2 – Viagem & chegada à casa-estúdio

Vou no avião chamado “Amália Rodrigues”.

Novilho à Lafões, com cogumelos e cenoura.
A TAP Air Portugal tem recebido vários prémios, e merecidos. Tendo experimentado uma série de outras companhias, nomeadamente nesta viagem ao Idaho, onde viajei também com a British Airways e com a Alaska Airlines, não tem comparação: a qualidade da TAP é superior. Vejo esta notícia do mês passado, por exemplo:
“A TAP Air Portugal foi eleita como a Melhor Companhia Aérea da Europa na “GT Tested Reader Survey”, sondagem anual promovida pela prestigiada revista de turismo e viagens norte-americana Global Traveler junto dos seus leitores. Segundo um comunicado da TAP Air Portugal, este foi o “décimo quarto ano consecutivo em que a transportadora foi nomeada a Melhor Companhia Aérea da Europa pelos leitores da revista, na 21ª edição dos prémios anuais.”¹
Ou este outro prémio recente: Os World Travel Awards consagraram a TAP como Melhor Companhia Aérea para América do Sul e África.²
São coisas simples, como as refeições, que enriquecem a experiência dos passageiros. Eu passei nove horas dentro deste avião, e esta refeição foi requintada, extremamente saborosa. No regresso vim pela British Airways, e a refeição, constituída por frango, puré de batata e legumes, foi completamente desenxabida, uma refeição, diria, “à avião”, que me deixou ligeiramente enjoada. O mesmo se passou com os filmes disponíveis: a TAP possui uma divisão por géneros, e um destes é “documentários”. Vi três filmes – todos documentários – durante estas nove horas, e ainda aprendi uma série de coisas. Já no regresso, pela British Airways, não havia nenhum documentário disponível.
Na TAP, já começo a conhecer alguns dos membros da tripulação de bordo.

O avião da Alaska Airlines teve um problema na porta de trás, e dois técnicos estiveram a tentar arranjá-la, enquanto nós, passageiros, já estávamos sentados dentro do avião. Acabámos por atrasar-nos mais de uma hora e tivemos que mudar de avião, com as bagagens. Era suposto ter chegado às 23h45 ao meu destino – o aeroporto regional de Pullman, no Idaho, e acabei por chegar à 1h20 da manhã.

Os donos da residência – Kate e Rick Poole – mandaram um táxi buscar-me ao aeroporto (pago por mim). Após cerca de 35 minutos de viagem, cheguei às 2 da manhã à casa-estúdio, onde o Rick me esperava. A Kate acabou por acordar, e veio receber-me também. Eu estou com tonturas; as viagens são sempre uma tortura. Foi maçador para todos: para mim, que sofro sempre com estas viagens, que me deixam completamente transtornada, e também para os donos do alojamento, que acordaram às duas da manhã para receber-me.
Eu não quis ficar num hotel entre as 2 e as 9 da manhã, por exemplo, pagando uma pequena fortuna por uma noite em Moscow, além do custo do táxi até lá, apenas para estar algumas horas. Preferi esperar no aeroporto até de manhã – como, aliás, já fiz anteriormente, nomeadamente nas residências da Bulgária e da Arménia. Evitar deslocações sozinha de madrugada num táxi é uma precaução de segurança, especialmente em locais onde não é simples conseguir entrada num hotel a essas horas. A pequena cidade de Moscow, no Idaho, não é Nova Iorque. Recorde-se também que é janeiro, com temperaturas negativas, o que não é exatamente propício a passeios, ainda menos carregando malas pesadas. Efetivamente, a Kate Poole tinha-se inicialmente oferecido para irem buscar-me ao aeroporto, no entanto mudou de ideias ainda estava eu em Portugal, conforme se poderá ver abaixo. A Kate também se ofereceu para comprar alguns alimentos no supermercado antes da minha chegada, de modo a garantir que eu tivesse comida disponível – um gesto que considerei simpático, especialmente por não o ter solicitado. No entanto, acabou por mudar de ideias e não o fez. Efetivamente arrependeu-se de ter oferecido a própria residência artística, como se poderá ler no seu email abaixo. Tudo isto gerou grande instabilidade.

Instruções para eu limpar a casa.

Não posso beber nada no quarto, nem posso usar sapatos. Se nos hotéis deixam as pessoas andarem calçadas no quarto, e nos levam inclusivamente bebidas ao quarto, este alojamento aqui no Idaho mais parece uma prisão.
Adicionalmente, as bebidas, chá e café são apenas para hóspedes que pagam. “Por favor, não os consuma”, diz este papel. A gata borralheira (ou na versão inglesa: “cinder maid”), mesmo que queira pagar e beber qualquer coisa, não está autorizada. Efetivamente isto não correu bem, nesta estadia. Vendo as iguarias servidas na Hunter Moon – vi no seu Instagram – enviei um email, ainda em Portugal, a perguntar qual o preço das refeições. A Kate Poole não respondeu a essa questão, embora tenha respondido a outros pontos do mesmo email. Presumi que pudesse ter-se esquecido ou, talvez, não quisesse indicar os preços por esta via. No email seguinte, mencionei uma das sopas de legumes que tinha visto no seu Instagram e perguntei se seria possível ter uma sopa dessas à minha espera quando eu chegasse. Afinal, o preço de uma sopa dificilmente seria tão elevado que não pudesse ser facilmente pago.
A senhora enfureceu-se. Respondeu o seguinte no dia 7 de dezembro de 2024, ou seja, um mês antes da residência iniciar:
(Os leitores que não percebam inglês poderão usar o botão do “Tradutor Google”, disponível no canto superior direito desta página, ou clicar com o botão direito do rato em cima do texto e selecionar “Traduzir”).

“Hi Rute,
We are doing very well here, thank you for asking, I hope you are as well. I think we might be having a problem with a miscommunication/misunderstanding going on.  If you read your contract, you are responsible for all of your food both preparation and purchase. You are being given a rare opportunity to come to our homestead and pay nothing. You are being given a shared studio space also free of charge. I am utterly surprised that you would have ANY expectation of a cooked meal on your arrival! That will NOT be happening. I think I made the mistake of offering to pick you up in the middle of the night, purchase your groceries, and host you here at no cost to you. If you are looking on Instagram for what we offer here, these are from people who come here and pay $2.000 for 2 days of instruction and meals that are prepared for them.
I am sorry, I think you need to stay in Moscow the first night, get a taxi to a motel. We can pick you up the next morning at a reasonable hour. We can take you to the grocery store and you can purchase what you need. You have access to the kitchen (that must be kept spotless because it is also used for other things), there is a bathroom in the studio/living space.
Please do not take advantage of my generosity.
Kate”

Meia hora depois recebi outro email seu:
“I shared your last email with my husband and my daughter and they are both encouraging me to cancel your trip here. I encourage you to request a refund for your airplane ticket, or see if you can exchange it for another destination. I am convinced at this point that you and I would both be disappointed if you came.”

Foi absolutamente chocante receber um email deste teor por causa de uma simples sopa – que, ainda por cima, eu queria pagar – num alojamento que habitualmente recebe hóspedes e está habituado a servir refeições. Eu já tinha adquirido os voos, sem possibilidade de reembolso em caso de cancelamento. Apelei ao seu bom senso. A senhora, por fim, ter-se-á acalmado e compreendido que seria uma completa irresponsabilidade da sua parte cancelar a residência após tudo estar pago.

Repare-se que o artista-residente, limitado a um espaço exíguo, é relegado exclusivamente para a mesa à esquerda, enquanto o restante ambiente não oferece flexibilidade para o desenvolvimento do seu trabalho. Não há paredes disponíveis para expor ou criar, o chão está vedado a qualquer utilização, e a outra mesa, essencial para a organização e execução de tarefas artísticas, é-lhe vedada. Esta situação traduz-se numa clara negligência para com o artista-residente, reduzido a um papel secundário e a trabalhar em condições que mais se assemelham a uma migalha concedida do que a um apoio real ao seu processo criativo. Dizer, portanto, que o artista-residente tem um estúdio ao seu dispor, não é correto: tem apenas uma mesa e os restantes espaços estão-lhe vedados, inclusive o próprio chão.

A casa-estúdio onde eu estou alojada.

À esquerda está um velho (e lindíssimo) celeiro em reconstrução; ao centro está a casa-estúdio onde eu fiquei; e à direita está a casa onde a Kate e o Rick Poole vivem. Nunca fui convidada a entrar em sua casa.

O celeiro.


¹ “TAP é a Melhor Companhia Aérea na Europa para os leitores da Global Traveler” (13 dezembro 2024). Publituris. Página consultada a 20 janeiro 2025,
https://www.publituris.pt/2024/12/13/tap-e-a-melhor-companhia-aerea-na-europa-para-os-leitores-da-global-traveler

² Vítor, H. (24 novembro 2024). “TAP Melhor Companhia Aérea para América do Sul e África”. Diário de Notícias. Página consultada a 20 janeiro 2025,
https://www.dnoticias.pt/2024/11/24/428434-tap-melhor-companhia-aerea-para-america-do-sul-e-africa/

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