088 – Continuação de Carro até Soe, em Timor indonésio

Estas três fotos foram tiradas no restaurante. Ainda bem que eu já tinha comido tudo, por esta altura, quando fui à casa de banho e aproveitei para espiolhar. A casa de banho é igual a todas, na ilha de Timor. Uma sanita e um tanque ao lado, com o recipiente com uma pega, para deitar água para dentro da sanita. Autoclismos é uma raridade.

Finalmente, nesta drogaria trocaram-nos dólares por rupias. Nos bancos não fazem câmbios. Tem de ser numa drogaria com donos chineses. O que seria o comércio mundial sem os chineses.

O guia Sanches precisou de uma mochila para guardar as centenas de milhares de rupias que recebeu, como conversão dos dólares americanos. Agora percebi porque trouxe ele uma mochila vazia, de Timor-Leste. Ficou cheia agora. Não há bolsos nem carteira que aguentem. Somos três – hotel para três, comida para três, mais a gasolina e quaisquer outras despesas que surjam. Vamos passar três dias na parte indonésia de Timor. O Sanches parece o pai natal com a mochila às costas.

O Valério e o Sanches compraram-me este gelado. Seis mil rupias (ou seja, 36 cêntimos). É o mais caro de todos. Escolhi-o não por ser o mais caro – longe de mim – mas porque era o mais atraente, com cobertura de chocolate e amêndoa. Faz-me lembrar o Magnum lisboeta (e europeu).
Nesta loja de telemóveis (que não fotografei, é uma loja igual a qualquer outra, de telemóveis) ambos tentaram comprar cartões de telemóvel indonésios. Temos de comunicar entre nós – sobretudo eu na bicicleta – e o meu cartão timorense não permite chamadas estrangeiras. É um daqueles cartões descartáveis, praticamente só para turistas ou pessoas que vão em negócios ou em trabalho. Mas não deixam. Aqui na parte indonésia não é permitido comprar cartões de telemóvel indonésios. Temos de ter uma família indonésia. O Valério sugeriu então ir constituir família aqui em Kefa, por uma noite, para resolvermos o assunto. Foi motivo de gargalhadas para o resto da viagem. Eu também posso procurar um indonésio interessante e propôr-lhe casamento, para conseguir igualmente o meu cartão de telemóvel. Como é possível que esta gente tenha lojas de bolos por todo o lado, e não venda um simples cartão de telemóvel a turistas. Ainda não inventaram os cartões descartáveis, válidos por 15 ou 30 dias, está visto. Timor-Leste não tem lojas de bolos, mas tem cartões de telemóvel! Prefiro os cartões de telemóvel!
Enfim. Em último caso tenho o meu telemóvel português. Pago 5 euros por cada minuto de chamada, mas em último caso uso-o.
Felizmente não foi preciso porque lá conseguimos três cartões de telemóvel por portas e travessas. Constituímos família, pronto.

À esquerda está um dos milhares de cartazes distribuídos por todo o lado, com um anúncio a tabaco. Associar imagens desportivas a tabaco é delicado. São muitos e sempre associados a imagens de desporto. Até é difícil tirar uma foto na parte indonésia sem apanhar estes cartazes. Mais à frente vou apanhar outro.

Resolvidos todos os nossos assuntos – passagem de fronteira, câmbio para rupias, almoço – são 3 da tarde. Eu não quero terminar a viagem às 3 da tarde. É cedo demais para ir para o hotel, e aqui em Kefa é uma barulheira desgraçada, só fumo, carros e motas. Isto não tem graça nenhuma para passear de bicicleta. Vamos embora – propus ao Valério e ao Sanches. Vamos já seguir para o próximo destino.
E assim fizemos. Vamos agora em direção a Soe. O nosso objetivo é Kupang, mas não dá para fazer tudo num só dia.

Estamos em Soe. E agora encontrar alojamento tranquilo e silencioso, longe da estrada principal. Não temos nada marcado, claro. Nem sequer era suposto pernoitarmos aqui. Estava planeado ficarmos em Kefa.

Depois de algumas buscas, inclusive uma guesthouse muito pacata, a uns trezentos metros da estrada principal, numas ruelas – mas esgotada – viemos parar a este hotel. A entrada para os carros está na beira da estrada, mas o hotel (o edifício) fica relativamente afastado, e sem espaço aberto para a estrada, o que isola o louco ruído do tráfico destas cidades barulhentas, cheias de motas. E tem wifi – depois de muito pedir.
Aqui na Indonésia é uma hora a menos do que em Timor-Leste.

Deram-me a escolher entre dois ou três quartos. Escolhi este, no rés-do-chão. Mal sabia eu que iria ter a companhia dum porco, a roncar de vez em quando, pois o curral fica mesmo ao lado do meu quarto, nas traseiras. E muitas moscas da pocilga, na casa de banho. Antes de sentar-me na sanita é preciso enxotar as moscas, que têm asas redondas. Há uma pequena janela, na parede, no topo, só com uma rede, pelos vistos insuficiente para impedir a sua entrada. Pus o spray anti-mosquitos na casa-de-banho, deixei atuar, e quando voltei tinha um cemitério de moscas.
Faz frio à noite. Tive de reforçar o vestuário. Voltei a dormir com cinco camisolas vestidas e as meias que me deram no avião.

Não há água quente, apesar de dizerem que sim. Eu detesto tomar banho de água fria, muito menos com o frio que faz nesta terra. Ando a tremer de frio. Tomei portanto um banho semicúpio com o chuveiro da sanita. (Alguém sabe o que é um banho semicúpio? É o que dá visitar o encantador Museu do Hospital Miguel Bombarda, em Lisboa. Aprendem-se estas coisas… Ainda por cima é grátis, a entrada. Recomendo! E vão ver ao dicionário o significado da palavra, tal como eu fiz na altura, que remédio… eu sabia lá o que era um banho semicúpio). Só têm chuveiro de parede, portanto eu teria de tomar banho de corpo inteiro, cabelo inclusive, se usasse o chuveiro da parede. Mas o Valério e o Sanches tiveram água quente. Alguma coisa se passou com o meu. Quanto mais depressa formos embora de Soe, melhor. Só estamos de passagem. Eu não quis jantar sequer, não tenho fome. Tenho bananas, leite e bolachas, se quiser petiscar algo no quarto. O Valério e o Sanches foram jantar e eu não quis ir com eles. O Sanches insistiu muito, tive de tranquilizá-lo. O Valério já sabe que de vez em quando não me apetece jantar, não tenho fome, mas o Sanches ainda não sabe disto.

Hoje só fiz 27,5 km na bicicleta. Fizemos mais 123 km na pickup, num total de 151 km, desde Oecusse até aqui a Soe. As estradas na Indonésia foram boas, pelo que foi um dia ligeiro, marcado apenas pelas maçadas da fronteira e dos câmbios.

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