113 – 23º Dia, Passeando no Suai
Despertador às 5.35h. Matabicho às 6.30h.
Passeio matinal de bicicleta – noturno – antes do matabicho. Às 6.15h fui acordar o rapaz ou quem quer que esteja a tomar conta do hotel, bati em todas as portas que encontrei, na casa principal. Pedi para abrir o portão. Meus amigos, daqui a 15 minutos é suposto estarem a servir o pequeno-almoço, como é que ainda estão a dormir?!… E abram lá o portão do hotel, se faz favor, que eu quero ir dar uma volta de bicicleta antes.
Isto é o que se chama acordar com a pica toda.
Saí que nem um touro bravo lançado pelos campos, montada na bicicleta, e logo à saída do hotel dei de caras com este homem. Ficou muito surpreendido a olhar para mim e perguntou-me em português onde estou alojada (aqui neste hotel, respondi-lhe, apontando para trás de mim), quantos dias estou aqui (apenas esta noite, voltei a responder), quantas pessoas são (apenas eu, disse-lhe) e já anda a tirar fotos a esta hora? – perguntou-me.
Isto foi um verdadeiro interrogatório às 6.15h da manhã. Eu respondi a tudo. Rimo-nos os dois, com este inusitado episódio, noite cerrada.
Vou ver se resolvo esta cena das fotos noturnas… quando tiver dinheiro para comprar uma máquina fotográfica de melhor qualidade! A minha já tem uma porção de anos (e mesmo assim safa-me bem, noutras circunstâncias mais propícias…). É que andar de bicicleta com a máquina a tiracolo, sujeita a quedas e roubos, enfim, tira-me a vontade de investir seriamente numa câmara nova. Se eu me espalhar ao comprido, na bicicleta, a câmara vai ao chão; não anda sequer dentro da mala. Um tripé resolvia isto, mas eu vou lá andar carregada com tripés?!… Enfim, o meu objetivo número um é passear… em segundo lugar é que vêm as fotos…
O pãozinho está quente, acabado de fazer! Com doce, margarina e a minha manteiga de amendoim. Como sempre, manteiga é para esquecer. Dentro da caixa com tampa cor de laranja está açúcar.
Guardei uns pedaços de carne do jantar, no frigorífico das bebidas, aqui mesmo na sala de jantar do hotel, e comi esta manhã. Fico com maior pujança na bicicleta.
À esquerda está a aldeia de “Suai Loro”, a qual visitarei mais detalhadamente na próxima crónica.
Pela primeira vez vejo alguém a lavar os dentes. Na Índia, por exemplo, era algo frequente, ver sobretudo as crianças a lavarem os dentes à porta das suas casas. Aqui em Timor nunca vi. Esta é a primeira pessoa que apanho. E esforcei-me por chegar em silêncio, sem ele dar conta, para conseguir fotografar naturalmente, sem mudanças de posição ou atitude por causa de mim e das fotografias. Aproximei-me furtivamente, é verdade, torcendo para que nenhuma criança gritasse os seus habituais “Malai! Malai” o que trairia de imediato a minha presença.
É que não há casas de banho ou lavatórios para esta função. Só há buracos no chão e tanques de água. Das duas uma: ou as pessoas lavam os dentes nesses tanques, e bochecham a água para o chão, ou não lavam!
Quem souber resolver este mistério da escovagem de dentes em Timor, que se acuse!
Eu por acaso ainda distribuí algumas escovas de dentes e pequenos tubos de pasta de dentes, que me deram nos hotéis e pousadas. Continuei a usar os meus, e guardei os dos hotéis para distribuir mais tarde. Um dia parei a bicicleta e distribuí o conteúdo dum saquinho por duas crianças. Com gel de banho e shampoo também.
Umas mulheres riram-se à gargalhada, atrás dele (e de mim), nas casas do outro lado da rua, ao perceberem que ele tinha sido apanhado. Elas mantiveram o silêncio enquanto eu me aproximava dele. Estavam a observar tudo com atenção. E fizeram silêncio para não perturbarem a minha missão fotográfica. Riram-se depois, em voz alta, quando eu consegui a fotografia! Isto é que é cumplicidade feminina.