084 – O Divertido Entardecer numa Praia do Oecusse
Estou agora em Lifau, e este monumento celebra a chegada dos portugueses. Recordo a crónica 77:
Oecussi-Ambeno foi o primeiro ponto da ilha de Timor em que os portugueses se estabeleceram, pelo que é usualmente considerado o berço de Timor-Leste. Em 1556, um grupo de frades dominicanos estabeleceu o primeiro povoado em Lifau, a meia dúzia de quilómetros de Pante Macassar. Em 1702, Lifau tornou-se capital da colónia ao receber o primeiro governador enviado por Lisboa, estatuto que manteve até 1767, quando os portugueses decidiram transferir a capital para Díli, como resultado das frequentes incursões das forças holandesas.¹
Historicamente, o Oecusse interagiu com comércio e comerciantes estrangeiros que aqui viveram temporariamente enquanto aguardavam a conclusão de negócios ou a mudança de ventos. À semelhança do resto da ilha de Timor, existem pequenos vestígios desta realidade ao longo do enclave. Uma área perto de Lifau é conhecida como lago da China, já que era o lugar de atracagem dado aos comerciantes chineses pela população de Oecusse. É possível encontrar referências chinesas a Timor-Leste desde o século treze. O comércio internacional já existente foi formalizado através da chegada dos portugueses, quando Lifau se tornou a capital portuguesa na ilha. O nome Lifau provem de Lean Faun, o qual significa povo estrangeiro.
Atualmente, muitas empresas estrangeiras com empregados de países tão diversos como Brasil, Irlanda, América, Portugal, China e Indonésia operam neste momento no Oecusse, e línguas tão diversas como tétum, inglês, mandarim, lais meto (baiqueno), português e indonésio fazem regularmente parte da atmosfera de trabalho em Oecusse.²
A maior parte das pessoas fala a língua local, baiqueno. O tétum é falado fluentemente pela maioria, mas apenas empregue quando outros que não falam baiqueno entram na conversação. Igualmente, as línguas internacionais que são o português e o indonésio são faladas com alguma independência pela maioria, enquanto que o inglês é um recém-chegado ativo. Algumas vezes, as reuniões de negócios podem ser conduzidas em inglês para incluir cidadãos estrangeiros, mas poucos falam inglês fora de Pante Macassar.
Vivem mais de 70.000 timorenses no Oecusse, a maioria – 12.000 – vivem em Pante Macassar. Existe uma comunidade de expatriados vibrante, com mais de 2.000 estrangeiros a viverem na área, incluindo portugueses, indonésios, chineses e irlandeses.
O Oecusse é uma “Região Administrativa Especial” e faz parte da ZEESM – Zonas Especiais de Economia Social de Mercado de Timor-Leste (na próxima crónica vou desenvolver esta matéria). O site da ZEESM, publicitando o Oecusse, indica:
Qualquer pessoa que tenha visitado o Oecusse nota imediatamente que este é um local seguro, tal como demonstrado pelos números que ilustram uma extremamente baixa taxa de criminalidade. A confiança social baseia-se em profundas relações familiares, cuja proteção se estende aos visitantes. Num relatório recente, 96% da população do Oecusse confiaria num vizinho para levar dinheiro até a um familiar em Díli em caso de emergência. Eventos comunitários tais como festivais, serviços religiosos, católicos e tradicionais, são bastantes participados.³
A praia de Lifau está barrada aos locais. E aos malai também (“malai”, recordo, significa “estrangeiro” – é o que as crianças gritam à minha passagem). Perguntei ao Valério e ao Sanches porque está a praia barrada, e ainda por cima de forma tão deselegante. Parece uma praia de um bairro de lata. A bonita praia de Lifau assim tão maltratada. Disseram-me que é para impedir que as pessoas vão para lá fazer lixo. Esta é boa. Mais lixo do que existe nesta parede de latas e ferros velhos. Então veio um homem abrir um buraco nestas latas para eu passar e ir tirar algumas fotografias. Se calhar mais valia fazer uma campanha de sensibilização da população local, para não deixarem lixo na praia, e contratar alguém para ir limpando. Ainda hoje me pergunto se este é o verdadeiro motivo para barrarem o acesso à praia. Parece-me tão absurdo que se calhar existe outro motivo oculto que não querem contar aos malai.
Felizmente estes miúdos também passaram as barreiras de lata. Sentei-me na areia a vê-los. Já faz fresco, não estão propriamente 30 graus, e ainda vi alguns com frio, mas nesta brincadeira e agitação nem ligam.
Este “sereio” ficou com um dedinho do pé fora da areia. Quando vimos o dedinho espetado, fora da areia, rimos todos tanto à gargalhada que eu mal conseguia aguentar-me em pé.
De regresso à cidade – Pante Macassar. Hoje fiz 44 km na bicicleta, e outros 57 na pickup, num total de 97 km. E voltei ao delicioso restaurante português. São agora 19.30h. Efetivamente ainda procurámos outros restaurantes, pois comida portuguesa tenho eu durante todo o ano, e agora em Timor não estou assim tão carente das minhas origens. Mas é domingo e estão fechados. Encontrámos um aberto, mas tinha a comida em tabuleiros, já feita, e tudo à base de fritos. Voltei portanto ao português e voltei a pedir esparguete à bolonhesa. Não me canso de esparguete. Todas as oportunidades de comer esparguete devem ser aproveitadas. E outra vez natas do céu, que já nem fotografei (fica a foto na crónica 76). Desta vez há um casal espanhol. Portugueses e espanhóis estão todos a ver o motociclismo na televisão.
¹ “Divisões Administrativas – Distrito de Oecussi-Ambeno”. Governo de Timor-Leste. Página consultada a 3 Janeiro 2019,
<http://timor-leste.gov.tl/?p=91>
² “A região de Oe-Cusse”. (s.d.). ZEESM – Zonas Especiais de Economia Social de Mercado de Timor-Leste. Página consultada a 3 Janeiro 2019,
<https://www.zeesm.tl/pt/oe-cusse-pt/a-regiao-de-oe-cusse/>
³ “Povos de Oé-Cusse” (s.d.). ZEESM – Zonas Especiais de Economia Social de Mercado de Timor-Leste. Página consultada a 3 Janeiro 2019,
<https://www.zeesm.tl/pt/oe-cusse-pt/povos-de-oe-cusse/>