082 – 24º Dia, Missas de Domingo

Hoje é domingo, 28 de julho de 2019. Tive uma noite um pouco atribulada. Tenho a sanita armadilhada com uma aranha gigante de cada lado. Fotografei uma delas na crónica 74. Uma está pendurada na louça da sanita, junto ao chão, outra está do outro lado, no chão. À meia-noite fui fazer xixi. E agora? Assim não vale, minhas amigas. Vou tentar fazer xixi em pé. Mas entretanto uma foge a toda a velocidade para trás da sanita, e não a vi mais. Ela correu numa direção, eu corri noutra. Nunca imaginei que este bicho corresse com tanta velocidade. A outra mantém-se agarrada à sanita. Faço uma bola de papel higiénico e atiro-lha. Mexeu-se um pouco mas lá ficou.
Ora com esta agitação toda despertei e levei muito tempo a adormecer novamente. Ainda tenho que chamar o segurança para tirar as aranhas da casa de banho, querem ver?
Um cão grita muito, a ganir, ao longe. Desperto cada vez mais. Mas o que se passará com este animal?

Pequeno-almoço às seis. Abro a casa toda, as janelas e as portas, e ponho a mesa cá fora.
Ontem à noite decidi que hoje acordaria um pouco mais tarde novamente. Não tenho planos para hoje. A praia fica muito longe. De bicicleta estou a uma hora ou duas (dependendo da praia). Não admira que os santomenses do interior não vão à praia. É uma ilha pequena, mas tudo é longe, implica carro ou táxi.

Eu tenho três coisas por visitar: a Roça Agostinho Neto; a Roça Água Izé e a Boca do Inferno; e o Pico Cão Grande. Com o dia de hoje tenho cinco dias para fazê-lo, antes de partir para Portugal. Hoje posso descansar, portanto. Hoje estou no 24º dia e ainda não descansei realmente nenhum dia. Ontem foi um dia puxado, ir e voltar pelas montanhas, 36 km, e por vezes debaixo de chuva. Assim, ao domingo dá-se o descanso do guerreiro (ou da guerreira, neste caso).

Acordei às 4h45 de livre vontade, e deixei-me ficar na ronha até quase às 5h30.
O segurança Abílio está a despachar-se para ir-se embora, já enrolou a colcha e a toalha para eu guardar. Escondo-as bem dobradas no guarda-fato do quarto ao lado.
Ele tem uma arma, vi-o a guardá-la.
Desta vez chamei-o para vir afugentar a aranha gigante. Eu disse-lhe para não matá-la, só afugentá-la. Andámos à procura duma vassoura, só encontrámos esfregonas. Foi com uma esfregona então. Abriu a janela para ela fugir. Ela fugiu, à frente da esfregona, não faço ideia onde se meteu, desapareceu. Tenho que impor-me, senão elas daqui a bocado ocupam tudo. Toda a mansão está vazia, têm de vir para a minha casa de banho?!

A Virgínia levou-me o chourição por engano. Eu disse que não aprecio fiambre, que ela podia ficar com ele, senão estragar-se-á, mas ela enganou-se e levou o chourição. Mandei-lhe um sms, mas não sei se ela saberá ver sms. Tenho que deixar um papel escrito. Não tenho papel, terá que ser num guardanapo.

E o telemóvel já funciona. Troquei mais mensagens, desta vez com o guia Arcelino (das crónicas 38 e 39) a ver se consigo ir ao Pico Cão Grande.
O wifi do resort deixou de funcionar. Tem as barras todas da rede, mas não funciona, nem internet, nem email, nem WhatsApp. Tenho que desligar-me do wifi e usar os meus dados. Backup na cloud, adeus. Os backups na cloud exigem wifi. Não havendo wifi, não há backup das fotos. Se acontecer alguma coisa à minha máquina fotográfica, bye bye fotos. Isto preocupa-me, é preciso resolver esta questão do wifi com o dono do resort.

Também tenho que levantar dinheiro no multibanco, mesmo na reta final desta minha viagem. Em dobras. Se quero comer, é bom que tenha dobras. Vi na internet que se podia usar euros em São Tomé e Príncipe – é um erro, ou então a pessoa que escreveu isso só deve ter consumido no hotel.

Às 7 e pouco põem música africana, talvez santomense, em altos berros. Acabou-se o silêncio. Mas pouco depois baixaram o som, menos mal.
E eu tive uma trabalheira desgraçada a picar as cascas da papaia para dar aos pássaros e às galinhas.

Ninhos de pássaros no quintal do resort. São pássaros amarelos.

Um ninho, e ao centro um dos pássaros amarelos.

Cá está outro dos pássaros amarelos que mora ali naqueles ninhos. Não ligaram a mínima à minha papaia picada.

Cá vem uma galinha. Será que gosta da papaia? Deve gostar! Vem um bocado despenteada, apanhou alguma ventania ou quê?

A galinha foi-se embora e não quis saber da papaia. Estes pássaros com uma tira nos olhos à Batman também andam por aqui, mas não ligam à papaia. Fui deitar uns bocadinhos de pão também. Não querem saber. Mas estas galinhas e pássaros santomenses são muito esquisitos!

São 7h56, chega a Virgínia. “Onde é que vai assim tão bonita?”, perguntei-lhe.

A casinha azul do segurança, lá ao fundo.

Hoje é domingo, é dia de missa, explica-me a Virgínia. E convida-me a ir com ela, depois de despachar-se. Eu aceitei. São agora 8h20. Vou atrás de si, a pé. Vestida à paisana. A bicicleta ficou no quarto. Até já estranho andar. É tão lento, andar.

Chegámos. Fizemos 5 minutos a pé. Esta é a missa Maná. Começou às 8h. A missa católica na Trindade é às 10, diz a Virgínia.

Comigo são 15 pessoas. O padre apregoa que é necessário estudar. Que cantar é alegria e estar com Deus.

A certo momento é altura de abraços, pelo que troquei abraços com todos. Já em Nova Iorque aconteceu-me o mesmo (nas crónicas 22 e 23 de Nova Iorque!). Toca a abraçar toda a gente. Mas os santomenses foram mais moderados do que os efusivos nova-iorquinos.

Saí da missa Maná às 8h45. Deixei lá a Virgínia, pois a missa ainda não terminou. Vou regressar ao resort, vou vestir o meu equipamento de ciclismo, e vou espreitar a missa católica em Trindade.

São 9h30. Já estou em Trindade, de bicicleta.

As crianças vão hoje celebrar a primeira comunhão.

Calculo que isto não aconteça todos os domingos. Tive sorte.

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