074 – A Demorada Passagem da Fronteira para a Indonésia
Hora e meia.
Uma hora e meia à espera que todas as autorizações fossem dadas, para sairmos de Timor-Leste e entrarmos na parte indonésia da ilha de Timor. E ao que parece foi preciso pagar qualquer coisa a mais. Já não estou habituada a isto. Eu ando na Europa livremente. Como é que numa ilhazita minúscula como esta é este atrofio? Só há dois países e estão fechados numa ilha! Se fosse a chegada dum barco do estrangeiro, ainda vá. Agora as fronteiras terrestres dentro duma ilha minúscula que eu corro de uma ponta à outra em bicicleta?
Ainda por cima a fronteira fecha para almoço entre as 12 e as 14h. (Soltei uma gargalhada). Está toda a gente à espera que os agentes voltem de almoço. Nós esperámos uns vinte minutos, dado que chegámos já perto das 14h.
Estamos na fronteira de Mota-Ain, a três quilómetros de Batugade e a 115 km de Díli.
Bom, eu aproveitei os vinte minutos para meter-me com as pessoas. Não têm para onde fugir, coitadas, é sempre a altura ideal para meter-me com elas. Sentei-me ao lado deste rapaz, como quem não quer nada, e disse-lhe olá. Muito bem cheiroso, muito perfumado. E eu cheia de terra e pó, da bicicleta. Estou em desvantagem. Então ele é professor de Farmácia na Universidade de Díli. Falou em inglês comigo. Vai passar uns dias de férias a Atambua, na parte indonésia da ilha de Timor. Temos aqui um professor universitário muito bem cheiroso, portanto.
Este senhor chama-se José Gusmão e disse-me que é primo do Xanana Gusmão. Os pais de ambos são primos, especificou. E mostrou-me uma foto em que ele está junto do Xanana Gusmão. É uma honra estar perto do Xanana Gusmão, seja primo ou não, é bom que estime a foto. O rapaz da foto anterior é seu sobrinho. Ai que o professor estava a ser controlado pelo tio, teve de portar-se bem. Então este senhor chamado José Gusmão falou em português comigo e contou-me que esteve em Portugal em 2011, nomeadamente em Lisboa, Porto e Leiria. A filha tirou Comunicação Social em Leiria, e agora trabalha em Timor (disse-me a empresa, mas não percebi o nome). Ele e o sobrinho vão passear a Atambua e voltam amanhã. Também é professor em Díli, e disse-me o nome da escola, mas não percebi também.
Entretanto a fronteira abriu e fomos todos embora, despachar-nos. Mal sabia eu a complicação que ainda iria ser.
Já saímos de Timor-Leste. E para entrarmos na Indonésia é preciso obter a aprovação de quatro capelinhas: alfândega, militar, imigração e polícia. Todos eles querem papéis, pagamentos e vistos. Eu sentei-me e esperei. Fui tirando umas fotos enquanto o Sanches e o Valério corriam que nem umas baratas tontas entre todas as capelinhas, a mostrar a papelada e a pagar o que fosse preciso. Não se trata de tudo no mesmo sítio. Há mesmo capelinhas separadas e às vezes distantes umas das outras. É preciso estar em boa forma física para este exercício. Eu até posso emprestar-lhes as minhas bicicletas.
Hora e meia depois aqui estamos nós na parte indonésia de Timor. Vamos em direção a Atambua. As placas aqui são curiosas: a mota vai em direção a Atapupu, e nós não vamos por esta estrada. Nós vamos por outra que está antes da casa verde. Se nos metermos por esta estrada vamos dar erradamente a Atapupu. Portanto nos cruzamentos é preciso olhar para longe, para as placas que já estão nas estradas erradas e não virar para elas.
As bandeiras coloridas celebram a Declaração da Independência da Indonésia, a 17 de Agosto de 1945. Hoje é sábado, 4 de Agosto de 2018.
Aparentemente já serão preparativos para a festa que se avizinha.