124 – De Bicicleta até Díli
A cidade de Gleno.
Meus amigos, tenho a confessar que nem sempre cumpri os limites de velocidade. Em Lisboa, no meio do trânsito, o limite é 50 km / hora. (Se calhar 50 também é excessivo, mas deixo essa discussão para outras núpcias). Ver uma estrada destas, deserta, e andar a 20 à hora… Efetivamente ultrapassei tudo e todos. Motas e carros. Os timorenses são mesmo cuidadosos a conduzir. Não tenho qualquer razão de queixa. Como comentei na crónica 5, se calhar os timorenses é que se assustaram comigo. Só me faltou voar.
Vou descer toda esta magnífica estradinha alcatroada. Me aguarrrrda…
Certo, certo, 20 km / hora.
Cheguei a Díli debaixo de chuva. A máquina fotográfica, às minhas costas, ainda apanhou uns pingos. O Valério a certa altura perguntou-me se eu queria a mala da máquina, mas eu recusei porque é mais um peso, e a máquina atrás das costas vai relativamente protegida em andamento. Mas aqui, no meio deste trânsito, ainda por cima a chover, desta vez passei para a pickup. Da última vez fui até ao apartamento a pedalar, atrás da pickup, e hoje queria fazê-lo também, mas paciência, tenho 76,5 km, são 5 da tarde, hora de ponta, acabou-se, Rute. Amanhã é o último dia desta viagem, tenho o avião às 13.20h. De manhã ainda vou dar uma volta de bicicleta por Díli, e tenho o Museu da Resistência para ver.
Começou a chover torrencialmente às 17.30h, pouco depois do Valério me deixar no apartamento da magnífica Vila Cardim. Desta vez fico noutro apartamento ao lado, pois o “meu” está ocupado agora. Mas eles são todos iguais. Espera-me um magnífico banho, com uma toalha gigante quase do meu tamanho, e um magnífico jantar de despedida, às 20h, na companhia do Valério e do Eduardo Massa, o dono da agência de viagens Timor MEGAtours, a qual organizou esta epopeia. (Sim, nesta altura do campeonato, depois de tudo bem detalhado nestas crónicas, até já digo que foi organizar uma “epopeia”).
O Eduardo Massa perguntou-me a que restaurante quero ir. Se quero comida chinesa, por exemplo. Até sou apreciadora (e na viagem à China não comi outra coisa durante um mês inteiro) mas agora não estou para aí virada. Perguntou-me se eu quero marisco. Também sou grande apreciadora, mas também não estou para aí virada. (Coitado do Eduardo, tem de ter uma paciência de santo com os clientes). Eu ainda lhe disse que até comia novamente uma bela canja de galinha, no hotel Timor. Mas o Eduardo não quer uma despedida assim, com canjinhas. Enfim, acabámos mesmo num restaurante português a comer uns belos bisteks com batatas fritas, grelos salteados e migas. Lá ao fundo estão umas deliciosas migas.
O Valério pediu batatas fritas, mas a gente já sabe que a coisa é complicada para ele, sem o seu arrozinho. E acabou mesmo por mandar vir um prato de arroz, pouco depois. Quais batatas fritas, o Valério é lá homem de batatas fritas. A gente bem que estranhou, mas pronto. Tudo regressou à normalidade com o seu prato de arroz. (Só faltou o frango, mas enfim). A mim faltou-me o esparguete. Eu sou lá mulher de batatas fritas. No entanto as deliciosas migas e os grelos salteados satisfizeram-me plenamente. Parto bem alimentada para as longas horas de voos e aeroportos que me esperam.