072 – Alternando de Bicicleta e de Carro

Senti-me tentada a saltar a vedação e dar a volta à lagoa na bicicleta. O pior é passar a bicicleta. Teria de telefonar ao Valério, para ele voltar para trás e ajudar-me. Mas o placard a avisar da presença de crocodilos acabou por dissuadir-me.

Esta cabana está um pouco afastada da estrada, talvez a duzentos metros. Foram os habituais berros das crianças que me chamaram à atenção: “Malai! Malai!” – gritaram. (Lembro que “malai” significa “estrangeira”). Quando eu travei, voltei para trás, e fui ver o que se passava, eles fugiram a rir-se.

O Forte de Maubara, construído pelos holandeses em 1756 dado que nessa altura Maubara era um enclave holandês no território português de Timor. No Tratado de Lisboa, assinado em 1859 entre Portugal e Holanda, os holandeses cederam o reino de Maubara a Portugal, em troca de possessões na ilha de Flores. O Liurai de Maubara (ou seja, o líder timorense) não aceitou bom grado esta transferência de poder, e provocou uma rebelião contra os portugueses. Foi com a ajuda de outros Liurais leais aos portugueses que acabou por ser vencido. O mesmo sucedeu poucos anos depois, desta vez pela etnia Kemak, que se rebelou contra o colono português. Os conflitos foram sangrentos, com 15 aldeias tomadas e queimadas. E novamente em 1893, altura em que o Liurai atacou dois postos militares portugueses em Dato e Vatuboro e tentou recuperar os holandeses como potência protetora.¹ Maubara deu luta, portanto.

São dez e meia da manhã e tenho 38 km na bicicleta. O Valério espera por mim aqui, e sugere-me que eu passe para a pickup, durante alguns quilómetros, indicando que a estrada vai ser má e que vai ter algumas subidas. Temos a pressão do horário – há uma fronteira a passar hoje, a qual fecha às 17h, e temos de despachar-nos. Acedi.

De volta à bicicleta.


¹ “Maubara” (s.d.). Wikipedia. Página consultada a 16 Dezembro 2018,
<https://de.wikipedia.org/wiki/Maubara>

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