104 – A Caminho de Atambua para Atravessar a Fronteira

O Valério indicou que às 6 da manhã já estava levantado e que foi pôr gasóleo no carro. Disse-me algo de haver filas grandes, para abastecer.
Partimos às 11.10h, já estávamos todos prontos (o Valério, o Sanches e eu) e partimos antes da hora prevista. Estamos na cidade indonésia de Kefamenanu e hoje vamos para Atambua (também na Indonésia), atravessar novamente a fronteira para Timor-Leste, em Mota-Ain. Para já reabastecemo-nos também de leite com chocolate e água.

O camião terá alguma avaria, e puseram aquele ramo na estrada para impedir o trânsito. Tivemos de seguir pela faixa ao lado, em contramão.

Ele seguiu ao meu lado durante algum tempo, na mota, com a criança. Fez-me uma série de perguntas em inglês (as habituais – de onde sou, para onde vou…). Mas eu não gosto de andar de bicicleta com o barulho de motores atrás de mim, pelo que me cansei e acelerei mal apanhei uma descida. Ele já não conseguiu apanhar-me. É curioso, eu vou numa bicicleta, mas ele leva uma criança na scooter, não convém acelerar da mesma forma. E entretanto desistiu de seguir-me.

É uma da tarde, tenho 16 km na bicicleta, os últimos 8 a subir. Hoje temos novamente a pressão do horário – há uma fronteira a atravessar, pelo que o Valério pressiona-me para passar para a pickup.

E eu tive um ataque de fome tal, que não conseguiria pedalar mais nada, mesmo que quisesse. O pequeno-almoço hoje foi fraquíssimo. Comecei a tremer com fome, tão simples quanto isto. A máquina não tem combustível, está a soluçar. Preciso de proteínas, com bolachinhas isto já não vai lá.
O Valério, vendo que a situação ficou subitamente complicada, deu-me o seu almoço. Este é o almoço do Valério; pelos vistos tê-lo-á comprado algures, antes de sairmos do hotel. É frango, e por baixo do frango está uma placa de sementes, parece um nougat, mas não é doce. Devorei a comida quase selvaticamente, sentada no degrau da pickup, com as pernas na estrada. O Sanches anda algures em busca de bananas, pelas casas ao longo da estrada. Também tem um almoço igual, embrulhado em papel. Eu pelos vistos era suposto ir a um restaurante. Agradeci ao Valério, que agora vai ter que desenrascar-se algures, a comprar outro almoço, quando surgir um estabelecimento.

Quando as bananas chegaram, comi três, e mais um pacote de leite com chocolate. Com fome o pensamento e a razão enfraquecem, a besta animal assume o comando. Pensei nisto enquanto comia sofregamente.

Estamos em Atambua, cidade indonésia, onde as estradas estão cortadas por causa dos festejos que celebram a independência do país, a 17 de Agosto de 1945. Hoje é sexta-feira, 10 de Agosto de 2018. Ainda estamos longe da fronteira e o tempo aperta. São cerca das 3 da tarde, agora. A fronteira fecha às 17h.

Em arrumações estratégicas, antes de passar a fronteira. Parece que o Sanches comprou uma pequenina máquina de serrar, e tem receio que fique apreendida.
A mim só podem apreender-me pacotes de leite. E bananas…

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