhas/medicina/am08.htm>.

082 - Uma Fisga 100% Amazónica

O guia Dido ajudou o Filipe na construção da sua fisga amazónica. O pau bifurcado já tinha, trazido da caminhada pela floresta do Tapajós, faltava agora o elástico. Esta é uma placa de borracha feita pelo próprio guia, que as fabrica e vende.

Vamos de seguida dar um passeio de barco pelo Igarapé da Terra Preta. Recordemos que um igarapé é um canal de um rio, neste caso do Rio Tapajós.

083 - Passeio de Barco por um Igarapé

Este barco mete água, pelo que o Filipe ficou encarregue de o ir esvaziando periodicamente, com um copo de plástico que já ali estava para isso mesmo. Nós ríamo-nos. A certo ponto rimos mesmo à gargalhada quando eu resolvi imitar um noticiário brasileiro: (leia-se com pronúncia brasileira, portanto…) “Dois turistas portugueses e uma turista de Minas Gerais, juntamente com seu guia local, morreram todos devorados por uma anaconda, esta tarde no rio Tapajós, na Amazónia”.

O guia Dido contou-nos que precisamente na véspera tinha apanhado uma anaconda com cerca de dois metros (pequenita, portanto, esta não nos causaria grandes problemas, digo eu…) na sua rede de pesca, cerca das seis da tarde. Matou-a, tirou-lhe a pele para fazer couro e extraiu-lhe a banha, uma substância branca que serve como curativo. Esta banha é utilizada em contusões, por exemplo, ou situações de reumatismo. Ao saber que queríamos tanto ver uma, disse que se imaginasse que ia estar com um grupo assim, tê-la-ia guardado. É pena. Da próxima vez telefono aos guias na véspera a avisar que vou chegar!

Fica aqui um vídeo disponível no You Tube que mostra a extração da banha de uma sucuri (lembro que sucuri ou anaconda é a mesma coisa), e como este vídeo tem má qualidade de imagem, deixo outro que mostra mais claramente a abertura da cobra: vídeo 2.

Ninho de marimbondos, uma espécie de vespa, cuja picada é extremamente dolorosa e contém veneno. O mais curioso é que é proibido por lei matar este bicharoco (não sei o que será pior, se morrer esmigalhado por uma anaconda, ou picado por marimbondos…). No portal do Instituto Biológico de São Paulo encontra-se uma notícia retirada de um Jornal Agrícola que reza assim:

“Como me livrar de marimbondos e vespas que tomaram conta da minha casa? (…)
Segundo o proprietário da empresa SOS Abelhas, especializada na captura de enxames, Antonio Padovani Junior, o “Toninho das Abelhas”, uma das soluções é recolher os ninhos e soltá-los em local distante. Como é proibido por lei matar os marimbondos, Toninho aconselha ensacar, com luvas, os ninhos em sacos plásticos grandes. Depois, retirar os ninhos, fechando o saco plástico em seguida e soltando-os na mata, a pelo menos 300 metros de distância da casa. Toninho diz que a captura deve ser feita à noite.

Já o pesquisador do Instituto Biológico (…) João Justi Junior explica que esses insetos polinizam plantas e auxiliam no controle de pragas, pois alimentam as suas crias com insetos como cupins, formigas, lagartas, gafanhotos e mosquitos. Essa influência positiva sobre o meio ambiente levou pesquisadores a desenvolver estudos para aproveitar os marimbondos no controle biológico de pragas. “Esses insetos são parte da fauna brasileira, protegidos por lei. Não podemos recomendar nenhuma forma de controle nem remanejamento. A lei número 9.605/98 permite apenas que se faça a remoção ou controle de colónias de vespas e marimbondos desde que seja devidamente caracterizado o risco que essas espécies trazem  ao homem e desde que expressamente autorizado pela autoridade competente”, diz. (…)”¹⁰⁶


¹⁰⁶ Suplemento Agrícola do Jornal O Estado de São Paulo (s.d.) “Marimbondos tomam conta da casa”, in Instituto Biológico, Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo. Página consultada a 20 de Outubro de 2013,
<http://www.biologico.sp.gov.br/noticias.php?id=193>.

084 - O Barco Novo de Taketomi

Ao final da tarde despedimo-nos do guia Dido e voltámos para Alter do Chão com o guia Taketomi. Ainda parámos uns minutos para ir ver o barco deste, que foi construído aqui mesmo pelos locais, e estava agora a ser colocado dentro de água, operação custosa e demorada. Aproveitemos esta pausa, enquanto observamos o barco, para falar do Instituto Butantan, um instituto para animais peçonhentos – conforme nos contou a Laura, a turista de Minas Gerais que nos acompanhou durante o dia de hoje. Animais peçonhentos. Acho graça a esta palavra. Os animais peçonhentos – ou seja, os animais que para caçarem ou se defenderem têm a capacidade de inocular substâncias tóxicas produzidas em glândulas especializadas do seu corpo – aqui no Brasil são muitos. Na Amazónia então, perder-se-á a conta. Atenção que há uma diferença entre animais venenosos e animais peçonhentos. Existem animais que são venenosos, mas não são peçonhentos. Os animais venenosos não possuem nenhum órgão capaz de inocular o veneno, e essa é a principal diferença entre ambos. Como animal venenoso não peçonhento podemos dar o exemplo das borboletas ou dos sapos que ativam o veneno na sua pele quando são atacados. Não agem ativamente. Não pregam uma ferroada no inimigo. Já os marimbondos, que vimos na crónica anterior, são peçonhentos. Cobras, aranhas, escorpiões, centopeias, taturanas, vespas, formigas, abelhas e marimbondos são exemplos de animais peçonhentos, que são responsáveis por causar inúmeros acidentes e mortes, tanto nas cidades como nas áreas rurais. Os sintomas provocados pela picada de animais peçonhentos irão depender da espécie do animal, quantidade de veneno injetado, condições de nutrição, peso e altura da pessoa. Quando uma pessoa é picada por algum animal peçonhento, é importante que seja levada para um hospital imediatamente, mas podem ser tomadas algumas medidas até que a vítima seja atendida por alguém especializado. Primeiro é importante que se identifique qual o animal causador do acidente; segundo não deve ser feito nenhum torniquete; não se deve aplicar nenhum tipo de medicamento, deve apenas lavar-se com água, ou com água e sabão ; deve-se manter o órgão afetado erguido; não fazer sucção do veneno e não espremer o local da picada¹⁰⁷’¹⁰⁸.

De acordo com dados de 2010, os acidentes com animais peçonhentos cresceram quase 33% em seis anos no Brasil. O Ministério da Saúde teve em 2003, 68 mil notificações contra 90 mil em 2009. Veja-se a quantidade de acidentes provocados por:

Escorpiões – 45.721
Serpentes – 22.763
Aranhas – 18.687
Lagartas – 3.387

Estatísticas mostram que a relação de acidentes por animais peçonhentos é de três casos em homens contra dois casos em mulheres. Apontam também que três quartos dos casos são considerados de leve gravidade, sendo apenas 3% dos casos considerados graves. De forma geral, as cobras são os animais peçonhentos mais conhecidos e temidos. Entretanto, animais pequenos, como os escorpiões, aranhas e lagartas, podem ser tão perigosos quanto as cobras peçonhentas. Especialistas afirmam que uma das melhores formas de prevenir acidentes com tais animais, é conhecer os seus hábitos. Tais acidentes foram responsáveis por 309 mortes no Brasil em 2009. Em geral, as chuvas são o principal fator do aumento desses índices. Uma das hipóteses está relacionada com os alagamentos, pois os animais são obrigados a sair dos seus esconderijos naturais.

Cursos de capacitação técnica para manejo de cobras, escorpiões, etc., são desenvolvidos pelo Ministério da Saúde. Realizados em quatro estados brasileiros com maior índice de acidentes com escorpiões (Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Paraná e Pará), em 2010 a área técnica distribuiu às Secretarias Estaduais da Saúde cem mil cartazes com orientações sobre educação ambiental e prevenção de acidentes com escorpiões¹⁰⁹.

(Continua na próxima crónica).


¹⁰⁷ Moraes, Paula (s.d.) “Animais Peçonhentos”. Mundo Educação. Página consultada a 26 de outubro de 2013,
<http://www.mundoeducacao.com/biologia/animais-peconhentos.htm>.

¹⁰⁸ Hospital Vital Brazil (s.d.) “Acidentes por Animais Peçonhentos” Instituto Butantã, São Paulo. Página consultada a 26 de outubro de 2013,
<http://www.butantan.gov.br/home/acidente_por_animais_peconhentos.php>.

¹⁰⁹ Rodrigues, Lorena e Chieffi, Cristiana (s.d.) “Animais Peçonhentos”.  Página consultada a 26 de outubro de 2013,
<http://animais-peconhentos.info/>.

085 - Última Noite em Alter do Chão

Continuando o tema da última crónica, os animais peçonhentos.

Aqui entra o Instituto Butantan, um centro de pesquisa biomédica localizado em São Paulo. É uma instituição pública estadual, subordinada à Secretaria de Saúde do governo paulista. O nome Butantan, segundo etimologistas, é originário do tupi e quer dizer “terra dura dura”. Dos seus laboratórios nasceram importantes pesquisas no campo da herpetologia, microbiologia e imunologia, reconhecidas internacionalmente¹¹⁰. O Butantan é responsável por mais de 93% dos soros e vacinas produzidas no Brasil¹¹¹. Toda a produção é comprada pelo Ministério da Saúde que a distribui por todo o país. Assim, o soro está disponível em serviços de saúde e é oferecido gratuitamente aos acidentados¹¹².  Na sede do Instituto Butantan estão instaladas modernas fábricas de produção, contando também com a Fazenda São Joaquim, local onde se encontram os 800 cavalos responsáveis pela produção de anticorpos integrantes dos soros curativos. O primeiro passo para se produzir o soro é extrair o veneno do animal – uma serpente, por exemplo. Um cavalo recebe o veneno em pequenas e sucessivas doses, que não prejudicam a sua saúde. Ele começa então a produzir anticorpos contra a peçonha. Porque são usados cavalos? “Poderia ser qualquer animal, mas o cavalo é dócil e tem um rendimento maior na produção de anticorpos que outros mamíferos”, diz a bioquímica Hisako Higashi, do Instituto Butantan. Após dez dias, amostras de sangue são retiradas do cavalo até se constatar que já há anticorpos suficientes no corpo do animal, o que leva em média quinze dias. Quando isso ocorre, dezasseis litros de sangue são colhidos. Então separa-se o plasma, parte do sangue onde ficam os anticorpos. O restante é reintroduzido no animal. O plasma do sangue é purificado em reatores e diluído. Aí o soro já está pronto¹¹³.

Reconhecido internacionalmente, o instituto é um dos maiores centros de pesquisa biomédica do mundo. Tem vários laboratórios, nomeadamente o laboratório de Artrópodes, que tem por objetivo desenvolver atividades de pesquisa científica e produção, com vista à obtenção de venenos aracnídicos para elaboração de imunobiológicos. Realiza a criação, extração e manutenção em cativeiro. Existe também o laboratório de Herpetologia, cuja principal finalidade é expandir os conhecimentos na área de comportamento, alimentação e reprodução das serpentes brasileiras, formando um plantel saudável para a obtenção de veneno, de forma a produzir antivenenos bem como pesquisas imunobiológicas. Já o laboratório de Imunopatologia tem como objetivos explorar a diversidade dos venenos e das toxinas de serpentes, aranhas, escorpiões, centopeias, raias, vespas, esponjas, dinoflagelados e cianobactérias, para compreender o seu mecanismo de ação e papel no envenenamento e caracterizar ferramentas biológicas que possam ser utilizadas como modelos para o desenvolvimento de drogas.¹¹⁴

Existem ainda uma série de outros laboratórios, cuja informação detalhada pode ser encontrada no seu website.

Recentemente, em 2010, houve um incêndio num dos edifícios do Instituto, o Prédio das Coleções, o qual destruiu milhares de espécies utilizadas para pesquisas científicas. O material reunido em mais de cem anos foi perdido. A coleção era a maior do Brasil e a maior do mundo desses animais para uma região tropical¹¹⁰.

O Instituto Butantan aceita doações de animais peçonhentos, preferencialmente vivos, e explica no seu website como apanhar uma serpente ou outros animais como aranhas e escorpiões, bem como transportá-los.

Escola Primária.

Não se trata de batatas fritas, mas sim macaxeira frita, uma das espécies de mandioca existentes no Brasil, onde teve a sua origem, disseminando-se depois pela América Latina e África¹¹⁵. A macaxeira é a chamada mandioca-mansa, por oposição à mandioca-brava, na qual é necessário retirar o venenoso ácido cianídrico antes de ser consumida. Este ácido é empregado pela planta para se defender do ataque de predadores. No ser humano, impede a circulação de oxigénio pelo sangue e leva à morte rápida por intoxicação. É necessário deixar a raiz da mandioca descascada em água por uma hora ou duas e depois fervê-la mais uma hora. Fica assim apta ao consumo. Neste jantar, porém, comemos mandioca-mansa (ou comeu o Filipe e eu provei apenas, porque eu encontro-me ainda sob rigorosa dieta de bananas, iogurtes e bolachas, a ver se recupero definitivamente do estômago).
Tivemos oportunidade de ver este tubérculo no Mercado de Ver-o-Peso, nas crónicas 8 e 9.

A já habitual pausa noturna, após o jantar, na praça central de Alter do Chão, onde o Filipe aproveita o wi-fi gratuito para se inteirar das notícias pelo mundo. Nomeadamente no jornal Record…


¹¹⁰ Wikipedia (s.d.) “Instituto Butantan”. Página consultada a 26 de outubro de 2013,
<http://pt.wikipedia.org/wiki/Instituto_butantan>.

¹¹¹ Instituto Butantan (s.d.) “Saúde e Produção”. Página consultada a 26 de outubro de 2013,
<http://www.butantan.gov.br/home/saude_e_producao.php>.

¹¹² Instituto Butantan (s.d.) “Acidentes por Animais Peçonhentos”. Página consultada a 26 de outubro de 2013,
<http://www.butantan.gov.br/home/acidente_por_animais_peconhentos.php>.

¹¹³ Lopes, Artur (s.d.) “Como é feito e como age o soro antiofídico?”. Mundo Estranho. Página consultada a 26 de outubro de 2013,
<http://mundoestranho.abril.com.br/materia/como-e-feito-e-como-age-o-soro-antiofidico

¹¹⁴ Instituto Butantan (s.d.) “Unidades de Pesquisa”. Página consultada a 26 de outubro de 2013,
<http://www.butantan.gov.br/home/pesquisa.php>.

¹¹⁵ Portal Arara (s.d.) “Mandioca”. Página consultada a 26 de outubro de 2013,
<http://www.arara.fr/BBMANDIOCA.html>.

086 - De Avião para Manaus

A galinha enxota os meus amigos “Bem-te-Vi” que hoje não se atreveram a vir comer o meu bolo, coitados. Havia uma dúzia de bolos à escolha: bolo de cenoura, bolo de chocolate, outro bolo de qualquer coisa, sem legenda, bolinhos de chuva, e sei lá que mais. O Filipe foi andando para o quarto, para se despachar, e eu, que ainda tenho de comer mais devagar, fiquei à mesa (já é uma sorte comer e ainda me aventurei nos bolos – com sucesso; o estômago já está a melhorar). A Laura apareceu nos últimos minutos e fez-me companhia.

Despedi-me e lá fomos nós, a caminho do aeroporto de Santarém, onde temos um voo da GOL para Manaus às 10.20h. O nosso voo vem de Belém, para em Santarém, deixa-nos em Manaus, e segue para São Paulo. Parecem mesmo autocarros ou comboios “para-em-todas”. Nós não estamos mesmo habituados a estas coisas…

Uma cabine telefónica.

O voo durou 1,10h e foi pontual. Foi giro ver outro voo anterior ao nosso, às 9,36h para Belém, esperar por um passageiro atrasado. Às 9.35h abriram a porta de vidro e lá foi ele a correr, pista fora, agarrado à mala. Tudo isto é insólito. Nos grandes aeroportos, trinta minutos antes já ninguém passa no controlo, quanto mais ir a correr pela pista fora agarrado à mala. Se fosse a ele saltava a sebe, sempre iria a corta-mato.

087 - O Encontro das Águas

Saímos do Estado do Pará e entramos no Estado do Amazonas. Espera-nos agora outro guia, no aeroporto, o qual nos leva pelas movimentadas estradas de Manaus até ao porto, onde alugaremos um barco que nos mostrará o “encontro das águas”, o local onde o Rio Solimões e o Rio Negro se encontram sem que as suas águas se misturem. O nosso novo guia, que nos acompanhará apenas durante o dia de hoje em Manaus (amanhã já partimos) chama-se Rodolpho. Esperava-nos no aeroporto com uma placa com o nosso nome escrito. Esta fase é sempre delicada e olho-a com alguma apreensão. Estou sempre à espera que o nosso verdadeiro guia esteja amarrado e amordaçado algures, e seja um larápio a esperar-nos com o nosso nome escrito. Olhei com atenção a placa de guia turístico oficial que ele ostentava ao peito. Mas existem tantas câmaras nos aeroportos, e somos vistos por tanta gente, que tenho esperança que no dia em que isso acontecer, ao menos consigam encontrar-nos antes de acontecer alguma desgraça.

Bom, o nosso novo guia é mesmo um verdadeiro guia, e foi-nos explicando uma série de coisas enquanto conduzia o seu carro preto de vidros fumados (este tinha mesmo vidros pretos e não se via absolutamente nada para dentro; recordo que o objetivo destes vidros é evitar que o sol entre. O indicador de temperatura exterior mostrava agora 31 graus). O Rodolpho deu-nos uma introdução a Manaus: é uma cidade industrial com mais de seiscentas fábricas e com incentivos fiscais para elas aqui se instalarem. A taxa de desemprego é muito baixa, anda pelos 2 ou 3%. À medida em que vamos andando, passamos pela Moto Honda da Amazónia, a qual, segundo nos contou, fabrica quatro a cinco mil motos por dia. Passámos por uma série de outras fábricas, nomeadamente a LG e a Sony.

As estradas são largas, têm três faixas em cada sentido, e nós fomos fazendo algo estranho (para nós, porque na Amazónia é vulgar e legal): vamos atravessando entre elas. É como ir numa autoestrada de três faixas em cada sentido, surgir uma abertura no separador central, e mudarmos para o outro lado. Mas os carros não andam a grande velocidade, não chegámos a sentir perigo com estas manobras do trânsito manauense.

Não existe ligação por estrada entre Manaus e Belém. A ligação por barco dura cinco dias. Na Amazónia, a copa 2014 vai ser em Manaus porque tem melhores infraestruturas, Belém perdeu a corrida. Manaus tem quase dois milhões de habitantes, ao passo que Belém tem 1,4.

O nosso primeiro contacto (neste caso visual) com o Rio Negro. A água não está suja – ela é mesmo assim, escura. Uma senhora brasileira com quem falámos mais tarde, também a fazer turismo pela Amazónia, comentou que esta água faz muito bem ao cabelo, por exemplo. Deixa os cabelos brilhantes e sedosos. Se é verdade, não sabemos. Havemos de tomar em breve uns banhos no rio, logo veremos se o cabelo ficará bem tratado.

Chegados ao porto, temos um barco à nossa espera –  organizado pela agência de viagens – que nos levou então ao famoso “Encontro das Águas” (fotos abaixo).

Posto de abastecimento de combustível para barcos.

Encontro das Águas

O guia Rodolpho continuou a explicar-nos: aqui dá-se o encontro entre o Rio Solimões e o Rio Negro. Este último possui água escura e ácida, e a sua temperatura anda pelos 28 graus. Já o Rio Solimões possui águas barrentas, carregando lama e sedimentos, tem PH mais neutro, e anda pelos 22 graus. Cada qual corre a velocidades diferentes. O Rio Solimões é mais rápido. Assim, devido à temperatura, densidade e velocidade das águas, elas não se misturam de imediato, quando se encontram. Pelo contrário: correm paralelamente, mantendo as suas características individuais em cerca de dezasseis a vinte quilómetros. O Rio Solimões é mais raso, tem 60 a 80 metros de profundidade, ao passo que o Rio Negro passa dos cem. O Rio Negro, devido à acidez das suas águas, tem menos mosquitos. Disse-nos o guia Rodolpho que este tem cerca de 400 espécies de peixes, enquanto que o Rio Solimões tem mais de 3.000.

O encontro de ambos – Rio Negro e Rio Solimões – forma o rio Amazonas.

088 - Comunidade Piscatória

Passámos de barco pela Comunidade Flutuante do Catalão, habitada por cerca de noventa famílias em habitações flutuantes sobre o rio Rio Negro, criando uma paisagem tipicamente amazónica. São casas construídas com a madeira de assacú, a única madeira existente na Amazónia própria para permitir a flutuação deste tipo de moradia¹¹⁶. Esta árvore ocorre em toda a Amazónia e distribui-se nas Guianas, Antilhas, América Central, Perú e Bolívia. O assacú encontra-se quase sempre em terrenos aluviais. É uma árvore de grande porte (até 40 metros de altura) e com diâmetro atingindo até dois metros. O seu látex é fluido, extremamente irritante para as mucosas provocando edema em contacto com os olhos e ardor pronunciado na boca e faringe. Antes de abater a árvore costuma-se anelar o tronco para sangrar o látex. Os índios usavam-no para envenenar flechas. A sua madeira é leve, clara,  muito fácil de trabalhar¹¹⁷.

Voltando à Comunidade Flutuante do Catalão: segundo dados de 2010, existiam 96 casas e um total de 331 moradores. As casas não possuem um sistema de destinação dos dejetos, a água que recebe os dejetos é a mesma utilizada para tomar banho e cozinhar. (Aliás, à semelhança de muitas povoações do Marajó. Em Soure, onde nós estivemos, encontra-se um dos raros sistemas de esgotos e canalização da ilha). A comunidade dispõe também de cinco pontos comerciais, identificados como “mercadinhos” e uma escola com ensino fundamental até ao 1º ano do ensino médio, e para continuar os estudos, aqueles que têm condições vão a Manaus. O lazer dos moradores está nos jogos de futebol (homens, mulheres e crianças) que geralmente ocorrem em Manaus. Sobre o transporte próprio (canoa ou rabeta) 67% das moradias possuem-no. Num estudo efetuado na Comunidade, 100% dos entrevistados afirmaram gostar de morar no Catalão e sobre o que mais gostam, 59% alegou ser a tranquilidade, 18% a não existência de violência, 9% a possibilidade de pesca e plantio, 5% estar próximo à capital e à família, e 4% ter água em abundância¹¹⁶.

Recordo que a água não está suja. Este é o Rio Negro, um afluente do Rio Amazonas, e não é em vão que tem aquele nome. As suas águas são mesmo escuras, e em breve eu própria irei banhar-me nelas. A cor escura da água deriva do ácido húmico produzido a partir da biodegradação da vegetação.

Almoçámos depois num restaurante a peso no centro de Manaus. Eu servi-me de tucunaré grelhado (falei dele na crónica 57) e o Filipe fez uma mistura de galinha caipira e carne de panela. Como sobremesa, respetivamente, creme de cupuaçu (que me esqueci que já o tinha experimentado no Marajó, e este tive de desistir de comê-lo, pois achei-o um bocado intragável, com um sabor demasiado forte) e pudim flan.


¹¹⁶ Fonseca, Jéssica e Batista, Selma (2010) “Estudo de Caso na Comunidade do Catalão: Turismo Alternativo como forma de Potencializar seus Atrativos” in  Revista Eletrónica Aboré – Publicação da Escola Superior de Artes e Turismo Manaus – Edição 05 Dez/2010. ISSN 1980-6930. Página consultada a 27 de outubro de 2013,
<https://slidex.tips/download/estudo-de-caso-na-comunidade-do-catalao-turismo-alternativo-como-forma-de-potenc>

¹¹⁷ Mady, Francisco (s.d.) “Espécies Florestais: Assacu”. Conhecendo a Madeira. Página consultada a 27 de outubro de 2013,
<http://www.conhecendoamadeira.com>.

089 - Teatro de Manaus

Vamos hoje passear por Manaus, e recordemos a expedição do espanhol Orellana, sobre a qual falei na quarta crónica. Francisco de Orellana subiu o rio Amazonas, sempre debaixo dos ataques dos indígenas, e em 1542 chegou ao Oceano Atlântico. Os seus relatos despertaram o interesse de espanhóis, ingleses, holandeses e franceses, que começaram a explorar comercialmente esta imensa região. Mas estes acabaram por ser expulsos pelos portugueses por volta do ano de 1639. Para garantir os seus domínios nesta região – hoje chamada de Manaus – à semelhança do que se passou em Belém os portugueses criaram em 1669 o Forte de São José do Rio Negro, em torno do qual surgiu um lugarejo ao qual se chamou Lugar da Barra.

Toda a região amazónica era governada a partir de Belém, capital da província do Grão-Pará. Todavia tornou-se impossível administrar uma área tão grande, atender à sua população e manter a paz com os indígenas que resistiam à colonização, pelo que se criou em 1755 a Capitania de São José do Rio Negro, a qual abrangia territórios atualmente equivalentes aos estados do Amazonas e de Roraima¹¹⁸. Recordemos também as aulas de história: as capitanias foram uma forma de administração territorial do império português pela qual a Coroa, com recursos limitados, delegou a tarefa de colonização e exploração de determinadas áreas a particulares, através da doação de lotes de terra. Esta capitania de São José do Rio Negro ficou a cargo de Francisco Xavier de Mendonça Furtado, irmão do Marquês de Pombal ¹¹⁹’¹²⁰.

Em 1821 as capitanias tornam-se províncias, e, no contexto da Independência do Brasil, os moradores da vila proclamaram-se independentes. A região acabou incorporada no Império do Brasil, na Província do Pará. É em 1850 que se desmembra desta e ganha autonomia na condição de Província do Amazonas. E foi posteriormente em 1856, que o Lugar da Barra foi finalmente denominado Cidade de Manaus, que significa “Mãe de Deus”, em homenagem aos valentes índios da tribo Manaós. Manaus tornou-se assim capital da Província do Amazonas.

À semelhança de Belém, capital do Estado do Pará, Manaus – hoje capital do Estado do Amazonas – entra no Ciclo da Borracha, entre o final do século XIX e o começo do século XX. A presença de inúmeras famílias e empresas europeias foi fulcral para o surgimento de melhorias na cidade de Manaus, como luz elétrica, água canalizada e rede de esgotos; o porto de Manaus; e elétricos – serviços que ainda não existiam no resto do país. Foi um tempo de luxo, em que as famílias abastadas mandavam os seus filhos estudar na Europa e os prédios locais eram construídos com materiais exclusivamente europeus, em estilos art nouveau e neoclássico, com destaque para o famoso Teatro Amazonas¹¹⁸, o qual estamos a visitar hoje.

O Teatro Amazonas foi inaugurado em 1896 e tem capacidade para 701 pessoas. Recordemos o seu irmão quase-gémeo, em Belém – o Teatro da Paz, que visitámos na crónica 15, este inaugurado em 1878 e com capacidade para 1.100 pessoas. Ambos de uma beleza extraordinária e evocando sem dúvida periodos de grande opulência. Infelizmente não conseguimos assistir a nenhum espetáculo: há um esta noite (ensaiavam no palco por esta altura) mas já com bilhetes esgotados.

Tivemos de entrar com protetores dos sapatos, uma espécie de chinelos.


¹¹⁸ Manaus Online.com “História” (s.d.). Página consultada a 27 de outubro de 2013,
<http://www.manausonline.com/t_historia.asp>.

¹¹⁹ Wikipedia (s.d.) “Capitanias do Brasil”. Página consultada a 27 de outubro de 2013,
<http://pt.wikipedia.org/wiki/Capitanias_do_Brasil>.

¹²⁰ Wikipedia (s.d.) “Capitania de São José do Rio Negro”. Página consultada a 27 de outubro de 2013,
<http://pt.wikipedia.org/wiki/Capitania_de_S%C3%A3o_Jos%C3%A9_do_Rio_Negro>.

090 - Parque Jefferson Peres

Foto tirada de uma janela do Teatro Amazonas, vê-se a Igreja de São Sebastião, inaugurada em 1870.

Repare-se na calçada portuguesa: o desenho representando o Encontro das Águas.

Parque Jefferson Peres, professor e político brasileiro, nascido em 1932, antigo vereador de Manaus, formado em Direito pela Universidade Federal do Amazonas e em Administração pela Fundação Getúlio Vargas. Antes de tornar-se político, lecionava na Universidade Federal do Amazonas. Faleceu em 2008, vítima de ataque cardíaco¹²¹. Este parque em formato de Y foi construído entre 2007 e 2009 e foi concebido para ser uma homenagem à Belle Epóque de Manaus. Apresenta diversos detalhes que remetem para essa época, nomeadamente o imponente pórtico de entrada, uma estrutura de ferro com mais de dez metros de altura. Vimos igualmente a mesma calçada presente no Largo de São Sebastião, representando o Encontro das Águas. Figuras metálicas espalhadas pelo parque retratam vários símbolos do auge do ciclo da borracha em Manaus, como elétricos e casais de namorados vestidos à época.
A sua construção implicou remover uma série de casas desta zona, casas essas que estavam construídas sobre estacas de madeira, dado terem existido aqui dois igarapés, ou seja, dois cursos de água, que se uniam formando o “Y”. A construção do parque implicou também o aterramento parcial dos igarapés¹²². O parque abre às seis da manhã e fecha às 23 horas. De manhã é muito usado para jogging pelos locais, contou-nos o guia Rodolpho.


¹²¹ Wikipedia (s.d.) “Jefferson Peres”. Página consultada a 27 de outubro de 2013,
<http://pt.wikipedia.org/wiki/Jefferson_Peres>.

¹²² Descobrindo o Amazonas (s.d.) “Parque Jéfferson Péres”.  Página consultada a 27 de outubro de 2013,
<http://descobrindooamazonas.webs.com/parquejffersonpres.htm>.