082 – Churrasco para o Almoço
Está tudo deserto. Mas parei quando vi este homem, cumprimentei-o, e depois vi o seu boné. Deixou-me tirar-lhe fotos. E entretanto começaram a reunir-se pessoas, todas a tentarem perceber de onde apareci e o que estou aqui a fazer. O Valério vai algures mais para a frente. Vai tratar do almoço, aparentemente.
A senhora trabalhava no tear tranquilamente, ainda consegui vê-la uns segundos assim. Até que eu apareci e vimo-nos com uma multidão à nossa volta. Ela está a tecer o chamado “Taís”, ou seja, o tecido tradicional de Timor-Leste, que os timorenses utilizam como vestuário, não só no dia-a-dia, mas sobretudo em ocasiões especiais, em cerimónias e festas religiosas. São também utilizados como decoração. Ela está a usar um tear tradicional de madeira. Este tecido de muitas cores – o Taís – é elaborado artesanalmente por mulheres, nestes teares tradicionais de madeira, a partir de fio de algodão tingido por vezes com corantes naturais.
Este rapaz parece uma estrela de cinema, e posou quando eu lhe pedi, para fotografá-lo. Mas de onde sai um miúdo destes, no meio das cabanas do Oecusse? Será que estuda na cidade e está aqui de férias? Parecem todos top-models, nesta terra!
Eu continuo a seguir em frente, alguma vez hei-de encontrar o Valério.
Cá está o Valério, com o Sanches e o Ego, a tratarem do almoço. São 14.15h e tenho 26 km na bicicleta.
Fiquei em estado de choque quando percebi que a galinha da crónica 79, que seguia comigo no tabuleiro da pickup, nas subidas, afinal era o meu almoço. Eu não sou vegetariana, eu sempre comi carne, mas enfim, nunca vejo os bichos vivos antes de comê-los. Já vêm esquartejados aos pedaços, em embalagens individuais, no supermercado. Uma pessoa nem pensa que aquilo já teve patas, respirou e viveu. Claro que têm de ser mortos, mas as gentes das cidades, como eu, por mais foitas que sejam, custam sempre a tomar consciência crua e dura disto. Coitadinha da galinha. Foi o Valério que a matou. O Valério faz criação de porcos, conforme já referi na crónica 39, pelo que estará habituado a estas coisas do campo. Espero que a tenha morto rapidamente.
Terminado o almoço prosseguimos viagem. Eu continuo na bicicleta.
Aqui vêem-se alguns exemplos de cestaria, outra das artes tradicionais de Timor-Leste.