040 – Estrada Fora a Pedalar

Há loucas descidas neste percurso. Efetivamente atingi a velocidade de 48 km / hora. Numa bicicleta de BTT é magnífico. Voei completamente. Voei loucamente por ali abaixo. Fiquei várias vezes suspensa no ar. Que sensação. A bicicleta, eu, e a máquina fotográfica às costas. Tudo a voar. E o melhor de tudo foi que o guiador, com estas andanças todas, com esta tareia de terra e pedras, se desaparafusou. Com tantos saltos nas pedras, fiquei com o guiador a oscilar nas mãos, mal preso. Claro que tive de parar imediatamente e liguei ao Valério, que vai algures mais para a frente. Mas o Valério está ao telefone, dá ocupado. Sentei-me e esperei uns minutos. É que cada minuto que passa, o Valério faz mais uns quilómetros. Eu tenho que pará-lo de alguma maneira, pois ele terá que voltar para trás. O Valério tem as ferramentas consigo e temos de apertar novamente o guiador, antes de eu prosseguir viagem. Durante os últimos minutos vinham dois rapazes a acompanhar-me numa mota, curiosos, a fazerem-me perguntas. Eu a pedalar e eles ao meu lado. Aconteceu algumas vezes, nesta viagem. Acabaram por ir-se embora ao verem que eu ia demorar. É uma situação uma bocado delicada. Não me agrada estar assim parada na estrada, sem a minha bicicleta racing a funcionar devidamente. Pelo que fui rápida: desta vez fui eu que mandei parar uma mota – vinha um homem dos seus 50 anos, magro. Não fala português e eu não falo tétum. Mostrei-lhe o guiador a abanar. Ele percebeu. E mostrei-lhe as fotos da pickup, no meu telemóvel, bem como a matrícula em grande plano. “Valério” – disse-lhe eu, apontando para a estrada em frente. “Valério à minha espera”. E ele percebeu. Foi-se embora em busca da pickup e do Valério, para lhe explicar que eu estou empanada na berma da estrada.
E foi rápido, o Valério não estaria muito longe. Aí veio apertar o guiador e partimos novamente. Qual português e qual tétum. Quando queremos, todos nos entendemos.

<< >>