098 – De Bicicleta em Timor Indonésio II

Até parece mentira. Finalmente estou a pedalar. São 8.20h da manhã. Até vou um pouco insegura, sempre à espera que a bicicleta falhe novamente. Mas agora tenho duas bicicletas, cinco pneus e sete jantes. A coisa há-de funcionar! E efetivamente funcionou, hoje farei 56,5 km na bicicleta e outros 225 km na pickup, num total de 282 km. É o dia maior e mais puxado de toda a viagem, este. Vamos regressar a Kefamenanu, cidade indonésia, onde pernoitaremos, e no dia seguinte voltaremos a entrar em Timor-Leste. Vamos por estradas alternativas dado que eu pedi à Timor MEGAtours para não fazermos a mesma estrada principal que fizemos para cá, e por isso nos acompanha o Rui, que faz de guia local, dado que conhece bem toda esta região. Quando chegarmos a Kefa (como eles dizem, abreviado) o Rui apanhará uma microlet de volta para Kupang. Já virá pela estrada principal, alcatroada e direta, será mais rápido. (As microlets são as carrinhas que fazem de transporte público).

Estamos a cerca de 40 km de Kupang e esta zona é muito bonita e tranquila. Deve ser a Sintra ou Cascais cá do sítio. Vêem-se casas coloridas, jipes, parabólicas e motos.

E apanhei um susto, foi aqui que vi o único acidente de mota desta viagem, ou mais precisamente uma scooter: um rapaz dos seus 15 anos despistou-se. A uns cem metros de mim. Ninguém lhe tocou, terá sido excesso de velocidade, ou derrapou na gravilha, não sei. Espalhou-se ao comprido e o pior é que levava uma criança duns 4 anos consigo. Ambos puseram-se em pé, a criança a chorar loucamente com sangue na cara, e o mais velho com sangue na t-shirt, da criança. E agora, eu na bicicleta, sem conseguir transportar nenhum. O rapaz deu-me a entender que queria a minha bicicleta. Então e a criança, vai como? Entretanto o rapaz levantou a scooter do chão e foi a conduzir nela, com a criança agarrada a ele, em direção à casa mais atrás, a uns duzentos metros, onde uma senhora que estava a ver tudo os recebeu e com certeza foi desinfetar a ferida da criança. E apareceram outras pessoas da casa em frente. Eu fiquei parada a assistir. Se houvesse necessidade telefonaria ao Valério e levarmo-los-íamos ao hospital. Todavia será só susto e sangue, pois aparentemente ambos estão bem e andam, serão apenas escoriações. Prossegui viagem, ainda um pouco em sobressalto, depois deles desaparecerem dentro da casa da senhora.

É professor de Filosofia da Religião numa universidade na ilha de Sumatra, contou-me. Ui, disse eu, Filosofia da Religião não é para brincadeiras… é muito pensamento… Está agora de férias e regressou à sua casa. Eu, vendo tantas casas coloridas e estando encantada com elas, perguntei-lhe se vai pintar a sua. Riu-se e respondeu que sim. E de que cor? – perguntei-lhe, curiosa. De castanho, amarelo, talvez branco – respondeu-me, rindo com o assunto inesperado. O professor estará habituado a conversas e pensamentos profundos, na universidade, e agora depara-se com uma preocupação simples (e legítima!) de cores. O bebé é seu neto, explicou-me também.

Selamat Datang, em cima, significa “bem vindo” como já expliquei na crónica 97. Selamat Jalan significa “boa viagem”. Pantai significa “praia” e Beringin é o nome da terra. Não se vê nenhuma praia, mas ela está aqui mesmo ao lado.

Vou de Kupang para Kefamenanu. Estou em Pantai Beringin.

O sinal de trânsito é curioso e significa o seguinte: é proibida a passagem a veículos cuja carga de eixos pese mais de 8 toneladas, ou cujo tamanho exceda 2.500 milímetros de largura, ou o comprimento exceda 12.000 mm.

O Valério está à minha espera na estrada à direita. Há uma montanha agora a subir, diz-me. Faço-a então no tabuleiro da pickup para sermos mais rápidos.

Imagem retirada daqui.

De volta à bicicleta.

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