065 – Visita a uma Fábrica de Costura – As Bonecas de Ataúro

Cá está a fábrica das Bonecas de Ataúro. De acordo com o seu website oficial:

“A Boneca de Ataúro iniciou-se em 2007, numa pequena sala, a partir de conhecimentos básicos de costura e com apenas quatro costureiras – das quais uma ainda trabalha na cooperativa – e fundada pela artista e desenhadora suíça Ester Piera Zuercher, com o apoio do Padre Luís Fornasier. Com base na remota e bela ilha de Ataúro – 25 km ao norte da costa de Díli – é um projeto nascido de muito amor, paixão e trabalho árduo da comunidade.
Em 2008, perante uma oportunidade que a vida lhes ofereceu, este grupo de costureiras de bonecas concorreu a um concurso lançado pela UNICEF, para a produção de 3.200 bonecas a serem oferecidas às crianças do ensino pré-escolar de Timor-Leste, tendo-lhes sido adjudicado o trabalho. Em 2009, a exposição na Fundação Oriente, em Díli – gentilmente apoiada pelo Instituto Camões de Portugal – dotou a Boneca de Ataúro de uma forte visibilidade. O projeto rapidamente se expandiu para além de Ataúro, atravessando oceanos até à feira de empreendimento social Exponor no Porto, permitindo que também o público internacional pudesse encontrar as nossas bonecas.
A história continua e em 2015, a nossa cooperativa juntou-se ao Manukoko Rek, um restaurante e pousada localizados perto da nossa oficina. Um eco-resort, gerido pela comunidade e onde se cozinha a melhor comida local, pizza e pasta fresca do país.
Acreditamos que a educação é fundamental para o nosso desenvolvimento, pelo que, na medida das nossas possibilidades, fornecemos à nossa equipa formação nas áreas de alfabetização básica, contabilidade, informática, marketing e língua portuguesa e inglesa. Da mesma forma, acreditamos que a educação criativa é muito importante para desenhar e desenvolver os nossos produtos, contudo, infelizmente, a educação formal de arte e desenho ainda não existe em Timor-Leste. Assim, decidimos criar o programa de residência artística, que traz artistas internacionais a Ataúro. Trabalhando todos juntos, melhoramos e desenvolvemos as nossas habilidades criativas. O programa das residências artísticas tem provado ser um enorme sucesso.
Até agora tivemos uma vasta gama de influências muito interessantes, vindas de vários artistas – agora amigos – a professora portuguesa Isabel Maria Gaspar Ribeiro, a ilustradora italiana e educadora criativa Elena Tognoli, a desenhadora japonesa Mayumi Hayashi, o fotógrafo timorense Bernardino Soares, a artista americana especialista em produção de papel artesanal Alyssa Casey, a desenhadora de jóias timorense Risza Lopes da Cruz, a cantora americana Jen Shyu, a especialista australiana em produção têxtil Kath Ashworth e a artista australiana especialista em bordados Dijanne Cevaal.

Como Cooperativa que somos, os lucros são distribuídos equitativamente e cada membro tem poder de voto em todas as decisões tomadas. Somos cerca de 60 membros que diretamente ganham o seu salário na cooperativa mas, na realidade, entre prestadores de serviços ou através da compra da produção de outros artesãos, sabemos que este projeto tem um impacto significativo na economia da ilha, trazendo um rendimento real a cerca de 10% da população de Ataúro.”¹

Cá está a Ann Zieger, da Alemanha, conforme já apresentei na crónica 63, a atual artista residente que está a trabalhar n”As Bonecas de Ataúro”. A Ann assina como “Ann Cut Design”, e fiquei encantada com os seus desenhos simples e coloridos.

Depois da visita à fábrica fui dar uma volta de bicicleta pelos arredores (o Natalino foi descansar logo mal chegámos do porto, que bem merece) e dei com este grupo, entretido a ver vídeos no smartphone do rapaz mais velho ao centro. Quem nos tirou a foto foi uma das crianças.

Um dos quartos da pousada onde estou, a Manukoko Rex, a qual se associou às Bonecas de Ataúro, conforme referido acima. A decoração deste quarto foi feita pela Ann, tal como a de outros dois que ela foi mostrar-me. Ainda não foram inaugurados, um deles ainda tem a tinta a secar. Cada quarto tem temas e cores diferentes. Este chama-se “Selva” e também cheira a tinta fresca.

Dei um peixe ao Natalino, que finalmente parece estar esgalgado com fome. Desta vez sou eu que não tenho fome. Ao pequeno almoço foi ao contrário. Mas tenho de almoçar porque daqui a pouco partimos no barco.

Em conversa com o Natalino, este mostrou muito espanto quando lhe contei que em Portugal e outros países europeus a taxa de natalidade diminuiu fortemente, que as pessoas não querem ter filhos, e que os governos já dão incentivos a quem queira ter filhos. Em Timor é normal ter-se mais de cinco filhos, pelo que o Natalino não cabia em si de espanto, e estive a explicar-lhe que ter um filho na Europa hoje em dia é muito caro. Todas as despesas associadas – estudos inclusive, a escola, a universidade. O Natalino não seguiu a universidade, fez um curso de inglês, e eu expliquei-lhe que na Europa alguns casais recusariam ter filhos se não conseguissem ter garantias de conseguir pôr o filho ou a filha na universidade. O Natalino perguntou-me a média de ordenados em Portugal, questão difícil. Expliquei-lhe que o ordenado mínimo é 580€, e enfim, se calhar a média andará pelos 900 ou mil euros. O que ele achou imenso.

Por seu lado o Natalino explicou-me que em Timor apenas as crianças cumprimentam os pais com beijos; não usam este tipo de cumprimento aqui. Efetivamente os asiáticos não são dados a cumprimentos com beijinhos, isto é coisa de europeus e americanos (e australianos. Já não me lembro como cumprimentei os australianos, quando os visitei na sua terra, mas também é com beijinhos, sim).

E o meu arroz foi para este cão magricela.


“Boneca de Ataúro” (s.d.). Página oficial – “Boneca de Ataúro”. Página consultada a 5 Dezembro 2018,
<http://bonecadeAtaúro.com/files/documents/Boneca-catalogue-2017-18-%28web%29.pdf>

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